Vidas Secas

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Vidas Secas. Resumo do Livro com análise da obra para estudar para o vestibular.
Alessandra S.
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Alessandra S.
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Vidas Secas é o último romance de Graciliano Ramos e a única experiência do autor com foco narrativo na terceira pessoa. A obra é constituída em forma de espiral, cujo início fechado ("Mudança", cap 1) abre-se no final, com o último capítulo ("Fuga") conduzindo os personagens para um destino inusitado, mas que mantém o elo da desdita, da miséria, da fome e da pobreza.Entre os dois capítulos-limites são constituídos 11 quadros que, aparentemente, nada têm em comum a não ser os personagens e a paisagem.Um tênue fio narrativo faz o leitor conhecer a história de uma família de retirantes nordestinos que foge da seca, encontra período de passageira estabilidade e parte novamente em retirada quando as chuvas deixam de cair, prenunciando um novo período de seca. A economia (de estilo, de linguagem, de vida e de cenário) pode ser destacada como a característica básica do volume.

Baleia - cadela da família, tratado como gente, muito querido pelas crianças.Sinhá Vitória - mulher de Fabiano, sofrida, mãe de 2 filhos, lutadora e inconformada com a miséria em que vivem, trabalha muito na vida.Fabiano - nordestino pobre, ignorante que desesperadamente procura trabalho, bebe muito e perde dinheiro no jogo.Filhos - crianças pobres sofridas e que não tem noção da própria miséria que vivem.Patrão - contratou Fabiano para trabalhar em sua fazenda, era desonesto e explorava os empregados.Outros personagens: o soldado, seu Inácio (dono do bar).

MudançaEm meio à paisagem hostil do sertão nordestino,quatro pessoas e uma cachorrinha se arrastam numa peregrinaçãosilenciosa _ _ . O menino mais velho, exausto da caminhada sem fim,deita-se no chão, incapaz de prosseguir, o que irrita Fabiano, seu pai,que lhe  dá estocadas com a faca no intuito de fazê-lo levantar.Compadecido da situação do pequeno, o pai toma-o nos braços ecarrega-o, tornando a viagem ainda mais modorrenta _ .A cadela Baleia acompanha o grupo de humanos agorasem a companhia do outro animal da família, um papagaio, que forasacrificado na véspera a fim de aplacar a fome que se abatia sobreaquelas pessoas. Na verdade, era um papagaio estranho, que poucofalava, talvez porque convivesse com gente que também falava pouco _ _.Errando por caminhos incertos, Fabiano e famíliaencontram uma fazenda completamente abandonada. Surge a intenção de sefixar por ali. Baleia aparece com um preá entre os dentes, causandogrande alegria aos seus donos. Haveria comida. Descendo ao bebedourodos animais, em meio à lama, Fabiano consegue água. Há uma alegria emseu coração, novos ventos parecem soprar para a sua família. Pensa emSeu Tomás da bolandeira.  Pensa na mulher e nos filhos.A inesperada caça é preparada, o que garante umrápido momento de felicidade ao grupo. No céu, já escuro, uma nuvem -sempre um sinal de esperança. Fabiano deseja estabelecer-se naquelafazenda. Será o dono dela. A vida melhorará para todos _ .Fabiano  Em vão Fabiano procura por uma raposa. Apesar dofracasso da empreitada, ele está satisfeito. Pensa na situação dafamília, errante, passando fome, quando da chegada àquela fazenda.Estavam bem agora _ _ . Fabiano se orgulha de vencer as dificuldadestal qual um bicho. Agora ele era um vaqueiro, apesar de não ter umlugar próprio para morar. A fazenda aparentemente abandonada tinha umdono, que logo aparecera e reclamara a posse do local. A solução foificar por ali mesmo, servindo ao patrão, tomando conta do local. Naverdade, era uma situação triste, típica de quem não tem nada e viveerrante.  