Hiperalgesia na região interna da
coxa direita. Máxima intensidade.
Dificuldade para andar
Caminhava com o tronco inclinado
para frente, mas sem apoio.
Pronto cansaço
ao ficar de pé.
"O neurastênico*, ao descrever suas dores, dá a impressão de estar ocupado com um
difícil trabalho intelectual que ultrapassa suas forças. Seus traços fisionômicos são
tensos e contorcidos, como sob o domínio de um penoso afeto, sua voz torna-se mais
estridente, luta em busca de expressão, rejeita cada designação que o médico lhe
sugere para suas dores, mesmo quando, mais tarde, essa se revela indubitavelmente
apropriada; ele é evidentemente da opinião de que a língua é pobre demais para
emprestar palavras a suas sensações, elas próprias seriam algo de único, de ainda não
existente, que não se poderia de modo nenhum descrever exaustivamente e por isso
também não se cansa de acrescentar sempre novos detalhes e, quando tem que se
interromper, domina-o certamente a impressão de que não conseguiu se fazer
compreender pelo médico. Isso advém de que suas dores atraíram sobre si toda sua
atenção." (p. 196)
"Na srta. v. R., o comportamento era oposto, e como, não
obstante, ela conferia bastante significado às dores, era
preciso deduzir que sua atenção se detinha em alguma outra
coisa da qual as dores eram apenas um fenômeno acessório;
provavelmente, portanto, em pensamentos e sensações
relacionados a elas."
*Neurastênico: hipocondríaco,
afetado por neurose de
angústia.
"... quando se beliscava ou se pressionava a pele e a musculatura hiperálgica das
pernas, seu rosto tomava uma expressão peculiar, mais de prazer que de dor, ela
soltava gritos, seu rosto se enrubescia, ela jogava a cabeça para trás, cerrava os
olhos, o tronco se curvava para trás, e tudo isso não era muito grosseiro, mas sim
bastante nítio, e só podia se harmonizar com a concepção de que o distúrbio era
uma histeria e a excitação teria atingido uma zona histérica.
A fisionomia não sintonizava com a dor que o
beliscar supostamente provocava, decerto se
afinava melhor com o conteúdo dos pensamentos
que se ocultavam por trás dessa dor, despertados
na doente pela excitação das regiões do corpo a
eles associadas.
"Nenhuma técnica particular é necessária para que a
doente reproduza a história de sua doença, o interesse
que lhe testemunhamos, a compreensão que a fazemos
sentir, a esperança de cura que lhe damos vão decidi-la a
renunciar a seu segredo." (p 199)
1ª análise completa de uma histeria.
Freud prescindiu da hipnose e chegou a um
procedimento que mais tarde elevou a método e
empregou deliberadamente, um procedimento de
remoção do material psíquico patogênico por
camadas, que gostava de comparar à técnica de
escavação de uma cidade soterrada.
"Primeiramente, fazia com que a doente me contasse o que sabia e reparava
cuidadosamente onde uma conexão permanecia enigmática, onde parecia
faltar um elo na cadeia causal; depois penetrava em camadas mais profundas
da lembrança, fazendo agir naquele lugar a investigação hipnótica ou uma
técnica similar. O pressuposto de todo o trabalho era naturalmente a
expectativa de que uma determinação perfeitamente suficiente se
verificasse." (p. 200)
"Mas continuo me
sentindo mal, tenho as
mesmas dores de antes"
(p. 208)
1ª vez que Freud menciona o fenômeno
clínico da resistência:
"Durante esse difícil trabalho, comecei a atribuir uma significação
mais profunda à RESISTÊNCIA que a doente mostrava na
reprodução de suas lembranças e a reunir com cuidado as
ocasiões em que ela se traía de modo particularmente evidente."
(p. 222)
"Agora ele está livre outra
vez e posso me tornar sua
mulher" (p. 225)
Ideia
intolerável
Os sintomas são uma DEFESA contra uma ideia
intolerável. Sua gênese é por conversão da
excitação psíquica em algo físico. Formação de um
grupo psíquico separado mediante o ato de
vontade que leva à defesa.
"Ela recalcou de sua consciência a ideia erótica e
converteu a grandeza afetiva desta em sensação
de dor sintomática." (p. 236)
Conversão histérica
A conversão é um processo que ocorre no
indivíduo sob o impulso do motivo da defesa.
O que se converte em dor corporal é algo que
poderia e deveria ter se tornado dor psíquica.
A consciência não sabe antecipadamente
quando uma ideia intolerável surgirá. A
ideia intolerável que mais tarde é excluída,
junto com seu acompanhamento, para
formar um grupo psíquico separado,
precisa ter sido inicialmente admitida no
trânsito dos pensamentos, do contrário
não se teria produzido o conflito que levou
à sua exclusão. (p. 240)
Momentos traumáticos: neles houve a
conversão cujos resultados são a cisão da
consciência e o sintoma histérico.
A multiplicidade desses momentos traumáticos torna-se
possível pelo fato de que um episódio similar àquele que
primeiro introduziu a ideia intolerável leva nova excitação
ao grupo psíquico separado e assim suspende
temporariamente o êxito da conversão. O Eu tem que se
ocupar dessa ideia subitamente fulgurante e restabelecer
o estado anterior mediante nova conversão.
As dores - produto da conversão - não surgiram enquanto a doente vivia as impressões
do primeiro período, mas sim posteriormente, ou seja, no segundo período, quando a
doente reproduzia essas impressões em seus pensamentos.
A conversão não ocorreu por ocasião das impressões frescas,
mas quando de suas lembranças.
A conversão pode se efetua tanto de
afeto recente como de afeto recordado.
Ligação associativa entre dor física e afeto psíquico: Onde não há ligação tão
abundante, ali não se forma nenhum sintoma histérico, ali a conversão não
encontra nenhum caminho. (p. 252)
CONVERSÃO POR SIMBOLIZAÇÃO
Sra. Cäcilie M... (p. 252 - 260)
Quando a histérica cria por simbolização uma expressão somática para a ideia impregnada de afeto, há nisso menos de individual e voluntário
do que se poderia pensar. Ao tomar a expressão linguística literalmente e sentir a "pontada no coração" ou o "golpe na face" como um
acontecimento real, por palavras ofensivas que ouviu, ela não faz um mau uso engenhoso, apenas reaviva as sensações às quais a expressão
linguística deve sua justificação. [...] Todas essas sensações e inervações pertencem à "expressão das emoções" que, como Darwin no sensinou,
consiste em ações originalmente cheias de sentido e adequadas a um fim. Na maioria das vezes, elas podem estar tão atenuadas no presente
que sua expressão linguística nos parece transposição figurada. É muito provável, no entanto, que tudo isso tenha tido um dia significado
literal, ea histeria age acertadamente quando restabelece para suas inervações mais intensas o sentido original da palavra. (p. 259, 260)