Trata-se de um complexo do desenvolvimento, definido de um ponto de vista comportamental
com etiologias múltiplas que se manifesta em graus variados de gravidade. Essa definição é um
sinônimo para Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) e Transtorno do Espectro do Autismo
(TEA) e não somente como Transtorno Autista (TA).
Epistemologia
É uma condição que se manifesta de forma
universal em qualquer região geográfica, independente de
etnia, classe social ou cultural.
Avaliação diagnóstica
Crianças com suspeita de Autismo estão sujeitas à observação de seus
comportamentos desviantes em comparação com àqueles presentes no curso normal do
desenvolvimento infantil, em especial nas dimensões de orientação e comunicação social. Enquanto
no desenvolvimento típico a voz e o rosto humanos representam para a criança estímulos
extremamente poderosos para o engajamento social, no Autismo esse comportamento tende a não
ocorrer de forma espontânea; inclusive a ausência do mesmo tem sido considerada um importante
preditor de Autismo em crianças de 2 anos.
Os comportamentos de orientação para voz e rosto humanos ocorrem em um ambiente socioafetivo
de comunicação; e nesse contexto se evidenciam os déficits do autismo, o que contrasta com a
extrema sensibilidade e reatividade observada em crianças com desenvolvimento típico. Já as
crianças com autismo tendem a se orientar preferencialmente para objetos inanimados, priorizando
estímulos sensoriais e estéticos aos afetivos. Um estudo mostrou que crianças com autismo tendem
a classificar fotos de pessoas considerando o tipo de chapéu usado e não a expressão facial, a idade
ou gênero.
Crianças com autismo, em todas as faixas etárias, tendem a apresentar graus variados de
dificuldades na sintonia e no engajamento emocional em ações sociais. Definido como
comportamento de alternância de olhar entre a mãe e um objeto de seu interesse, acompanhado do
ato de apontar, a habilidade de atenção compartilhada tem sido considerada precursora da
capacidade simbólica e da linguagem, permitindo diferenciar crianças com autismo de crianças com
outros tipos de transtorno do desenvolvimento.
Entre os déficits nas habilidades de atenção compartilhada no autismo, o apontar protoimperativo –
quando a criança quer algo que lhe seja alcançado – encontra-se mais preservado que o apontar
protodeclarativo – aquele em que aponta para compartilhar o interesse em um objeto ou evento. A
habilidade de atenção compartilhada no autismo envolve um déficit específico mais nos
comportamentos em que a criança toma a iniciativa. Já os comprometimentos da comunicação
implicam habilidades verbais e não verbais.
Enquanto uma parcela das crianças autistas nunca chega a desenvolver a fala, outras têm uma
forma imatura de linguagem, caracterizada por jargões, estereotipias, trocas pronominais, alterações
da prosódia ou entonação anormal. Os déficits da fala tendem a permanecer até a vida adulta.
Porém, a dificuldade maior se revela na reciprocidade, ou seja, na habilidade de iniciar e manter uma
conversa social. As habilidades de teoria da mente envolvem a capacidade de atribuir estados
mentais, como crenças, intenções e motivações a outros e, depois, predizer seus comportamentos
com base nesses estados internos. Enquanto essa habilidade deve estar presente na criança com
desenvolvimento típico por volta dos 3 anos, aquelas com autismo tendem a apresentar um desvio
ou um atraso que acarreta déficits no comportamento social como um todo, inclusive no uso da
linguagem.
Pessoas com autismo apresentam comportamentos restritos, repetitivos e estereotipados de
atividades e interesses. Nas crianças que desenvolveram a linguagem, observam-se interesse e
preocupação limitados em uma ou duas áreas de interesse, dificultando o uso do conhecimento
linguístico para fins sociais. Crianças menores tendem a manifestar rigidez e pouca criatividade nas
brincadeiras, enfileirando, alinhando ou girando objetos sempre da mesma forma. Há as vezes,
resistência a mudanças na rotina pessoal e/ou na disposição de objetos a sua volta.
Classificação (DSM – IV)
Os TGD's se caracterizam em 3 áreas do desenvolvimento: habilidades de
interação social recíproca, habilidades de comunicação e incidência de
comportamentos, interesses e atividades estereotipadas.
Etiologia
O autismo é um dos transtornos de maior hereditariedade (em torno de 90%), com prevalência
quatro vezes maior em meninos do que em meninas. O mecanismo para a expressão da síndrome é
complexo e ainda desconhecido. A associação do autismo com outras condições clinicas tem apoiado
as hipóteses neurobiológicas desse transtorno. Entre outras condições potencialmente associadas ao
autismo estão doenças infecciosas, metabólicas e genéticas.
Curso e Prognóstico
Os princípios de reforço podem integrar o tratamento através de diversas técnicas aplicadas, como a
comunicação facilitada. Além das intervenções psicoeducacionais, de base comportamental,
também existem abordagens com foco no desenvolvimento da criança. Com a intervenção dos pais
ou terapeutas, esses tratamentos procuram retomar a sequência do desenvolvimento típico inicial,
de modo a maximizar as condutas intencionais e socioafetivas da criança. Apesar de o tratamento
farmacológico não disponibilizar medicação específica para os principais sintomas do autismo, ele
minimiza a intensidade dos sintomas-alvo.
Determinados sintomas comportamentais como agressividade, comportamento autolesivo, rituais
compulsivos e hiperatividade podem se apresentar de forma exacerbada e dificultar a integração
social e o acesso a serviços de apoio para a criança com autismo. Nesses casos a intervenção
farmacológica auxilia na estabilização clínica. É difícil predizer quais pacientes responderão bem a
qual medicamento, ocasionando inevitavelmente a ocorrência de efeitos colaterais indesejados.