Sentiu-se novamente um animal, agora com uma conotaçãonegativa. Pouco falava, admirava e tentava imitar a fala difícil daspessoas da cidade. Era um bicho _ .A uma pergunta de um dos filhos, Fabiano irrita-se.Para que perguntar as coisas? Conversaria com Sinha Vitória sobre isso.Essas coisas de pensamento não levavam a nada. Seu Tomás da bolandeira,apesar de admirado por Fabiano pelas suas palavras difíceis, nãoacabara como todo mundo? As palavras, as idéias, seduziam e cansavamFabiano.Pensou na brutalidade do patrão, a tratá-lo como umtraste. Pensou em Sinha Vitória e seu desejo de possuir uma cama igualà de Seu Tomás da bolandeira. Eles não poderiam ter esse luxo,cambembes que eram. Sentiu-se confuso. Era um forte ou um fraco, umhomem ou um bicho _ ? Sentia, por vezes, ímpeto de lutador e fraquezade derrotado.Lembrando dos meninos, novamente, achou que, quandoas coisas melhorassem, eles poderiam se dar ao luxo daquelas coisas depensar. Por ora, importante era sobreviver. Enquanto as coisas nãomelhorassem, falaria com Sinha Vitória sobre a educação dos pequenos.CadeiaFabiano vai à feira comprar mantimentos, querosene eum corte de chita vermelha. Injuriado com a qualidade do querosene ecom o preço da chita, resolve beber um pouco de pinga  na bodega de seuInácio. Nisso, um soldado amarelo convida-o para um jogo de cartas. Osdois acabam perdendo, o que irrita o soldado, que provoca Fabianoquando esse está de partida. A idéia do jogo havia sido desastrosa.Perdera dinheiro, não levaria para casa o prometido. Fabiano, agora,pensava em como enganar Sinha Vitória, mas a dificuldade de engendrarum plano o atormentava.O soldado, provocador, encara o vaqueiro e barra-lhea passagem. Pisa no pé de Fabiano que, tentando contornar a situação àsua maneira, agüenta os insultos até o possível, terminando por xingara mãe do soldado amarelo. Destacamento à sua volta. Cadeia. Fabiano éempurrado, humilhado publicamente.No xadrez, pensa por que havia acontecido tudoaquilo com ele. Não fizera nada, se quisesse até bateria no mirradoamarelo, mas ficara quieto. Em meio a rudes indagações, enfureceu-se,acalmou-se, protestou inocência _ . Amolou-se com o bêbado e com aquenga que estavam em outra cela. Pensou na família. Se não fosse SinhaVitória e as crianças, já teria feito uma besteira por ali mesmo.Quando deixaria que um soldadinho daqueles o humilhasse tanto?Arquitetou vinganças, gritou com os outros presos e, no meio de suaincompreensão com os fatos, sentiu a família como um peso a carregar _.Sinha VitóriaNaquele dia, Sinha Vitória amanhecera brava. A noitemal dormida na cama de varas era o motivo de sua zanga. Falara pelamanhã, mais uma vez, com Fabiano sobre a dificuldade de dormir naquelacama. Queria uma cama de lastro de couro, como a de Seu Tomás dabolandeira, como a de pessoas normais.Havia um ano que discutia com o marido a necessidadede uma cama decente e, em meio a uma briga por causa das"extravagâncias" de cada um, Sinha Vitória certa vez ouviu Fabianodizer-lhe que ela ficava ridícula naqueles sapatos de verniz,caminhando como um papagaio, trôpega, manca. A comparação machucou-a _.Agora, ela irritava-se com o ronco de Fabiano aolembrar-se de suas palavras. Circulando pela casa, fazia suas tarefasem meio a reza e a atenção ao que acontecia lá fora. Por pensar aindana cama e na comparação maldosa de Fabiano, quase esqueceu de pôr águana comida. Veio-lhe a lembrança do bebedouro em que só havia lama. Medoda