A introdução da mecanização e do vapor como força
hidráulica para movimentar as máquinas foi parte de um
conjunto maior de transformações sociais ocorridas no
século XVIII. Essas mudanças impulsionaram os
trabalhadores da França e, principalmente, da Inglaterra a
revolucionarem a sociedade. Na Primeira Revolução
Industrial, as mudanças sociais foram resultado da
desarticulação da sociedade estamental vigente na Europa,
na passagem para a modernidade. Para estabelecer um novo
modo de produção que substituísse o feudal, a burguesia
investiu na intensificação da urbanização e no êxodo rural,
motivando os trabalhadores a buscarem empregos nas
cidades.
Portanto, o capitalismo industrial provocou a perda dos laços
sociais e da identidade e, em lugar disso, promoveu longas
jorna- das de trabalho, baixos salários, moradias precárias,
pobreza e, em alguns casos, extrema miséria. Essa situação
mobilizou os trabalhadores a protestarem contra a exploração
nas fábricas, o que levou à formação de sindicatos e de uma
resistência organizada. Adquirindo consciência de classe, em
função da proximidade nas fábricas, os operários – nesse
período, denominados proletariado – organizaram sindicatos e
uma onda de protestos, a chamada Primavera dos Povos, que
culminou em uma grande revolução social no ano de 1848.
Ao longo da história, as transformações tecnológicas e as mu-
danças sociais caminharam juntas. As novas necessidades
sociais despertam o ser humano e o fazem desenvolver novas
tecno- logias. Ao se alterarem as forças produtivas, surge o
desejo de transformar as estruturas sociais.
SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A Segunda Revolução Industrial, na virada do século XIX para o
século XX, alcançou o restante da Europa e outros países de
maior expressividade econômica, como os Estados Unidos, o
Brasil, a Argentina e o México. Seu maior expoente foi Henry
Ford, cujo método de organização das fábricas baseado em
fragmentação das tarefas produtivas se consolidou no modelo
do fordismo. Foram introduzidas noções de administração
científica e intensificou-se o ritmo nas fábricas por meio do uso
da energia elétrica e do petróleo.
A racionalização dos ambientes de trabalho introduziu a
disciplina como principal valor do trabalho. O excesso de
produção levou a uma forte crise em 1929, que expôs a
fragilidade do chamado capitalismo financeiro, a destruição
provocada pela guerra levou a um período de reconstrução e de
proteção social que alavancou a saúde, a educação e a
construção civil, organizando um Estado de Bem-Estar Social.
TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A trégua no conflito capital-trabalho durou até a década de
1970, quando novas crises sociais foram alimentadas pela
mudança no controle da produção do petróleo. A opinião
pública em diversos países foi contaminada por notícias sobre
as dificuldades enfrentadas por governos e empresas para
manter seu alto nível de investimentos na área social. O
trabalho deixou de ser regulamentado por princípios e direitos
trabalhistas e foi iniciada uma forte flexibilização. Diversas
funções migraram do mundo real para o mundo digital e
formaram uma cultura da virtualização do trabalho. Aquilo que
poderia ser incorporado pela automação, pela robótica e pelos
sistemas de informação passou a ser operado por máquinas, e
não mais por pessoas.
Na virada do milênio, a virtualização do trabalho se expandiu
muito mais. Uma grande quantidade de pessoas passou a fazer
parte de uma multidão de desempregados, bastante diferentes
dos excluídos do trabalho assalariado, aos quais se deu o nome
de precariado, em oposição ao proletariado de séculos
anteriores.
QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: PROCESSO E UBERZIÇÃO DO
TRABALHO
O uberismo, relacionado à Quarta Revolução Industrial, diz
respeito à massificação de aplicativos que funcionam como
plataformas de comunicação e de interação social, que
produziram novas formas de trabalho, não mais gerenciadas
pelas relações trabalhistas, mas sim por relações virtuais. O
processo de uberização do trabalho estabeleceu um controle
difuso que camuflou o controle social antes realizado pelos
patrões e pelo Estado. A virtualização do trabalho permite que o
desempenho dos trabalhadores seja acompanhado à distância.
O chefe passa a ser o aplicativo, e seu braço poderoso é o
algoritmo. A uberização é a transformação das relações de
trabalho, tornadas impessoais, assépticas, desprovida de
desgastes e emoções.
A Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0, está
profundamente associada ao modelo de circulação e de
consumo atrelado à economia informal e às plataformas
digitais. Esse modelo é possibilitado por formas de inteligência
artificial, armazenamento em nuvem, realidade virtual e
smartphones, que são algumas das tecnologias que se
popularizaram nas duas primeiras décadas do século XXI. O
trabalho é um direito humano fundamental, mas, para que ele
se realize mais plenamente, é preciso haver atuação positiva do
Estado, das empresas e da sociedade civil, para que as
condições de vida dos trabalhadores sejam protegidas.