10) Para responder às questões de números 10 a 15, leia o texto abaixo.
HERÓI DA LÍNGUA
Vocês se lembram do meu amigo Toninho Vernáculo. Já falei dele uma vez, contei histórias da
mania que tem de corrigir erros de português. Daí o apelido. Cansei de falar: deixa, Toninho, esta língua é
complicada mesmo, até autor consagrado escreve com dicionários e gramáticas à mão.
─ Pelo menos eles têm a humildade de consultar os mestres antes de dar a público o que
escrevem – respondia o Toninho na sua linguagem em roupa de domingo.
Lembram-se dele? Quando encontra erros de português no seu caminho, telefona para os
responsáveis, exige correções em nome da língua pátria e da educação pública. Coisas assim:
─ A placa do seu estabelecimento é um atentado contra a língua, induz as pessoas a achar que o
errado é o certo, espalha a confusão.
Ultimamente andava se controlando, me telefonava muito menos do que antes, relatando
atentados mais graves contra a boa linguagem, praticados por quitandeiros, padeiros, donos de
restaurantes, prestadores de serviços em geral – e pasmem: até pela prefeitura (em nomes de ruas), por
publicitários, jornais.
Dom Quixote da gramática, Toninho não se dava descanso. (...) Quixoteava lições, fosse qual
fosse o interlocutor:
─ Não é "fluído" que se diz, é fluido, com a tônica no u. "Fluído" é verbo, é particípio verbal, não
pode ser uma coisa. "Gratuíto" não existe, é gratuito que se diz, som mais forte no u. Homem não diz
"obrigada", isso é coisa de menino criado entre mulheres; menino fala "obrigado". (...) Bom, um dia desses,
telefonaram-me de madrugada: Toninho havia sido preso como pichador de rua. Quê, um homem de 70
anos? Havia algum engano, com certeza. Fomos para a delegacia, uma trinca de amigos.
Engano havia e não havia. Nosso amigo fora realmente flagrado pela polícia com spray e latinha
de tinta com pincel, atuando na fachada de uma casa comercial do bairro onde mora. Explicou-se: estava
corrigindo os erros de português dos pichadores! Começamos os esforços para livrá-lo da multa e da
denúncia, explicamos ao delegado que o ocorrido era fruto de uma mania dele, loucura leve. Por que
penalizá-lo por coisa tão pouca? Não ia acontecer de novo. Aí o delegado explicou qual era a bronca.
O Toninho havia pedido para ler seu depoimento, datilografado pelo escrivão, e começou a
apontar erros de português no texto do funcionário. A autoridade tinha a pretensão de ser também
autoridade em gramática. Aí melou, "teje" preso por desacato. Com dificuldade, convencemos o escrivão
da loucura mansa do nosso amigo, e ele liberou o herói da língua pátria.
(Ivan Ângelo Veja São Paulo, ano 40, no 2. 17 de janeiro de 2007. p.130)
Toninho Vernáculo, na narrativa, é:
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