seca. Olhou de novo para seus pés e inevitavelmente achou Fabianomau _ . Pensou no papagaio e sentiu pena dele _ .Lá fora, os meninos brincavam em meio à sujeira.Dentro de casa, Fabiano roncava forte, seguro, o que indicava a SinhaVitória que não deveria haver perigo algum por ali. A seca deveriaestar longe _ . As coisas, agora, pareciam mais estáveis, apesar detoda a dificuldade. Lembrou-se de como haviam sofrido em suas andanças.Só faltava uma cama. No fundo, até mesmo Fabiano queria uma cama nova.O Menino mais novo A imagem altiva do pai foi que lhe fez surgir aidéia. Fabiano, armado como vaqueiro, domava a égua brava com o auxíliode Sinha Vitória. O espetáculo grosseiro excitava o menor dos garotos,impressionado com a façanha do pai e disposto a fazer algo que tambémimpressionasse o irmão mais velho e a cachorra Baleia _ . No diaseguinte, acordou disposto a imitar a façanha do pai. Para tanto, quiscomunicar a intenção ao mano, mas evitou, com medo de serridicularizado.Quando as cabras foram ao bebedouro, levadas pelomenino mais velho e por Baleia,  o pequeno tomou o bode como alvo desua ação. Sentia-se altivo como Fabiano quando montava. No bebedouro, ogaroto despencou da ribanceira sobre o animal, que o repeliu.Insistente, tentou se aprumar mas foi sacudido impiedosamente,praticando um involuntário salto mortal que o deixou, tonto, estateladoao chão. O irmão mais velho ria sem parar do ridículo espetáculo,Baleia parecia desaprovar toda aquela loucura _ . Fatalmente seriarepreendido pelos pais. Retirou-se humilhado, alimentando a raivosacerteza de que seria grande, usaria roupas de vaqueiro, fumariacigarros e faria coisas que deixariam Baleia e o irmão admirados.O Menino mais velhoAquela palavra tinha chamado a sua atenção: inferno.Perguntou à Sinha Vitória, vaga na resposta. Perguntou a Fabiano, que oignorou. Na volta à Sinha Vitória, indagou se ela já tinha visto oinferno. Levou um cascudo e fugiu indignado. Baleia fez-lhe companhiatentando alegrá-lo naquela hora difícil.Decidiu contar à cachorrinha uma história, mas o seuvocabulário era muito restrito, quase igual ao do papagaio que morrerana viagem _ . Só Baleia era sua amiga naquele momento. Por que tantazanga com uma palavra tão bonita ? A culpa era de Sinha Terta, queusara aquela palavra na véspera, maravilhando o ouvido atento do garotomais velho.Olhou para o céu e sentiu-se melancólico. Comopoderiam existir estrelas? Pensou novamente no inferno. Deveria ser,sim, um lugar ruim e perigoso, cheio de jararacas e pessoas levandocascudos e pancadas com a bainha da faca _ . Sempre intrigado,abraçou-se à Baleia como refúgio _ .InvernoTodos estavam reunidos em volta do fogo, procurandoaplacar o frio causado pelo vento e pela água que agitava a paisagemfora da casa. Chegara o inverno, e isso reunia a família próxima àfogueira. Pai e mãe conversavam daquele jeito de sempre, estranho, e osmeninos, deitados, ficavam ouvindo as histórias inventadas por Fabiano,de feitos que ele nunca tinha realizado, aventuras nunca vividas.Quando o mais velho levantou-se para buscar mais lenha, foi repreendidoseveramente pelo pai, aborrecido pela interrupção de sua narrativa.A chuva dava à família a certeza de que a seca nãochegaria por enquanto. Isso alegrava Fabiano. Sinha Vitória, porém,temia por uma inundação que os fizesse subir ao morro, novamenteerrantes. A água, lá fora, ampliava sua invasão.Fabiano empolgava-se mais ainda em contar suasfaçanhas _ . A chuva tinha vindo em boa hora. Após a humilhação nacidade, decidira que, com a chegada da seca, abandonaria a família epartiria para a vingança contra o soldado