Linguagem aqui se entende, no fundamental, como ação interindividual orientada por uma finalidade específica, um
processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos
distintos momentos de sua história. Pela linguagem se expressam idéias, pensamentos e intenções, se estabelecem
relações interpessoais anteriormente inexistentes e se influencia o outro, alterando suas representações da realidade e
da sociedade e o rumo de suas (re)ações. Nessa perspectiva, língua é um sistema de signos específico, histórico e social,
que possibilita a homens e mulheres significar o mundo e a sociedade. Aprendê-la é aprender não somente palavras e
saber combiná-las em expressões complexas, mas apreender pragmaticamente seus significados culturais e, com eles,
os modos pelos quais as pessoas entendem e interpretam a realidade e a si mesmas.
Discurso e suas condições de produção, gênero e
texto
O discurso, quando produzido, manifesta-se
linguisticamente por meio de textos. O produto
da atividade discursiva oral ou escrita que
forma um todo significativo, qualquer que seja
sua extensão, é o texto, uma seqüência verbal
constituída por um conjunto de relações que se
estabelecem a partir da coesão e da coerência.
Em outras palavras, um texto só é um texto
quando pode ser compreendido como unidade
significativa global. Caso contrário, não passa de
um amontoado aleatório de enunciados.
Todo texto se organiza dentro de determinado
gênero em função das intenções comunicativas,
como parte das condições de produção dos discursos,
as quais geram usos sociais que os determinam. Os
gêneros são, portanto, determinados historicamente,
constituindo formas relativamente estáveis de
enunciados, disponíveis na cultura. São
caracterizados por três elementos: conteúdo
temático: o que é ou pode tornar-se dizível por meio
do gênero; construção composicional: estrutura
particular dos textos pertencentes ao gênero; estilo:
configurações específicas das unidades de linguagem
derivadas, sobretudo, da posição enunciativa do
locutor; conjuntos particulares de seqüências3 que
compõem o texto etc.
Aprender e ensinar Língua Portuguesa na escola
Pode-se considerar o ensino e a
aprendizagem de Língua Portuguesa, como
prática pedagógica, resultantes da articulação
de três variáveis:
O primeiro elemento dessa tríade o aluno é o
sujeito da ação de aprender, aquele que age
com e sobre o objeto de conhecimento. O
segundo elemento o objeto de conhecimento
são os conhecimentos discursivo-textuais e
linguísticos implicados nas práticas sociais de
linguagem. O terceiro elemento da tríade é a
prática educacional do professor e da escola que
organiza a mediação entre sujeito e objeto do
conhecimento.
CONDIÇÕES PARA O TRATAMENTO DO OBJETO DE ENSINO: O TEXTO COMO UNIDADE E A DIVERSIDADE
DE GÊNEROS
Os textos organizam-se sempre dentro de certas restrições de natureza temática, composicional e
estilística, que os caracterizam como pertencentes a este ou aquele gênero. Desse modo, a noção de
gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino. Nessa perspectiva,
necessário contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade de textos e gêneros, e não apenas em
função de sua relevância social, mas também pelo fato de que textos pertencentes a diferentes
gêneros são organizados de diferentes formas.
A SELEÇÃO DE TEXTOS
Os gêneros existem em número quase ilimitado, variando em função da época (epopeia, cartoon), das
culturas (haikai, cordel) das finalidades sociais (entreter, informar), de modo que, mesmo que a escola
se impusesse a tarefa de tratar de todos, isso não seria possível. Portanto, é preciso priorizar os
gêneros que merecerão abordagem mais aprofundada.
Textos orais
Uma rica interação dialogal na sala de aula, dos alunos entre si e entre o professor e os alunos, é uma
excelente estratégia de construção do conhecimento, pois permite a troca de informações, o
confronto de opiniões, a negociação dos sentidos, a avaliação dos processos pedagógicos em que
estão envolvidos. Mas, se o que se busca é que o aluno seja um usuário competente da linguagem no
exercício da cidadania, crer que essa interação dialogal que ocorre durante as aulas dê conta das
múltiplas exigências que os gêneros do oral colocam,principalmente em instâncias públicas, é um
engano. Ainda que o espaço da sala de aula não seja um espaço privado, é um espaço público
diferenciado: não implica, necessariamente, a interação com interlocutores que possam não
compartilhar as mesmas referências (valores, conhecimento de mundo).