Autismo: Transtornos Invasivos do Desenvolvimento

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Felipe  Borges
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Autismo: Transtornos Invasivos do Desenvolvimento
  1. Como é definido?
    1. Trata-se de um complexo do desenvolvimento, definido de um ponto de vista comportamental com etiologias múltiplas que se manifesta em graus variados de gravidade. Essa definição é um sinônimo para Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) e Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e não somente como Transtorno Autista (TA).
    2. Epistemologia
      1. É uma condição que se manifesta de forma universal em qualquer região geográfica, independente de etnia, classe social ou cultural.
      2. Avaliação diagnóstica
        1. Crianças com suspeita de Autismo estão sujeitas à observação de seus comportamentos desviantes em comparação com àqueles presentes no curso normal do desenvolvimento infantil, em especial nas dimensões de orientação e comunicação social. Enquanto no desenvolvimento típico a voz e o rosto humanos representam para a criança estímulos extremamente poderosos para o engajamento social, no Autismo esse comportamento tende a não ocorrer de forma espontânea; inclusive a ausência do mesmo tem sido considerada um importante preditor de Autismo em crianças de 2 anos.
          1. Os comportamentos de orientação para voz e rosto humanos ocorrem em um ambiente socioafetivo de comunicação; e nesse contexto se evidenciam os déficits do autismo, o que contrasta com a extrema sensibilidade e reatividade observada em crianças com desenvolvimento típico. Já as crianças com autismo tendem a se orientar preferencialmente para objetos inanimados, priorizando estímulos sensoriais e estéticos aos afetivos. Um estudo mostrou que crianças com autismo tendem a classificar fotos de pessoas considerando o tipo de chapéu usado e não a expressão facial, a idade ou gênero.
            1. Crianças com autismo, em todas as faixas etárias, tendem a apresentar graus variados de dificuldades na sintonia e no engajamento emocional em ações sociais. Definido como comportamento de alternância de olhar entre a mãe e um objeto de seu interesse, acompanhado do ato de apontar, a habilidade de atenção compartilhada tem sido considerada precursora da capacidade simbólica e da linguagem, permitindo diferenciar crianças com autismo de crianças com outros tipos de transtorno do desenvolvimento.
              1. Entre os déficits nas habilidades de atenção compartilhada no autismo, o apontar protoimperativo – quando a criança quer algo que lhe seja alcançado – encontra-se mais preservado que o apontar protodeclarativo – aquele em que aponta para compartilhar o interesse em um objeto ou evento. A habilidade de atenção compartilhada no autismo envolve um déficit específico mais nos comportamentos em que a criança toma a iniciativa. Já os comprometimentos da comunicação implicam habilidades verbais e não verbais.
                1. Enquanto uma parcela das crianças autistas nunca chega a desenvolver a fala, outras têm uma forma imatura de linguagem, caracterizada por jargões, estereotipias, trocas pronominais, alterações da prosódia ou entonação anormal. Os déficits da fala tendem a permanecer até a vida adulta. Porém, a dificuldade maior se revela na reciprocidade, ou seja, na habilidade de iniciar e manter uma conversa social. As habilidades de teoria da mente envolvem a capacidade de atribuir estados mentais, como crenças, intenções e motivações a outros e, depois, predizer seus comportamentos com base nesses estados internos. Enquanto essa habilidade deve estar presente na criança com desenvolvimento típico por volta dos 3 anos, aquelas com autismo tendem a apresentar um desvio ou um atraso que acarreta déficits no comportamento social como um todo, inclusive no uso da linguagem.
                  1. Pessoas com autismo apresentam comportamentos restritos, repetitivos e estereotipados de atividades e interesses. Nas crianças que desenvolveram a linguagem, observam-se interesse e preocupação limitados em uma ou duas áreas de interesse, dificultando o uso do conhecimento linguístico para fins sociais. Crianças menores tendem a manifestar rigidez e pouca criatividade nas brincadeiras, enfileirando, alinhando ou girando objetos sempre da mesma forma. Há as vezes, resistência a mudanças na rotina pessoal e/ou na disposição de objetos a sua volta.
                  2. Classificação (DSM – IV)
                    1. Os TGD's se caracterizam em 3 áreas do desenvolvimento: habilidades de interação social recíproca, habilidades de comunicação e incidência de comportamentos, interesses e atividades estereotipadas.
                    2. Etiologia
                      1. O autismo é um dos transtornos de maior hereditariedade (em torno de 90%), com prevalência quatro vezes maior em meninos do que em meninas. O mecanismo para a expressão da síndrome é complexo e ainda desconhecido. A associação do autismo com outras condições clinicas tem apoiado as hipóteses neurobiológicas desse transtorno. Entre outras condições potencialmente associadas ao autismo estão doenças infecciosas, metabólicas e genéticas.
                      2. Curso e Prognóstico
                        1. Os princípios de reforço podem integrar o tratamento através de diversas técnicas aplicadas, como a comunicação facilitada. Além das intervenções psicoeducacionais, de base comportamental, também existem abordagens com foco no desenvolvimento da criança. Com a intervenção dos pais ou terapeutas, esses tratamentos procuram retomar a sequência do desenvolvimento típico inicial, de modo a maximizar as condutas intencionais e socioafetivas da criança. Apesar de o tratamento farmacológico não disponibilizar medicação específica para os principais sintomas do autismo, ele minimiza a intensidade dos sintomas-alvo.
                          1. Determinados sintomas comportamentais como agressividade, comportamento autolesivo, rituais compulsivos e hiperatividade podem se apresentar de forma exacerbada e dificultar a integração social e o acesso a serviços de apoio para a criança com autismo. Nesses casos a intervenção farmacológica auxilia na estabilização clínica. É difícil predizer quais pacientes responderão bem a qual medicamento, ocasionando inevitavelmente a ocorrência de efeitos colaterais indesejados.