amarelo e demais autoridadesque lhe atravessassem o caminho. A chegada das águas interromperaaqueles planos sinistros. Em meio à narrativa empolgada, Fabianoimaginava que as coisas melhorariam a partir dali; quem sabe, SinhaVitória até pudesse ter a cama tão desejada.Para o filho mais novo, o escuro e as sombrasgeradas pela fogueira faziam da imagem do pai algo grotesco, exagerado.Para o mais velho, a alteração feita por Fabiano na história quecontava era motivo de desconfiança. Algo não cheirava bem naqueleenredo _ . Sempre pensativo, o menino mais velho dormiu pensando nafalha do pai e nos sapos que estariam lá fora, no frio.Baleia, incomodada com a arenga de Fabiano,procurava sossego naquela paisagem interior. Queria dormir em paz,ouvindo o barulho de fora _ .FestaA família foi à festa de Natal na cidade. Todosvestidos com suas melhores roupas, num traje pouco comum às suasfiguras, o que lhes dava um ar ridículo. A caminhada longa tornava-seainda mais cansativa por causa daquelas roupas e sapatos apertados. Omal-estar era geral, até que Fabiano cansou-se da situação e tirou ossapatos, metendo as meias no bolso, livrando-se ainda do paletó e dagravata que o sufocava. Os demais fizeram o mesmo. Voltaram ao seunatural. Baleia juntou-se ao grupo _ .Chegando à cidade, foram todos lavar-se à beira deum riacho antes de se integrarem à festa. Sinha Vitória carregava umguarda-chuva. Fabiano marchava teso. Os meninos maravilham-se,assustados, com tantas luzes e gente. A igreja, com as imagens nosaltares, encantou-os mais ainda. O pai espremia-se no meio da multidão,sentindo-se cercado de inimigos. Sentia-se mangado por aquelas pessoasque o viam em trajes estranhos à sua bruta feição. Ninguém na cidadeera bom. Lembrou-se da humilhação imposta pelo soldado amarelo quandoestivera pela última vez na cidade.A família saiu da igreja e foi ver o carrossel e asbarracas de jogos. Como Sinha Vitória negou-lhe uma aposta no bozó,Fabiano afastou-se da família e foi beber pinga _ . Embriagando-se, foificando valente. Imaginava, com raiva, por onde andava o soldadoamarelo. Queria esganá-lo. No meio da multidão, gritava, provocava uminimigo imaginário _ . Queria bater em alguém, poderia matar se fosse ocaso _ . Vez ou outra, interrompia suas imprecações para uma confusareflexão. Cansado do seu próprio teatro, Fabiano deitou no chão, fezdas suas roupas um travesseiro e dormiu pesadamente.Sinha Vitória, aflita, tinha que olhar os meninos,não podia deixar o marido naquele estado. Tomando coragem para realizaro que mais queria naquele momento, discretamente esgueirou-se para umaesquina e ali mesmo urinou. Em seguida, para completar o momento desatisfação, pitou num cachimbo de barro pensando numa cama igual à deseu Tomas da bolandeira .Os meninos também estavam aflitos. Baleia sumira naconfusão de pessoas, e o medo de que ela se perdesse e não maisvoltasse era grande. Para alívio dos pequenos, a cachorrinha surge derepente e acaba com a tensão. Restava, agora, aos pequenos, omaravilhamento com tudo de novo que viam. O menor perguntou ao maisvelho se tudo aquilo tinha sido feito por gente. A dúvida do maior erase todas aquelas coisas teriam nome. Como os homens poderiam guardartantas palavras para nomear as coisas _ ?Distante de tudo, Fabiano roncava e sonhava com soldados amarelos.BaleiaPêlos caídos, feridas na boca e inchaço nos beiçosdebilitaram Baleia de tal modo que Fabiano achou que ela estivesse comraiva. Resolveu sacrificá-la. Sinha Vitória recolheu os meninos,desconfiados,  a fim de evitar-lhes a cena.Baleia era considerada como um membro da família,por isso os