PLANTAR, TRADUZIR, MINERAR: ANÍSIO TEIXEIRA (1935-1947) Maria Rita de Almeida Toledo, Diana Gonçalves Vidal https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.7557
Descripción
Graduação Historia e Mercado Editorial Mapa Mental sobre PLANTAR, TRADUZIR, MINERAR: ANÍSIO TEIXEIRA (1935-1947) Maria Rita de Almeida Toledo, Diana Gonçalves Vidal https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.7557, creado por Alexandre Leite Turella el 01/06/2024.
PLANTAR, TRADUZIR, MINERAR: ANÍSIO
TEIXEIRA (1935-1947) Maria Rita de
Almeida Toledo, Diana Gonçalves Vidal
https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.7557
Nota:
MARIA RITA DE ALMEIDA TOLEDO1
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6391-3163
toledo.mariarita@gmail.com
DIANA GONÇALVES VIDAL2
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7592-0448
dvidal@usp.br
1 UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
2 USP, São Paulo, SP, Brasil
RESUMO:
Tomamos Anísio Teixeira como um hub, a partir do qual, almejamos desenhar a configuração de redes,
enlaçando sujeitos e instituições. Nossa atenção recai sobre o período entre 1935 e 1947, esmiuçando o
trabalho editorial que realizou para Companhia Editora Nacional, a partir da documentação do acervo
da editora, depositado Centro de Memória e Pesquisa Histórica do Departamento de História da
EFLCH/UNIFESP [...] O texto está estruturado em duas partes que se combinam com a introdução e com
considerações finais. Na primeira parte, ressaltamos a atuação de Anísio junto à Cia. Editora Nacional.
Na segunda, o foco se desloca para sua trajetória na UNESCO. Em ambos os casos, é a trama móvel das
redes que conduz a escrita, guiada por uma argumentação alicerçada na história transnacional da
educação.
INTRODUÇÃO
A produção biográfica sobre Anísio Teixeira é substantiva e bastante compreensiva sobre sua atuação
como político educacional e as publicações em filosofia da educação.
ANISIO HUB: propomos tomar Anísio como um hub, a partir do qual, almejamos desenhar a
configuração de redes, enlaçando sujeitos e instituições. Na teoria das redes, hubs são “nós atrativos”,
que possuem potencial disseminador de tendências e informações, com contatos pessoais numerosos e
capacidade de influência nas ligações. Podem tanto designar indivíduos, quanto grupos, corporações ou
qualquer tipo de coletivo (BARABÁSI, 2003). Mas na dinâmica das redes, também, o que se considera por
hub pode se apresentar apenas como um nó, no deslocamento da perspectiva de análise. Assim,
alternando entre a posição como nó ou como hub, Anisio Teixeira catalisa nosso olhar na compreensão
das interconexões do campo educacional.
ANISIO NA CEN: A atenção recai justamente sobre o período entre 1935 e 1947, esmiuçando o
trabalho editorial que realizou em particular para Companhia Editora Nacional (CEN), nas cartas
trocadas com autores, nos livros traduzidos e nos procedimentos de tradução, a partir da
documentação do acervo da editora, depositado Centro de Memória e Pesquisa Histórica do
Departamento de História da EFLCH/UNIFESP (TOLEDO, 2013).
DUAS PARTES: Para dar conta desse objetivo, o texto está estruturado em duas partes que se combinam com a
introdução e com comentários finais. Na primeira parte, ressaltamos a atuação de Anísio junto à
CEN. Na segunda, o foco se desloca para sua trajetória na UNESCO.
AS REDES DE EDIÇÃO: SOCIABILIDADES E PROGRAMAS DE LEITURA
A vida no sertão do país da ociosidade
Uma coleção para Wellsificar o Brasil
LUGAR FORMADOR DE REDES - AS EDITORAS: Articuladoras de autores, textos, tradutores, instituições
produtoras, difusoras ou financiadoras de culturas transnacionais, as editoras constituem um campo
(simbólico, econômico, político) no qual se distribuem lugares de emissão, circulação e recepção do
que foi produzido em termos de cultura letrada. Como “mestre” da geografia cultural da edição, o
editor desenha projetos, se adianta ao mercado, criando uma variedade de produtos em territórios
em constituição, assim como perscruta o público cativo, canoniza autores e obras, retroalimentando
territórios já estabelecidos (TOLEDO, 2013). Os seus catálogos são verdadeiros mapas das geografias
culturais que instituem no tempo.
REQUISITOS DOS EDITORES: devem ser capazes de mobilizar e acumular: a oferta de textos por
autores renomados ou novos autores; o acesso a linhas de apoio das instituições culturais; a
liberação de direitos de tradução em disputa, as indicações de tradutores ou ilustradores, o acesso a
diferentes gráficas e a produtores de papéis, entre outras situações, são exemplos das redes que os
editores constituem ao longo da existências de seu selo.
EDITORES E REDES: Uma editora de sucesso deve contar com um amplo leque de articulações com os
agentes do livros. O lugar de editor é o da intersecção das redes de produção capitalista da cultura
escrita; é o de instituidor de redes simbólicas de autores e mediadores culturais de diferentes campos
de saber. Essa condição foi amplamente mobilizada por Monteiro Lobato e por Octalles Marcondes
Ferreira – donos da CEN.