                            1. É importante que os pais, como principais responsáveis, sejam acompanhados e informados sobre essas possibilidades. O apoio dos familiares tem se mostrado essencial na busca de melhorias para a criança com autismo. As preocupações dos pais sobre os comprometimentos específico do filho e o curso do desenvolvimento futuro contribuem para um aumento do estresse familiar, o que afeta o desenvolvimento da criança.
                            2. Tratamento
                              1. O tratamento para crianças com autismo e/ou retardo mental concentra-se em: 1) déficits de linguagem, habilidades sociais e de comportamentos adaptativos e 2) excesso de comportamentos mal adaptativos como agressão, autolesão e autoestimulação. O autismo deve ser tratado como uma doença global, por meio de mediação. Os profissionais clínicos dividem-no em problemas separados e tratam-nos, então, separadamente com terapia comportamental. Nessa população, melhorar os problemas de linguagem é a maior prioridade. A terapia pode envolver modelagem ou reforço de aproximações sucessivas à resposta desejada.
                              2. Avaliação: Autismo X Retardo Mental
                                1. A característica essencial do transtorno autista é “a presença de um desenvolvimento acentuadamente inadequado ou prejudicado nas interações sociais e na comunicação e um repertório acentuadamente restrito de atividades e interesses”. Para que o autismo possa ser diagnosticado, as crianças devem apresentar atraso no funcionamento normal ou funcionamento inadequado antes dos três anos. A extensão desses atrasos pode, entretanto, variar consideravelmente. Além disso, as áreas social, comunicativa e comportamental de funcionamento devem estar muito prejudicadas. Os contatos físicos e sociais podem ser aversivos para muitas das crianças com autismo.
                                  1. Para ser diagnosticado o transtorno deve se manifestar antes dos 18 anos. O retardo mental envolve geralmente déficits em muitas áreas de funcionamento, enquanto o autismo inclui déficits em somente algumas áreas, mas não em outras. Há instrumentos mais específicos para a avaliação do autismo, compostos por questões como: Relacionamento com pessoas: a criança está quase sempre alheia ou desligada do que os adultos estão fazendo. Uso do corpo: comportamentos que são nitidamente estranhos ou incomuns para crianças desta idade podem ser: movimentos estranhos dos dedos, posturas peculiares dos dedos ou do corpo, olhar fixo, etc. Adaptação à mudança: a criança apresenta reações fortes a mudanças. Comunicação verbal: não faz discursos com significado. Comunicação não verbal: a criança faz gestos bizarros ou peculiares que aparentemente não têm significado e não mostra conhecer os significados associados aos gestos ou às expressões faciais dos outros.
                                    1. A maioria dessas crianças tem muita dificuldade em iniciar ou manter uma conversa com os outros, e a linguagem é muitas vezes estranha ou difícil de entender. A característica essencial do retardo mental é um funcionamento intelectual geral significativamente inferior à média, acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais e interpessoais, uso dos recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas funcionais, trabalho, lazer, saúde e segurança.
                                    2. Aspectos do desenvolvimento
                                      1. Existem alguns bons indicadores sobre a possibilidade de a criança com autismo vir ou não a ter resultados favoráveis de longo prazo. Eles são a média de inteligência e a aquisição de um pouco de linguagem antes dos 5 anos. Além disso (frequentar) serviços de educação também estão associados a um prognóstico melhor para o autismo. O desenvolvimento, em comorbidade, de sintomas de outros transtornos mentais e outras doenças médicas é comum no autismo. A condição de comorbidade médica que mais prevalece é a epilepsia. Alguns sintomas mentais em comorbidade são a hiperatividade, oscilações de humor, afeto inadequado e comportamentos de oposição.
                                        1. O percurso de desenvolvimento de crianças com retardo mental está intimamente relacionado aos níveis de funcionamento cognitivo. Tais níveis permanecem estáveis ao longo do tempo, mesmo durante a infância e a adolescência. Crianças com retardo mental moderado, severo ou profundo tendem a apresentar um desenvolvimento cognitivo estável ou ruim. Observa-se também maior deficiência à medida que o indivíduo cresce. Muitas crianças com retardo mental desenvolvem gradualmente habilidades de comportamento adaptativo, mas isso depende muito do nível de déficit mental.
                                        2. Fatores de risco e variáveis mantenedoras
                                          1. A etiologia do autismo não é completamente conhecida, mas, em razão do aspecto invasivo do transtorno e do fato de aparecer em idade mais precoce, as variáveis biológicas são as que mais despertam suspeitas. Essa é a hipótese de “via final comum”, segundo a qual, fatores diferentes, como a genética, desenvolvimento cerebral deficitário e alto nível de serotonina interagem de diferentes maneiras em diferentes crianças com autismo. Todos esses fatores levam ao mesmo resultado ou ao mesmo tipo de disfunção cerebral, que, por sua vez, leva ao autismo.
                                            1. As causas do retardo mental envolvem uma grande mistura de variáveis biológicas e ambientais. As variáveis biológicas durante o período de gestação afetam, muitas vezes, o desenvolvimento do cérebro. Os fatores extrínsecos incomuns também podem levar ao retardo mental, entre eles, a falta prolongada de oxigênio, trauma cerebral e envenenamento. Os indivíduos com retardo familiar tendem a apresentar leves déficits cognitivos, experiências educacionais deficitárias, nível socioeconômico baixo e/ou pais que se utilizam de práticas de educação inadequadas.
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