As 3 Tricotomias de Peirce
Quando aplicou os fundamentos da fenomenologia no signo semiótico, Peirce definiu três tricotomias, cada uma ligada a uma ponta do signo:
Tricotomia do Representamen (ou do Signo em si) : quali-signo, sin-signo e legi-signo;
Tricotomia do Objeto: ícone, índice e símbolo;
Tricotomia do Interpretante: rema, dicente e argumento
É a partir das tricotomias que faz-se a análise de todo e qualquer signo. Assim, a semiótica não se limita somente naquilo que é signo, mas também inclui os quase-signos de primeiridade ou secundidade (SANTAELLA, 2005).
1. Tricotomia do Representamen (ou do Signo em si)
A Tricotomia do Signo em si pode ser compreendida quando se questiona o que dá fundamento ao signo. Uma qualidade pode ser um signo, algo que existe pode ser um signo e tudo que é lei, é signo. O primeiro pé dessa teoria explica que qualidades tem a capacidade de representar algo. Uma cor, por exemplo. Quando pensamos na cor preta simplesmente na sua qualidade de ser, várias associações surgem a mente como “escuridão”, “luto”, “noite”, etc. Esse poder de sugerir ideias a torna um quali-signo. O segundo pé define que o fato de existir pode funcionar como signo, porque um existente aponta para vários outros. Toma-se como exemplo você leitor. Sua pessoa emite várias referências como o jeito de se vestir, de falar, de olhar, de andar. Sua pessoa sugere várias coisas apenas pela sua existência e essa capacidade te faz signo, um sin-signo. “Sin” deriva de “singular”. E quando esse singular toma um lugar coletivo? Ele se torna uma lei. Uma lei é uma abstração que opera em casos singulares. Ou seja, a lei surge em situações que ocorrem de acordo com ela. Ela representa e é, então, signo. Como exemplo temos as palavras (que estão dentro do sistema da língua), as convenções sociais e as leis do direito. Tem-se o legi-signo. (SANTAELLA, 2005)
2. Tricotomia do Objeto
A Tricotomia do Objeto trata da maneira como o signo sugere, indica ou representa algo. Para facilitar o entendimento, deve-se estar consciente de duas informações:
Sugerir, indicar e representar são características diferentes em intensidade. A sugestão é mais leve que a indicação, essa, por sua vez, é mais leve que a representação.
O objeto é formado pelo objeto dinâmico e pelo objeto imediato. O objeto dinâmico é a fração mais completa do objeto, que engloba o que ele é, é o seu contexto. Enquanto o objeto imediato é o recorte, é a forma como o signo sugere, indica ou representa aquilo a que ele se refere. Se chama “imediato” porque só temos acesso ao objeto dinâmico através dele, é o mediador. (SANTAELLA, 2005). Por exemplo, tendo dois livros diferentes de um conto de fadas, os dois têm como objeto dinâmico uma história de fantasia “x” e como objeto imediato a forma de contar essa história, nas imagens escolhidas, no uso da linguagem, na capa e em outros elementos que os diferenciam.
A partir dessa definição do que é o objeto em sua totalidade, Peirce aborda a tricotomia em ícone, índice e símbolo. “O objeto imediato do ícone sugere o seu objeto dinâmico. O objeto imediato do índice indica seu objeto dinâmico. E o objeto imediato de um símbolo representa o seu objeto dinâmico” (SANTAELLA, 2005).
O ícone tem caráter descritivo e abstrativo. Ele é um símbolo que tem como fundamento um quali-signo, pois ele sugere ou evoca seu objeto por similaridade. O ícone não indica ou representa algo, e justamente por isso, ele fica aberto para despertar uma infinidade de cadeias associativas. Por exemplo, a nuvem num céu aberto é um ícone quando imaginamos o desenho que ela pode formar. Quando se trata do índice, há no seu fundamento uma existência concreta. Ele tem caráter designativo, ou seja, dirige a mente do intérprete ao seu objeto dinâmico, de caráter concreto. Pode ser uma ocorrência, uma coisa existente ou um fato. Como exemplos têm-se as fotografias, casos de fumaça que indicam fogo ou de um chão molhado pela chuva. O símbolo tem caráter de convenção, de representar através da lei. Ele é definido pelo coletivo. Os exemplos de símbolos simples são as bandeiras, os brasões e os logos. O crucifixo no Cristianismo é também um símbolo, assim como os padrões das convenções sociais. Esse texto, por exemplo, é um símbolo: ele representa parte da pesquisa feita sobre a semiótica de Peirce. O símbolo representa parte, pois o todo que o define é muito extenso. O acesso ao todo é feito pelas “experiências colaterais”, como define Peirce, que são as nossas buscas por mais partes desse todo, que aumenta o grau de intimidade com o mesmo. (SANTAELLA, 2005). Por isso, como já citado, a semiótica não traz conhecimentos específicos, ela depende do repertório do interpretante.
3. Tricotomia do Interpretante (MELHORAR)
A tricotomia do interpretante propõe o caminho de significação feito pela pessoa que entra em contato com o signo. A rema é primeira sensação do signo, nas suas qualidades, para se perguntar "o que é?". A fase dicente é o levantamento das hipóteses sobre esse signo. E o argumento é comprovação e fundamentação dessas hipóteses. Essa tricotomia é o traço que fazemos ao entrar em contato com qualquer signo, procuramos elementos básicos e suficientes para atingir uma definição. Por isso que a contemplação não é tão comum, pois o fato de significar as coisas em nossas tarefas objetivas e repetitivas acaba criando um vício. A contemplação exige concentracão e limpeza dos pensamentos, pois ela vai se ater muito tempo na primeiridade, na rema, com finalidade de preencher muito mais a dicente e o argumento. O exercício da semiótica tem com fruto esse aprimoramento da contemplação, de busca por mais hipóteses e então, mais de uma resposta.