A sociedade brasileira apresenta uma enorme diversidade
cultural. Essa variedade pode ser considerada típica, pois o
Brasil se formou a partir de um vasto território com diferentes
tipos de processo migratório. Tanto as matrizes étnicas como o
processo de regionalização são fatores importantes para
entendermos nossa cultura. A formação da cultura brasileira
envolve a mistura entre indígenas, europeus e africanos.
Ocupar o território e transformá-lo em uma nação não foi um
processo simples. A principal razão do sucesso na ocupação de
tão vasto território foi a mestiçagem, o cruzamento genético e
cultural ocorrido no contato entre as etnias.
Com base em Darcy Ribeiro, antropólogo (1922-1997), pode-se
dizer que a cultura brasileira é híbrida. Disso resulta a rejeição
de quaisquer discursos de pureza ou supremacia de uma matriz
étnica sobre as outras. Alguns governantes, como Getúlio
Vargas, até se apoiaram na imagem do brasileiro mestiço como
símbolo do nacionalismo. Outro autor que estudou a formação
da identidade brasileira foi o sociólogo Renato Ortiz (1947-). Ele
mostrou como a cultura foi objeto de disputa política e a tensão
na elaboração de símbolos da identidade nacional. Um dos
principais aspectos que ele destaca é o apagamento do negro
no imaginário nacional
A educadora Petronilha Beatriz Silva (1942-) mostrou que, na
formação do Brasil, a educação foi negada às pessoas negras e,
assim, elas não puderam ser protagonistas na construção da
identidade brasileira. As expressões culturais de origem negra
foram inferiorizadas e sofreram marginalização: a estética dos
corpos e cabelos, as práticas religiosas, a capoeira, o samba de
roda, etc.
Outro fator que colaborou para nossa pluralidade cultural foi a
diversidade ambiental e populacional. O historiador Sérgio
Buarque de Holanda (1902-1982) enfatizou uma característica
que a diversidade produziu na cultura brasileira. Para o
antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), a presença de biomas tão
distintos associados à mestiçagem criou cinco brasis
diferenciados, associados aos elementos naturais e humanos.
Só é possível falar de uma identidade brasileira se
considerarmos as diferentes culturas, etnias e ambientes que
configuraram a formação do povo.
O Brasil Crioulo compreende a Zona da Mata Nordestina e o
litoral brasileiro. É uma parte do território onde ocorreu a
mistura entre colonizadores e africanos escravizados,
principalmente para a produção canavieira em Pernambuco e
para a produção de tabaco, algodão e produtos voltados à
exportação. A mulata, um dos símbolos do Brasil Crioulo.
O Brasil Sertanejo é o território configurado ao ser atravessa- do
pelos tropeiros e pelas caravanas de charque. Representa uma
mudança no eixo do povoamento, até então concentrado no
litoral. Nessa cultura do interior, formou-se a identidade das
pessoas que atravessavam os sertões em busca de
oportunidades, os chamados sertanejos: vaqueiros, cangaceiros,
tropeiros, retirantes, etc. Os trabalhadores nordestinos
transportados no estilo pau de arara fazem parte de um
processo migratório característico do Nordeste. São pessoas
recrutadas pelo agronegócio para trabalhar na colheita ou em
outras atividades agrícolas em condições precárias.
O Brasil Caboclo, segundo Darcy Ribeiro, é aquele formado pela
ocupação da região amazônica através dos rios. Pessoas não
indígenas foram se misturando com as populações indígenas. O
grande interesse na região se devia às chamadas drogas do
sertão, um variado conjunto de especiarias vindas de diferentes
áreas extrativas. Os caboclos eram, em sua maioria, mestiços
descendentes de homens brancos com mulheres indígenas. Eles
formaram grupos que se apoderaram da estrutura local para
con- duzir negócios com autonomia em relação à Coroa
portuguesa.
O Brasil Caipira, para Darcy Ribeiro, é aquele que seguiu os vales
de rios e montanhas da Serra do Mar e da Mantiqueira. Essa
região começou a se configurar no avanço das comunidades
indígenas em direção ao interior do Sudeste. Isso aconteceu
como resultado dos conflitos contra os invasores no litoral e da
ação dos bandeirantes. Esse movimento de ocupação gerou uma
população interiorana cuja representação mais comum é o
“caipira”. De acordo com Eduardo Frieiro, a comida mineira
retrata as condições geográficas da região onde é produzida e
representa a identidade de um povo. A comida mineira se
instituiu como um importante símbolo da cultura imaterial de
um povo. A cultura caipira foi objeto de intenso debate no início
do século XX na obra do escritor Monteiro Lobato. Ele analisou
as regiões decadentes do Vale do Paraíba na obra Urupês, de
1918, na qual expôs e criticou a figura do “Jeca Tatu”, um tipo
humano que, segundo Lobato, encarnava o brasileiro
preguiçoso. Esse estereótipo p
O Brasil Sulista começou a se formar pelo encontro entre na-
tivos e imigrantes açorianos portugueses no litoral da região
Sul. Nas áreas das campanhas gaúchas, surgiu uma
descendência de outros nativos, entre uruguaios e argentinos,
colonizados por espanhóis. O Brasil Sulista foi muito
influenciado pelas tropas de charque que se integravam às
feiras do Nordeste, que serviu de apoio para o povoamento e a
colonização. Essa convivência com os tropeiros sertanejos é
notável na cultura sulista. A cultura do consumo da erva-mate
envolve o uso de utensílios específicos e o consumo em
situações sociais, um símbolo da identidade sulista. A história
do chimarrão demonstra como as culturas locais e nativas se
misturam às influências estrangeiras na construção regional.
Assim como nos outros brasis, o Sul foi marcado pela mes-
tiçagem, pelo hibridismo e pelas influências étnicas e culturais
oriundas de outros contextos.