[MARINGÁ, 2009]
Cão! Cão! Cão!
Abriu a porta e viu o amigo que há tanto não via. Estranhou apenas que ele, amigo, viesse acompanhado por um cão. Cão não muito grande mas bastante forte, de raça indefinida, com toda efusão. “Quanto tempo!”. O cão aproveitou as saudações, se embarafustou casa adentro e logo o barulho na cozinha demonstrava que ele tinha quebrado alguma coisa. O dono da casa encompridou um pouco as orelhas, o amigo visitante fez um ar de que a coisa não era com ele. “Ora, veja você, a última vez que nos vimos foi...” “Não, foi depois, na...” “E você, casou também?”. O cão passou pela sala, o tempo passou pela conversa, o cão entrou pelo quarto e novo barulho de coisa quebrada. Houve um sorriso amarelo por parte do dono da casa, mas perfeita indiferença por parte do visitante. “Quem morreu definitivamente foi o tio... Você se lembra dele?” “Lembro, ora era o que mais... não” O cão saltou sobre um móvel, derrubou o abajur, logo trepou com as patas sujas no sofá (o tempo passando) e deixou lá marcas digitais de sua animalidade. Os dois amigos, tensos, agora preferiam não tomar conhecimento do dogue. E, por fim, o visitante se foi. Se despediu, efusivo como chegara, e se foi. Mas ainda ia indo, quando o dono da casa perguntou: “Não vai levar o seu cão?” “Cão? Cão? Cão? Ah, não! Não é meu, não. Quando eu entrei, ele entrou naturalmente comigo e eu pensei que fosse seu. Não é seu, não?”
Moral: Quando notamos certos defeitos nos amigos, devemos sempre ter uma conversa esclarecedora.
(FENANDES, Millôr. Literatura comentada. São Paulo, abril de 1980)
De acordo com o texto assinale a alternativa correta:
I - O dono da casa fingia ignorar a presença do cão por educação e hospitalidade;
II - O emprego das reticências nas falas dos amigos reforça o nervosismo entre os dois, por causa do cão;
III - O que caracteriza o cão como um vira-lata é que ele não é muito grande mas bastante forte e de raça definida.
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