Depois do Oriente Médio, do subcontinente
indiano e do sudeste asiático, a África se
constitui numa quarta região que, apesar de
menos importante no passado muçulmano, vem
adquirindo cada vez mais projeção no contexto do
chamado mundo islâmico.
Visão panorâmica de um continente
O número de muçulmanos na África é na atualidade estimado em mais de 400 milhões, cerca
de 30% do total dos seguidores da religião criada pelo Maomé. A islamização no continente se
difundiu muito mais pelo comércio e pela migração do que por conquista militar. A expansão do
islã na África seguiu três direções: do Magreb ela avançou pelo Saara e alcançou a África
Ocidental. Por fim, comerciantes originários da porção sul-sudoeste da península Arábica e
migrantes do subcontinente indiano criaram assentamentos no litoral do Índico e, dali, difundiram
a presença muçulmana para o interior. A expansão do islanismo, em todas as direções, continua
até os dias atuais. O islanismo fez sua entrade no continente a partir da África do Norte, do
Egito ao Marrocos, sendo esta uma das primeiras regiões a ser conquistada pelo expansão
inicial árabe-islâmica (séculos VII e VIII).
O islã na África após 1800
Uma nova fase da islamização no continente iniciou-se
no século XVIII, fenômeno que coincidiu com o auge da
época escravista. Embora a servidão da África
Ocidental, a captura de seres humanos se acelerou, a
ponto de surgirem, no litoral do goldo da Guiné, novos
"Estados", por exemplo, o Daomé (atual Benin) e Ashanti
(atual Gana), como resposta à crescente procura por
escravos que eram enviados, em sua maioria, para
servir como mão de obra nas plantations da América
tropical.
As armas de fogo que os mercadores de escravos
passaram a receber em trocas dos seres humanos
apresados facilitavam novas capturas, que contribuíram
para praticamente dizimar populações inteiras. Ao
mesmo tempo, esse perverso processo transformou os
grupos caçadores e mercadores em uma nova elite.
Parte dos escravos vendidos era de muçulmanos, e foi
por meio deles que surgiram os primeiros núcleos
islâmicos. Já na África Oriental, os escravos capturados
eram enviados para o Oriente Médio.
O impacto colonial no século XIX
No século XIX, o impacto colonial mudou
dramaticamente o quadro existente até então.
Colonialistas europeus - franceses e britânicos,
além de belgas, italianos e portugueses -
criaram e consolidaram impérios concorrentes
que puseram fim aos "Estados" islâmicos
independentes. Os ingleses, que até o século
anterior haviam sido os principais organizadores
do tráfico negreiro, passaram a impor o seu
fim e, onde foi possível, aboliram a escravidão.
A diminuição do comércio de escravos trouxe
consequências negativas para as elites
escravistas muçulmanas, implodindo as
estruturas estatais existentes.
A Grã-Bretanha concentrou suas energias na estratégia geopolítica de manter um
domínio terriorial contínuo - do Cairo (Egito) até a Cidade do Cabo (África do Sul) -,
eliminando eventuais "Estados" muçulmanos que estivessem no caminho. Por sua vez,
em algumas áreas da África Oriental, os britânicos promoveram a vinda de
trabalhadores rurais muçulmanos nos originários das Índias britânicas para regiões das
atuais Uganada e África do Sul.
A evolução do colonialismo nas regiões do África
muçulmana gerou uma situação paradoxal: ao mesmo
tempo em que os muçulmanos perdiam poder político,
o islanismo teve um crescimente sem precedentes.
Tribos inteiras se converteram. Isso ocorreu no
contexto das rápidas transformações
socioeconômicas engendradas pela colonização.
A urbanização e o enfraquecimento das
tradições familiares e sociais, bases
fundamentais das culturas culturas
africanas, criaram um ambiente
conturbado que beneficiou o islã, religião
que combina o universalismo de sua
mensagem com uma ideologia de clara
oposição ao Ocidente imperialista. Aliás, é
essa combinação que explica em grande
parte a condição de o islanismo ser, na
atualidade, a religião com o maior ritmo de
crescimento em todo o mundo.