Um erudito historiador baiano escreveu, em 1844, um libelo contra a deslealdade da Inglaterra que, afetando ser amiga da nova nação brasileira, agia em nosso desfavor impedindo que a lavoura recebesse a preciosa mão de obra africana. Trata-se do Dr. A. J. Mello Moraes e do seu opúsculo: A Inglaterra e seos tractados. 4Memoria, na qual previamente se demonstra que a Inglaterra não tem sido leal até o presente no cumprimento dos seus tractados. Aos Srs. deputados geraes da futura sessão legislativa de 1845. Volta aí a indefectível comparação: "Um inglês trata cem vezes pior um criado branco e seu igual do que nós a um dos nossos escravos". A proposta de Mello Moraes é simples e drástica: o gabinete inglês "ou há de abandonar as suas colônias, por não haver gêneros coloniais para consumo, ou, se as quiser possuir, há de admitir a escravidão". Postulada a íntima relação entre produtos coloniais e cativeiro, 1nexo historicamente instituído e consolidado por três séculos, 5o bravo defensor da nossa lavoura exorta os deputados
gerais, em campanha eleitoral, a cortar as amarras que ligavam o governo imperial ao britânico: 9 "O Brasil para ser feliz não tem necessidade de tratados com nação alguma, pois basta somente proteger a agricultura, animar a indústria manufatureira, libertar o comércio, e franquear seus portos ao mundo inteiro. O Brasil não precisa dos favores da Inglaterra". Poucas linhas atrás, Mello Moraes via com esperança o aumento das 8nossas exportações de café para os Estados Unidos. O espírito de 1808, que rompera com o monopólio português, demandava agora seu pleno desdobramento. Nada de entraves. Na esteira do processo de integração pós-colonial dos países latino-americanos, o Brasil
deveria realizar o princípio mais geral do sistema dando o maior raio possível de ação, legal ou ilegal, a quem de direito: ao senhor do café, ao senhor de engenho e aos seus agenciadores da força de trabalho, os traficantes. Para a classe dominante o óbice maior não vinha, então, do nosso Estado constitucional, que representava o latifúndio e dele se servia: o obstáculo era interposto pela nova matriz internacional, o novo exclusivo, a Inglaterra. Entende-se a reivindicação do mais desbridado laissez-faire; entende-se a hostilidade que despertava entre os proprietários o controle da 7sua nação por um Estado estrangeiro. Mas como o denominador ideológico comum era o liberalismo econômico, que conhece na época a sua fase áurea, só restava à retórica escravista uma saída para o impasse: mostrar que as ideias mestras da doutrina clássica, porque justas, deveriam aplicar-se com justeza às circunstâncias, às peculiaridades nacionais.
(Alfredo Bosi. Dialética da Colonização. 3ª ed. São Paulo: Cia. das Letras, 1992, p. 209-210).
Na referência 7, nota-se o pronome possessivo SUA, que se opõe ao pronome NOSSAS (ref.8). Esse uso de SUA, no texto, é um recurso do autor para demonstrar que os proprietários:
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