ESTRATÉGIAS DOS EDITORES - CONVIDAR INTELECTUAIS: Entre as principais estratégias para assegurar
oferta de textos e autores a públicos visados e, ao mesmo tempo, difundir pelos diferentes territórios
da geografia cultural que promove aquilo que produz, os editores convidam renomados intelectuais
para organizar coleções de livros dentro de suas especialidades.
ANISIO TEIXEIRA E A CEN: O editor convida Teixeira para escolher, traduzir e realizar um estudo de introdução dos textos de
Dewey para o público brasileiro. Em contrapartida, Teixeira faz a negociação da liberação dos direitos de tradução dos textos
escolhidos, mobilizando suas relações com os professores da Universidade de Columbia, sobretudo Suzzallo, construídas durante
sua estada naquela instituição em 1927 (TOLEDO E CARVALHO, 2017). O próprio Teixeira comenta com Lobato o resultado de sua
visita a São Paulo para entrar na rede de relações aberta pelo amigo: “Trouxe duas ou três simpatias que talvez cresçam até
amizade, si cultivar. Lourenço Filho, uma delas. Estamos com o plano de publicarmos até março um volume sobre Dewey na sua
coleção de Educação. Fiquei encarregado disto. Talvez este fato nos conserve a aproximação” (Teixeira a Lobato, 27/12/1929, in
FRAIZ E VIANNA, 1986, p. 45).
ANISIO TEIXEIRA LOBISTA ? Pode-se dizer que, em relação à coleção de Fernando de Azevedo - na CEN -
o papel de Teixeira foi central. Na condição de Secretário da Educação do Distrito Federal (DF)
(1931-1935), Teixeira participou da Coleção Atualidades Pedagógicas como autor, tradutor e revisor. Seu
nome sai em vários volumes da Coleção. A Atualidades Pedagógicas edita o grupo de professores da
Columbia University das relações de Teixeira, como Paul Monroe. I.L. Kandel e Dewey. No entanto, essa
não foi a única forma de sua participação na Editora de Marcondes Ferreira. Teixeira teve papel central
nos vários negócios que a CEN fez com a Prefeitura do Distrito Federal, mas também com o grupo
político da militância educacional. A CEN publica em livro a “Reconstrução Educacional no Brasil: ao
povo e ao governo. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” 6 , logo em março de 1932, financiado
pelos signatários do documento.
Também publica os livros que difundiam os Programas da Escola Primária produzidos pela gestão
Teixeira do DF. A mesma Secretaria adquiriu livros infantis e livros para a formação de professores da
Editora (entre outras) para suas bibliotecas institucionais, além de fornecer, como mencionado, para a
Coleção de Azevedo autores e textos vinculados à reforma (TOLEDO, 2020; VIDAL, 2000).
CEN - LUGAR DE SOCIALIDADE INTELECTUAL COMERCIAL: A CEN se transforma em um dos lugares onde
se dão os encontros e onde projetos culturais vão se gestar. [...] A CEN vai incorporando toda uma rede
de intelectuais com afinidades políticas e culturais e faz circular suas representações nas coleções e
livros que edita. Se no início da editora Lobato é o epicentro dessa rede, fazendo as intermediações
entre os “irmãos” e Octalles, apresentando-os e pedindo para que o sócio os publique ou lhes dê
guarida na casa editora; os “irmãos” passam a se movimentar angariando novas conexões e ampliando
o alcance da ação editorial da Nacional. Por exemplo, Hermes Lima é apresentado por Teixeira a Lobato
em 19318 . Lima é logo incorporado à Editora, organizando uma coleção: a Biblioteca de Cultura Jurídica
e Social. A Editora reforça os laços de solidariedade entre os sujeitos da irmandade, inclusive nos
momentos de crise, transformando-se em porto seguro para os que dela precisassem.
VISÃO DO EDITOR PARA OS INTELECTUAIS DA ÉPOCA: Nessa direção, a atividade de editor, para os
próprios intelectuais do período, é avaliada como um hub importante em suas carreiras: era atividade
privada, independente de marés políticas; e lugar de prestígio e articulação de nomes, textos e
distribuição de capital (financeiro e cultural).
TEIXEIRA SAI DO SERVIÇO PÚBLICO: Teixeira deixa a Secretaria de Educação Cultura do DF para se
esconder de seus algozes em Ituaçu e Caetité. O conflito que desencadeou a demissão de Teixeira é
bem conhecido: logo após a Intentona Comunista (novembro de 1935), foi acusado de ser responsável
pelo comunismo na Prefeitura do DF e de americanizar a educação da cidade, sendo sua prisão exigida
por alguns (NUNES, 2000, p.488). Nessas condições, vai para Buenos Aires e depois para São Paulo
aguardando os desenlaces da reação de repressão do Estado (SÁ MOTTA, 2002). No final de abril,
pensando em se mudar para São Paulo, Teixeira confirma a Azevedo que ocupará espaço na CEN, dada
a falta de condições de se recolocar no serviço público: “Isso porém, não me impedirá de me fixar, por
enquanto, em São Paulo, para tentar ganhar a vida embora com trabalho particular. O nosso bom
Octalles promete prover-me do necessário para cobrir o mínimo mensal de Despesas”
O acervo da Companhia Editora Nacional: negociação, organização e potencial para a pesquisa histórica. Fontes, RODRIGUES, Jaime; MIRANDA, Marcia Eckert; TOLEDO, Maria Rita de Almeida. n. 3 / 2015-2 / pp. 61-69.