O Nascimento do Sujeito - Christian Dunker

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DUNKER, C. I. L. - O Nascimento do Sujeito. Viver Mente e Cérebro (São Paulo). , v.2, p.14 - 26, 2006.
Lucas Gomes
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O Nascimento do Sujeito - Christian Dunker
  1. Nasce o bebê, que percebe o mundo, mas é incapaz de perceber a si mesmo (sem consciência reflexiva)
    1. Neste processo, o adulto, ao interagir com o bebê, tende a agir como um espelho para o mesmo, sintetizando e reproduzindo suas ações e o reconhecendo como sujeito antes que o seja, realmente.
      1. Este processo se divide em três tempos dentro do complexo de Édipo:
        1. O 1º tempo é dividido em quatro etapas:
          1. 1ª Etapa: Para a criança a tarefa aqui é como assumir, em si e para si, essa linguagem na qual, antes de tudo, ela é falada. Ela deve aprender a pedir e a colocar em palavras aquilo que sente e o que quer. Estas palavras lhe vem do outro, portanto suas demandas se criam à partir de uma alienação.
            1. 2ª Etapa: A descoberta da própria sexualidade no prazer e desprazer. Neste processo a criança inicia uma jornada pulsional, onde descobre o seu próprio desejo por um objeto ausente, a satisfação humana, e por extensão a sexualidade, se organiza em torno de um objeto fantasiado, que por sua vez é um substituto de um objeto ausente.
              1. Na contramão desse objeto desejo e de prazer, o desprazer é crucial, ele se verifica nos intervalos da pulsão, segundo Freud, a experiência do desprazer é fundamental para formação do eu. O eu associa-se ao prazer interiorizado, e o mundo, ao desprazer exteriorizado. As experiências antes possuíam este valor (prazer ou desprazer) e só depois adquirem o sentido de existência (ser ou não ser).
                1. 3ª Etapa: Neste momento acontece uma reviravolta na criança, um estranhamento, ela começa a se perceber, é o início do Estádio do Espelho. Se fascina, se estranha pela imagem, não a reconhece, mas é afetada por ela. Nesse processo de insegurança do Eu, a criança é complementada pelas imagens do Outro, daí o fato de que o eu é sempre uma espécie de outro interiorizado. O desejo é o desejo de possuir o desejo do outro, que se fixa na imagem que o representa.
                  1. Uma criança quer o brinquedo que pertence ao vizinho, está disposta a bater no amigo, por isso e não cederá a pressões. Os pais providenciam um brinquedo similar ao desejado que no entanto não surte o menor efeito. A criança parece dizer: “Eu quero aquele brinquedo porque ele é o brinquedo do outro, porque o outro parece desejá-lo. Eu quero o brinquedo do outro porque quero o que ele quer.”
                    1. 4ª Etapa: Inicia-se a concretização do Édipo. agora é necessário ter algo para ser amado e ser algo para obter amor de alguém. Esse algo é de natureza intrigantemente simbólica. Há ainda uma transformação da forma como a criança quer ser reconhecida: não mais como um objeto fixo e estável para o desejo do Outro, mas como alguém que precisa fazer algo para conquistar esse reconhecimento e que, portanto, corre o risco de perdê-lo.
                      1. Freud observou seu neto que brincava no berço. A criança tinha um carretel, preso a um fio, e alternadamente o jogava para fora do berço e o puxava para dentro, exprimindo uma vocalização característica a cada um dos momentos. A hipótese é que com esse brincar a criança realizava as quatro operações necessárias para a formação do eu: (1) substituía simbolicamente a mãe pela imagem do carretel; assim como a mãe ia e vinha, dividida entre seus afazeres domésticos e os cuidados ao bebê, o carretel aparecia e desaparecia de seu campo visual; (2) substituía simbolicamente a experiência passiva de ser deixado e de ser reencontrado pela mãe, pela experiência ativa de controle da situação, assumindo a manipulação do fio; (3) substituía simbolicamente o desprazer gerado pela ausência da mãe pelo prazer causado pelo brincar; e (4) substituía simbolicamente o objeto inerte, representado por um carretel amarrado à um fio de linha, por um objeto investido pelo dom amoroso da mãe. Temos aqui, portan
              2. O 2º tempo se inicia pela percepção da criança de que a mãe deseja algo além dela; não é, portanto, a única fonte de seu amor e o exclusivo objeto de seu desejo.
                1. A criança passa a perceber que a Mãe tem esta falta a qual ela não pode ocupar, e também passa a perceber que existe uma imagem de um pai que até então havia passado despercebida, o pai surgirá como uma figura aterrorizante e ameaçadora. A ele será atribuída a responsabilidade de a mãe encontrar-se nesse estado de privação de algo. Ao mesmo tempo a ele serão atribuídos os efeitos de dano à imagem narcísica de si.
