BRAUDEL OU A SEGUNDA GERAÇÃO DA
ESCOLA DOS ANNALES* 22/09/2022
Nota:
(*) CARRION, R. A Escola dos Annales e a “Nova” História. In. Centro de Estudos Marxistas. Luz e Sombras: ensaios de
interpretação marxista. Porto Alegre: UFRGS, 1997, pp. 46-48.
1) LONGA DURAÇÃO E DURAÇÃO LENTA -
NIVEIS DE TEMPORALIDADE
Braudel que já compunha o núcleo dirigente dos Annales desde meados doa anos 40, publica em
1940 sua obra La Méditerranée et le Monde Méditerranéen, onde “descobre” a existência de distintos
níveis de temporalidade: a longa duração das relações do homem com o meio geográfico – “uma
história quase imóvel, a do homem em suas relações com o meio que o cerca; uma história lenta no
seu transcorrer e seu transformar-se; feita com frequência de retornos insistentes, de ciclos
incessantemente recomeçados” (BRAUDEL, 1978, p. 13-14);
"Acima dessa história imóvel, uma história lentamente ritmada [...] uma história social, a dos grupos
e grupamentos [...] as economias e os Estados, as sociedades e as civilizações” (Idem); a curta
duração dos acontecimentos – “ a história à dimensão não do homem, mas do indivíduo, a história
ocorrencial” (Idem, ibidem)."
2) TEMPOS GEOGRÁFICO, SOCIAL E INDIVIDUAL
Em que pese o mérito de ter percebido que o tempo
histórico não é absoluto nem homogêneo (algo descoberto
por Marx um século antes), Braudel não conseguiu articular
as diversas temporalidades, limitando-se a agregar suas
“fatias” de acontecimentos de acordo com a sua maior ou
menor lentidão:
"Assim chegamos a uma decomposição da história em
planos escalonados. Ou, se quisermos, à distinção do tempo
na história, de um tempo geográfico, de um tempo social,
de um tempo individual. Ou, se preferirmos ainda, à
decomposição do homem num cortejo de personagens
(BRAUDEL, 1978, p. 15)."
3) ALINERIDADE ou NÃO LINEARIDADE DO TEMPO HISTÓRICO
Braudel não foi capaz de compreender que a
alinearidade do tempo histórico não se expressa através
de um esquema “por camadas” (senão, como
compreender os “dias que valem por anos”, nos quais
tanto as estruturas como as conjunturas e os
acontecimentos se aceleram enormemente?). Mais,
ainda, ignorou o que articula, em última instância, os
tempos longos, médios e curtos: o modo de produção.
Na perspectiva da longa duração, toda ação humana é insignificante. Incapaz de perceber a dialética
entre os tempos longos e os curtos, as circunstâncias e os acontecimentos, as leis históricas e a
práxis humana, Braudel aproxima-se do “homem está morto” do estruturalismo!
4) ERROS PRIMÁRIOS DE BRAUDEL
Ao aventurar-se na história econômica
– A Dinâmica do Capitalismo – Braudel
expõe suas debilidades no âmbito da
teoria e cai em erros primários:
localiza o capitalismo na esfera da
troca, ao invés da produção, e chega
ao absurdo de contrapor a economia
de mercado ao capitalismo!
Em 1947, Braudel sucede Febvre na direção da revista. Em 1949, torna-se professor do Collège de
France e passa a acumular com Febvre, a direção do Centro de Pesquisas Históricas da École de
Hautes Études e a direção da revista. Com a morte de Febvre, em 1956, torna-se o seu sucessor na IV
Seção da École.
5) RESUMO DA PRIMEIRA E SEGUNDA FASE DA ESCOLA DOS ANAIS
a) Apesar da crítica ao empirismo e da defesa da necessidade da teoria, na prática os
Annales subestimaram a teoria e privilegiaram os métodos e técnicas de investigação;
b) Sua visão interdisciplinar descambou em muitos momentos para o
tecnicismo estatístico, demográfico e quantitativista;
c) Percebeu distintas temporalidades na história, mas não as articulou dialeticamente, nem percebeu o
fluir descontínuo dessas temporalidades, justapondo-as um tanto mecanicamente. Ao privilegiar uma
história naturalizada e a longa duração, e ao desprezar o acontecimento, aproximou-se do
determinismo geográfico [ambiental];
d) Sua reivindicação de uma história total evoluiu para uma visão de totalidade de mero somatório; •
Diversos de seus historiadores passaram a dedicar-se às obras biográficas. Uma das consequências
foi a ausência de qualquer teoria da “mudança social”.
e) Diversos de seus historiadores passaram a dedicar-se às obras biográficas. Uma das
consequências foi a ausência de qualquer teoria da “mudança social”.