É importante que os pais, como principais responsáveis, sejam acompanhados e informados sobre
essas possibilidades. O apoio dos familiares tem se mostrado essencial na busca de melhorias para a
criança com autismo. As preocupações dos pais sobre os comprometimentos específico do filho e o
curso do desenvolvimento futuro contribuem para um aumento do estresse familiar, o que afeta o
desenvolvimento da criança.
Tratamento
O tratamento para crianças com autismo e/ou retardo mental concentra-se em: 1) déficits de
linguagem, habilidades sociais e de comportamentos adaptativos e 2) excesso de comportamentos
mal adaptativos como agressão, autolesão e autoestimulação. O autismo deve ser tratado como uma
doença global, por meio de mediação. Os profissionais clínicos dividem-no em problemas separados
e tratam-nos, então, separadamente com terapia comportamental. Nessa população, melhorar os
problemas de linguagem é a maior prioridade. A terapia pode envolver modelagem ou reforço de
aproximações sucessivas à resposta desejada.
Avaliação: Autismo X Retardo Mental
A característica essencial do transtorno autista é “a presença de um desenvolvimento
acentuadamente inadequado ou prejudicado nas interações sociais e na comunicação e um
repertório acentuadamente restrito de atividades e interesses”. Para que o autismo possa ser
diagnosticado, as crianças devem apresentar atraso no funcionamento normal ou funcionamento
inadequado antes dos três anos. A extensão desses atrasos pode, entretanto, variar
consideravelmente. Além disso, as áreas social, comunicativa e comportamental de funcionamento
devem estar muito prejudicadas. Os contatos físicos e sociais podem ser aversivos para muitas das
crianças com autismo.
Para ser diagnosticado o transtorno deve se manifestar antes dos 18 anos. O retardo mental envolve
geralmente déficits em muitas áreas de funcionamento, enquanto o autismo inclui déficits em
somente algumas áreas, mas não em outras. Há instrumentos mais específicos para a avaliação do
autismo, compostos por questões como: Relacionamento com pessoas: a criança está quase sempre
alheia ou desligada do que os adultos estão fazendo. Uso do corpo: comportamentos que são
nitidamente estranhos ou incomuns para crianças desta idade podem ser: movimentos estranhos
dos dedos, posturas peculiares dos dedos ou do corpo, olhar fixo, etc. Adaptação à mudança: a
criança apresenta reações fortes a mudanças. Comunicação verbal: não faz discursos com
significado. Comunicação não verbal: a criança faz gestos bizarros ou peculiares que aparentemente
não têm significado e não mostra conhecer os significados associados aos gestos ou às expressões
faciais dos outros.
A maioria dessas crianças tem muita dificuldade em iniciar ou manter uma conversa com os outros,
e a linguagem é muitas vezes estranha ou difícil de entender. A característica essencial do retardo
mental é um funcionamento intelectual geral significativamente inferior à média, acompanhado de
limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de
habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais e interpessoais, uso dos
recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas funcionais, trabalho, lazer, saúde e
segurança.
Aspectos do desenvolvimento
Existem alguns bons indicadores sobre a possibilidade de a criança com autismo vir ou não a ter
resultados favoráveis de longo prazo. Eles são a média de inteligência e a aquisição de um pouco de
linguagem antes dos 5 anos. Além disso (frequentar) serviços de educação também estão associados
a um prognóstico melhor para o autismo. O desenvolvimento, em comorbidade, de sintomas de
outros transtornos mentais e outras doenças médicas é comum no autismo. A condição de
comorbidade médica que mais prevalece é a epilepsia. Alguns sintomas mentais em comorbidade
são a hiperatividade, oscilações de humor, afeto inadequado e comportamentos de oposição.
O percurso de desenvolvimento de crianças com retardo mental está intimamente relacionado aos
níveis de funcionamento cognitivo. Tais níveis permanecem estáveis ao longo do tempo, mesmo
durante a infância e a adolescência. Crianças com retardo mental moderado, severo ou profundo
tendem a apresentar um desenvolvimento cognitivo estável ou ruim. Observa-se também maior
deficiência à medida que o indivíduo cresce. Muitas crianças com retardo mental desenvolvem
gradualmente habilidades de comportamento adaptativo, mas isso depende muito do nível de déficit
mental.
Fatores de risco e variáveis mantenedoras
A etiologia do autismo não é completamente conhecida, mas, em razão do
aspecto invasivo do transtorno e do fato de aparecer em idade mais precoce, as
variáveis biológicas são as que mais despertam suspeitas. Essa é a hipótese de
“via final comum”, segundo a qual, fatores diferentes, como a genética,
desenvolvimento cerebral deficitário e alto nível de serotonina interagem de
diferentes maneiras em diferentes crianças com autismo. Todos esses fatores
levam ao mesmo resultado ou ao mesmo tipo de disfunção cerebral, que, por
sua vez, leva ao autismo.
As causas do retardo mental envolvem uma grande mistura de variáveis biológicas e ambientais. As
variáveis biológicas durante o período de gestação afetam, muitas vezes, o desenvolvimento do
cérebro. Os fatores extrínsecos incomuns também podem levar ao retardo mental, entre eles, a falta
prolongada de oxigênio, trauma cerebral e envenenamento. Os indivíduos com retardo familiar
tendem a apresentar leves déficits cognitivos, experiências educacionais deficitárias, nível
socioeconômico baixo e/ou pais que se utilizam de práticas de educação inadequadas.