Prazer do saber

"Certa ocasião, durante evento científico em São Paulo, tive a oportunidade de compartilhar de uma mesa-redonda com um filósofo. Ao final das palestras, a palavra foi dada à plateia. Ao fundo da sala, ergueu-se um jovem estudante de medicina. Declarou que, a princípio, duvidara que um filósofo tivesse algo importante a dizer sobre um tema médico, mas agora estava agradavelmente surpreso e entusiasmado pela boa contribuição que meu colega de mesa havia dado. E de imediato, lançou-me uma pergunta que já nasceu grávida da própria resposta: “O senhor, como médico, não acha que haveria alguma utilidade incluir um pouco de filosofia no curso de medicina?”. Ora! Apesar de estarmos na era da energia nuclear, sempre me entusiasmo quando vejo alguém que acaba de descobrir a pólvora! Afinal, o óbvio só se torna óbvio depois que conseguimos a duras penas enxergá-lo! Quem já vivenciou uma psicoterapia, seja como cliente ou como terapeuta, sabe muito bem disto!  Que esforço deve ter feito aquele jovem estudante para disponibilizar tempo e energia na tarefa de ouvir, observar e refletir sobre algo que a princípio lhe pare-cia não fazer sentido e não ter valor algum. E que prazer manifestou devido a essa vivência particularmente humana chamada de “fazer sentido” ou “ver o sentido da coisa”! A vivência da significação! Fenômeno claramente biopsicossocial, ou melhor, sociopsicossomático: a partir da experiência social de relação do eu com o outro (o estudante e o filósofo), dá-se um movimento psíquico (reflexão, asso-ciação) que evolui até seu correspondente biológico (estabelecimento de novas sinapses entre alguns neurônios, novos circuitos de liberação de neurotransmisso-res), resultando em vivência emocional de prazer. É o prazer do saber!" Fonte:  ANGERAMI-CAMON, V. A. (org.). Psicologia da saúde: um novo significado para a prática clínica. São Paulo: Pioneira, 2011. Cap. 6, pág. 244. Disponível em https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522126606/cfi/87!/4/2@100:0.00.