                  1. Em um momento consequente, existe o questionamento da origem dos bebês. A criança, a partir da percepção do pai, começa a se questionar sobre o objeto de Poder no Falo como sendo o objeto da falta materno, de tal maneira, que a cada passo dessa investigação infantil, a criança tem efeitos bem reais na sua relação com suas fontes de prazer.
                    1. A criança passa então a se sentir ameaçada pelo poder do Falo, causando-lhe angústia e questionamentos, assim surgindo a Angústia de Castração, mas também uma ideação daquilo que ele (Eu) pode vir a ser. A criança enxerga que o Pai pode significar um perigo a certas imagens do próprio corpo. Já na menina, há um efeito diverso, onde ela atribui essa ameaça do Falo a uma falta herdada pela mãe e a invejar essa posição de poder.
                      1. Aceitar a privação da mãe o convidará a “esquecer” que um dia ele a desejou como seu complemento narcísico e pulsional. Esse “esquecimento” corresponde a um modo de negação simbólica chamado de recalcamento e dará origem a uma relação de tipo neurótica com o desejo. Recusar a privação da mãe, por outro lado, o convidará a um outro tipo de negação, pelo qual ele se fará possuidor de um objeto capaz de reatualizar a potência materna, travestida agora em “força de lei”. Essa outra forma de negação é chamada de desmentido ou recusa e dará origem a um tipo de relação perversa com o desejo.
                        1. A criança pratica uma espécie de negação do objeto que é simultaneamente uma negação de sua posição inicial relativa à mãe. Ela não é mais o objeto que realiza inteiramente o desejo da mãe. Essa negação introduz uma reviravolta nas relações dela com os pais, que passa agora a envolver quatro elementos (o pai, a mãe, a criança e o falo) e não apenas três.
                2. O 3º tempo, onde o sujeito estabiliza seu processo de constituição, organizado agora pelo complexo de castração, agora encontrará uma solução para o problema da sexuação.
                  1. Na sexuação ocorre uma espécie de transmutação do objeto que representa o desejo, transmutação que decorre de uma simbolização da relação entre os pais, destes com a criança e desta com o que representa o desejo.
                    1. A criança acaba por simbolizar não apenas a ausência e a presença da mãe, a potência e a impotência do pai, mas o sentido dessa transição. Introduz-se assim a idéia de que entre os pais há uma circulação da qual a criança estava inicialmente excluída. O pai, que antes dizia “não” e representava a interdição de suas vontades, passa agora a dizer “sim” para o desejo, que é agora um desejo limitado. Essa operação é conhecida como castração.
                      1. A criança passa a constituir uma metaforização da relação dos pais, nesta, o pai perde seu poder de opressão imagética e de força real em prol de uma potência simbólica. Sua função se “impessoaliza” sendo reduzida à do nome que o inscreve, ele próprio, em uma genealogia cuja origem não deixa de ser mítica.
                        1. A descoberta de que as relações desejantes são relações que envolvem a circulação de elementos simbólicos é um passo decisivo para a socialização da criança. Ela pode, a partir disso, entender que nos submetemos às leis e regras não porque haja um elemento de força real que nos coage a isso (punição). A lei não se reduz à força ou potência de seus representantes reais, mas à sua autoridade simbólica em promover a circulação do desejo. Assim a autoridade real dos pais pode transferir-se para instâncias sociais que, na origem, os representam (governantes, professores, médicos, juízes, etc.).
                          1. A partir dessas renúncias forçadas pela lei, existe a perda de um prazer que mais tarde pode reaparecer no sujeito como a escolha do objeto de prazer amoroso, como o superEgo, responsável pela vigilância e culpa, ou como um processo de sublimação em busca de reaver tal prazer, pela arte, ciência etc.
                            1. Neste processo inicia-se a identificação sexual, na qual a fantasia, que remanesce como organizadora do desejo, incidirá para cada sujeito
                              1. Neste terceiro tempo há uma modificação fundamental do objeto que coordena o desejo, ele não é mais imaginário, nem real, mas se torna propriamente simbólico. Este movimento implica na formação de um nova maneira de relacionar o sexual ao desejo (mediada pela lei), onde é possível inscrever-se como homem ou como mulher anunciado assim um modo prevalente de satisfação, agora mediada pela fantasia.
                                1. Desta maneira, o complexo de édipo encerra uma longa estruturação do desejo, da lei, do superego, do ego, do reconhecimento do sujeito e do desejo inscritos no indivíduo
                                  1. Ao finalizar o artigo, Dunker ainda explica: Entende-se por sujeito não apenas a capacidade de ter consciência de si, nem a capacidade de agir e reagir a problemas e conflitos, mas fundamentalmente o que nos torna responsáveis por nosso próprio desejo, mesmo que uma parte dele permaneça inconsciente.
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