meninos protestaram, tentando sair ao terreiro para impedira trágica atitude do pai. Sinha Vitória lutava com os pequenos, porqueaquilo era necessário, mas aos primeiros movimentos do marido para aexecução, lamentou o fato de que ele não tivesse esperado mais paraconfirmar a doença da cachorrinha.Ao primeiro tiro, que pegou o traseiro da cachorra e inutilizou-lhe uma perna, as crianças começaram a chorar desesperadamente.Começou, lá fora, o jogo estratégico da caça e docaçador. Baleia sentia o fim próximo, tentava esconder-se e até desejoumorder Fabiano. Um nevoeiro turvava a visão da cachorrinha, havia umcheiro bom de preás. Em meio à agonia, tinha raiva de Fabiano, mastambém o via como o companheiro de muito tempo. A vigilância às cabras,Fabiano, Sinha Vitória e as crianças surgiam à Baleia em meio a umainundação de preás que invadiam a cozinha _ . Dores e arrepios. Sono. Amorte estava chegando para Baleia. ContasFabiano retirava para si parte do que rendiam oscabritos e os bezerros. Na hora de fazer o acerto de contas com opatrão, sempre tinha a sensação de que havia sido enganado. Ao longo dotempo, com a produção escassa, não conseguia dinheiro e endividava-se.Naquele dia, mais uma vez Fabiano pedira a SinhaVitória para que ela fizesse as contas. O patrão, novamente,mostrou-lhe outros números. Os juros causavam a diferença, explicava ooutro. Fabiano reclamou, havia engano, sim senhor, e aí foi o patrãoquem estrilou. Se ele desconfiava, que fosse procurar outro emprego.Submisso, Fabiano pediu desculpas e saiu arrasado, pensando mesmo queSinha Vitória era quem errara.Na rua, voltou-lhe a raiva. Lembrou-se do dia em quefora vender um porco na cidade e o fiscal da prefeitura exigira opagamento do imposto sobre a venda. Fabiano desconversou e disse quenão iria mais vender o animal. Foi a uma outra rua negociar e, pego emflagrante, decidiu nunca mais criar porcos _ .Pensou na dificuldade de sua vida. Bom seria sepudesse largar aquela exploração. Mas não podia! Seu destino eratrabalhar para os outros, assim como fora com seu pai e seu avô.As notas em sua mão impressionavam-no. "Juros",palavra difícil que os homens usavam quando queriam enganar os outros.Era sempre assim: bastavam palavras difíceis para lograr os menosespertos. Contou e recontou o dinheiro com raiva de todas aquelaspessoas da cidade. Sinha Vitória é que entendia seus pensamentos.Teve vontade de entrar na bodega de seu Inácio etomar uma pinga. Lembrou-se da humilhação passada ali mesmo e decidiuir para casa. o céu, várias estrelas. Deixou de lado a lembrança dosinimigos e pensou na família. Sentiu dó da cachorra Baleia. Ela era ummembro da família.O Soldado AmareloProcurando uma égua fugida, Fabiano meteu-se por umavereda e teve o cabresto embaraçado na vegetação local. Facão em punho,começou a cortar as quipás e palmatórias que impediam o prosseguimentoda busca. Nesse momento, depara-se com o soldado amarelo que ohumilhara um ano atrás _ . O cruzar de olhos e o reconhecimento duroufração de segundos. O suficiente para que Fabiano esfolasse o inimigo.O soldado claramente tremia de medo. Também reconhecera o desafetoantigo e pressentia o perigo.Fabiano irritou-se com a cena. O outro era umnadica. Poderia matá-lo com as mãos, sem armas, se quisesse. Afragilidade do outro aos poucos foi aplacando a raiva de Fabiano.Ponderou que ele mesmo poderia ter evitado a noite na cadeia se nãotivesse xingado a mãe do amarelo. No meio daquela paisagem isolada ehostil, só os dois, e se ele pedisse passagem ao soldado? Aproximou-sedo outro pensando que já tinha sido mais valente, mais ousado. Naverdade, na