Helio Santos, um dos maiores expoentes nacionais da luta contra o racismo, doutor em Economia e presidente do Instituto Brasileiro de Diversidade, produziu vasto e respeitável material bibliográfico sobre a questão das relações raciais em nosso país. Sua visão lúcida a respeito dessa questão acha-se bem representada na obra A busca de um caminho para o Brasil. A trilha do círculo vicioso (São Paulo: SENAC, 2001). Trata-se de um texto de compreensão possível para os mais diversos públicos, pois o autor não quis restringir apenas ao mundo acadêmico os seus conhecimentos.
Partindo da constatação de que a desigualdade social no Brasil se explica pela desigualdade racial, Helio retoma a questão da identidade nacional e nos convida a acompanhá-lo numa incursão pela complexa realidade brasileira. Para melhor análise do quadro socioeconômico brasileiro, o autor formula uma teoria à qual denomina “trilha do círculo vicioso”, cujas principais características estão descritas a seguir. A dinâmica das relações sociais, caracterizada por complexos processos de inclusão/exclusão, determina um jogo cujos perdedores e vencedores têm cartas marcadas: aprisionados num inteligente circuito de exclusão para o qual concorrem agências educacionais, de trabalho, de comunicação, de saúde, todas elas apoiadas em representações sociais negativamente estereotipadas da África, dos africanos e de seus descendentes e impostas para serem compartilhadas por brancos e negros, os afrodescendentes encontram poucas chances - quando encontram - de inserção sócio-político-econômica e de (re)construção de uma autoimagem positiva que lhes possibilite experimentar sentimentos de autoestima elevada. As forças que agem nessa “trilha” são mais facilmente compreendidas se observamos atentamente o gráfico apresentado na obra citada, e abaixo reproduzido.
Chamamos a atenção para o fato de que as identidades individuais, em contínua metamorfose, sofrem o impacto, igualmente contínuo, das forças assinaladas no quadro acima. Como constituir identidades negras positivamente afirmadas em tais circunstâncias? Essa é uma pergunta que demanda resposta por parte de cada um de nós. No campo educacional encontram-se formidáveis potenciais de ação. Daí, a importância do debate amplo, geral e irrestrito nesse campo.
A partir desses dados, considere as afirmativas a seguir:
I. Um debate - amplo, geral e irrestrito - sobre relações étnico-raciais não é necessário num país como o Brasil, onde todos os segmentos populacionais são igualmente beneficiados pelas políticas públicas.
II. O racismo no Brasil assemelha-se a uma centopeia de duas cabeças, para usar uma expressão de Helio Santos: além da conjuntura externa desfavorável, o afrodescendente compartilha de representações negativas inscritas no imaginário coletivo.
III. O processo contínuo de sujeição a um bombardeio de imagens negativas de tudo o que se refere à África e o entorpecimento da consciência, determina que brancos e não brancos interiorizem como “naturais” esses estímulos.
IV. Com pouca ou nenhuma possibilidade de (re) conhecimento dos valores tradicionais de seu povo de origem, os afrodescendentes veem-se na condição de desenvolver a própria identidade a partir de modelos ideais-de-ego brancos, de realização impossível dada a condição biológica e de realização indesejável por implicar em afastamento e negação da riqueza e da beleza da cultura de origem.
V. Às implicações do rebaixamento da autoestima nas esferas de poder econômico, político e social têm sido dada importância inferior à merecida: autoestima rebaixada e autoimagem negativa inibem qualquer movimento reivindicatório, seja no âmbito intelectual, seja no afetivo.
VI. O esquema gráfico traçado por Santos oferece uma visão sistêmica do problema e possibilita constatar o fato de que transformações nas relações raciais brasileiras demandam ação afirmativa em muitos campos, entre os quais o da educação, da comunicação social e do mercado de trabalho.
Estarão corretas todas as afirmativas anteriores? Pondere e a seguir assinale a alternativa correta:
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