TRABALHADOR DO SAL
AS CONDIÇÕES DO TRABALHO
As duas principais funções do trabalhador em salinas artesanais eram a extração e o transporte do sal marinho. As tarefas de extrair e de transportar o sal eram duas etapas diferentes.
Durante o processo de extração, o sal endurecido era quebrado, lavado e empilhado em forma de pirâmides com cerca de um metro, para depois ser carregado para as margens das salinas.
Todo este serviço durante o processo de extração do sal marinho era bastante sacrificante. Era uma atividade que, em pouco tempo, degradava todo o corpo de qualquer trabalhador ali empregado.
Trabalhava-se cerca de 12 a 18 horas diárias. A maior parte do tempo sob uma temperatura de mais de 30º C. A insolação era insuportável. A intensa luminosidade do sol refletida no sal prejudicava extremamente a visão. Muitos ainda hoje tratam dos olhos devido às conseqüências desse tipo de serviço. Por isso, às vezes, este, era realizado à noite.
Além disso, tinha ainda os abscessos ou tumores que surgiam, principalmente nas pernas dos trabalhadores, devido ao constante contato da pele com o sal ou água salgada. Havia ainda, as terríveis dores na coluna causadas pelo uso contínuo dos instrumentos de trabalho utilizado neste serviço de extração do sal marinho.
Durante o processo de transporte do sal das margens das salinas para os porões das barcaças, o trabalho também era bastante sacrificante. Primeiro, não tinha horário certo para o serviço. Dependendo da hora da maré que desse para encostar o barco, o serviço poderia ser realizado tanto pela manha, à tarde ou à noite, como acontecia muitas vezes.
As condições em que era realizado este transporte do sal não eram em nada fáceis. O trabalho realizado à noite ou durante o dia era o mesmo preço. Além disso, muitas vezes trabalhava-se, inclusive, nos finais de semana.
Havia ainda os acidentes que aconteciam durante este transporte do sal para as barcaças. Como o movimento do transporte era feito sobre longas e estreitas tábuas bastante altas e escorregadias, chamadas de "pranchão", que ficavam de um extremo a outro, entre a margem da salina e as barcaças, não eram poucos os acidentes que ocorriam. De acordo com depoimento de um ex-trabalhador em salinas “houve de gente cair com balaio, cair no pranchão, em cima das pedras,...de pau”.
O mais comprometedor é que, até pouco antes do final da década de 1940, não havia nenhum tipo de assistência. Simplesmente o trabalhador acidentado teria que ir para casa tratar-se por conta própria.
Portanto, pode-se dizer que o trabalho de extração e transporte do sal nas salinas artesanais representava duas faces de um mesmo processo: a exploração do trabalho de outro. Assim, para os proprietários de salinas, tal processo significava a garantia do lucro através da extração da mais-valia absoluta. Enquanto que, para os milhares de trabalhadores em salinas, significava a garantia da sobrevivência imediata através do paulatino sacrifício humano.
Por fim, como se não bastasse, havia sempre a angústia e o medo do desemprego estampado no rosto de cada trabalhador. Carregavam consigo a certeza de estarem desempregados novamente no final de cada safra ou colheita do sal.