fração de segundo interminável Fabiano ia descobrindo-seamedrontado. Se ele era um homem de bem, para que arruinar a sua vidamatando uma autoridade? Guardaria forças para inimigo maior.Sentindo o inimigo acovardado, o soldado ganhouforça. Avançou firme e perguntou o caminho. Fabiano tirou o chapéu numareverência e ainda ensinou o caminho ao amarelo.O Mundo Coberto de PenasA invasão daquele bando de aves denunciava a chegadada seca. Roubavam a água do gado, matariam bois e cabras. Sinha Vitóriainquietou-se. Fabiano quis ignorar, mas não pôde; a mulher tinha razão.Caminhou até o bebedouro, onde as aves confirmavam o anúncio da seca.Eram muitas. Um tiro de espingarda eliminou cinco, seis delas, mas erammuitas. Fabiano tinha certeza, agora, de uma nova peregrinação, umanova fuga.Era só desgraça atrás de desgraça. Sempre fugido,sempre pequeno. Fabiano não se conformava, pensava com raiva no soldadoamarelo, achava-se um covarde, um fraco. Irado, matou mais e mais aves.Serviriam de comida, mas até quando ? Quem sabe a seca nãochegasse...Era sempre uma esperança. Mas o céu escuro de arribações sóconfirmava a triste situação _ . Elas cobriam o mundo de penas, matandoo gado, tocando a ele e à família dali, quem sabe comendo-os.Recolheu os cadáveres das aves e sentiu uma confusãode imagens em sua cabeça. Aquele lugar não era bom de se viver.Lembrou-se de Baleia, tentou se convencer de que não fizera errado emmatá-la, pensou de novo na família e no que as arribaçõesrepresentavam. Sim, era necessário ir embora daquele lugar maldito _ .Sinha Vitória era inteligente, saberia entender a urgência dos fatos.FugaO céu muito azul, as últimas arribações e os animaisem estado de miséria indicavam a Fabiano que a permanência naquelafazenda estava esgotada. Chegou um ponto em que, dos animais, só sobrouum bezerro, que foi morto para servir de comida na viagem que se fariano dia seguinte.Partiram de madrugada, abandonando tudo comoencontraram. O caminho era o do sul. O grupo era o mesmo que erravacomo das outras vezes. Fabiano, no fundo, não queria partir, mas ascircunstâncias convenciam-no da necessidade.A vermelhidão do céu, o azul que viria depoisassustavam Fabiano _ . Baleia era uma imagem constante em seus confusospensamentos. Sinha Vitória também fraquejava. Queria, precisava falar _. Aproximou-se do marido e disse coisas desconexas, que foramrespondidas no mesmo nível de atrapalhação.Na verdade, elegostou que ela tivesse puxado conversa. Ela tentou animar o marido,quem sabe a vida fosse melhor, longe dali, com uma nova ocupação paraele. Marido e mulher elogiam-se mutuamente; ele é forte, agüentacaminhar léguas, ela, tem pernas grossas e nádegas volumosas, agüentatambém. A cidade, talvez, fosse melhor. Até uma cama poderiam arranjar.Por que haveriam de viver sempre como bichos fugidos _ ?Os meninos, longe, despertavam especulações aocasal. O que seriam quando crescessem? Sinha Vitória não queria quefossem vaqueiros. O cansaço ia chegando à medida que avançava acaminhada, e assim houve uma parada para descanso. Novamente marido emulher conversavam, fazendo planos, temendo o mau agouro das aves quevoavam no céu.Sinha Vitória acordou os pequenos, que dormiam, eseguiu-se viagem. Fabiano ainda admirou a vitalidade da mulher. Eraforte mesmo! Assim, a cada passo arrastado do grupo um mundo de novasperspectivas ia sendo criado. Sinha Vitória falava e estimulavaFabiano. Sim, deveria haveria uma nova terra, cheia de oportunidades,distante do sertão a formar homens brutos e fortes como eles.

Introdução

Personagens

Resumo

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