Forma grave de pré-eclâmpsia
caracterizada por → H: Hemólise;
EL: ↑ das enzimas hepáticas; LP:
Plaquetopenia em paciente
gestante/puérpera (geralmente
dentro de 7 dias após o parto).
A hemólise é definida pela presença de
anemia hemolítica microangiopática, sendo
a alteração mais importante da tríade.
É representada por ↑ TGO,
anemia hemolítica por
fragmentação de eritrócitos
e ↓ contagens plaquetárias e
é associada a uma evolução
clínica complicada.
ETIOPATOGENIA
● Hemólise: a vasoconstrição danifica o endotélio vascular, formando uma matriz de fibrina que
prejudica a passagem de hemácias pelos vasos. Essas hemácias, quando lesadas morfologicamente,
tornam-se esquizócitos e equinócitos, indicando a anemia hemolítica microangiopática (marco da Sd).
● ↑ enzimas hepáticas: deve-se à lesão de hepatócitos por obstrução dos sinusóides com fibrina. Pode haver
necrose periporta e, mais raramente, ruptura hepática, quadro extremamente grave com alta mortalidade.
● Plaquetopenia: há ↓ da vida média das plaquetas, ainda mais acentuada do que na pré-eclâmpsia. A alteração
na integridade estrutural plaquetária provoca sua agregação e destruição, o que desencadeia a liberação de
aminas vasoativas, causando ainda mais vasospasmo. A medula óssea passa a produzir mais plaquetas, mas de
maneira insuficiente frente à agregação e ao consumo exacerbados resultando em plaquetopenia.
↑ muito maior da bilirrubina total ( ≥ 4mg/dL); ↑ fração direta de
bilirrubina; Coagulopatia inicial (antes da trombocitopenia);
Transaminases hepáticas < 500UI/L; Hipoglicemia; Leucocitose;
Hemoconcentração; Acidose metabólica; ↑ amônia e de
creatinina sérica; ácido úrico.
● Púrpura
Trombocitopênica
Trombótica (PTT)
Difícil distinção; Pêntade clássica: Trombocitopenia, Anemia hemolítica,
Anormalidades neurológicas, Febre e Comprometimento renal; Dor
abdominal, hipertensão, náusea e vômitos + icterícia, petéqueas, púrpura
e outros sangramentos anormais. Trombocitopenia mais grave (exige
transfusão); ↑ muito maior da LDH (LDL/AST >22); geralmente não há
coagulopatia e os níveis de antitrombina não variam. ↓ ADAMTS13 (em
casos de PTT congênita).
● Sd
Hemolítico-Urêmica
(SHU)
Raramente associada à gravidez; ocorre
geralmente no pós-parto (até 10 semanas).
Quadro semelhante à PTT (anemia hemolítica
microangiopática e trombocitopenia). A lesão
microvascular afeta os rins (principalmente) com
piora mais significativa (exige transfusão).
Transaminases hepáticas são menos elevadas.
● Lúpus Eritematoso
Sistêmico (LES) / Sem Sd
do Anticorpo
Antifosfolipídeo (SAAF)
catastrófica
História de LES e/ou SAF
antes da gravidez/parto;
Testes padrão devem ser
realizados; em casos
avançados que mimetizam a
Sd HELLP, a plasmaférese
pode ser necessária para
estabilizar a paciente
enquanto o diagnóstico
definitivo é estabelecido.
Outros: Sepse; intoxicação medicamentosa; choque hipovolêmico;
fígado gorduroso agudo na gravidez; coagulopatia com consumo
de fibrinogênio; exacerbação de doenças do colágeno; doença
renal primária; colecistopatias, pancreatopatias / hepatopatias.
CONDUTA
TERAPÊUTICA
Interrupção da gravidez
(tratamento definitivo)
Considerar: IG, maturação cervico-uterina, dinâmica uterina, vitalidade e
apresentação fetal. Considerar a via vaginal se condição materno-fetal adequada
e colo favorável ao parto até 24h (IG < 32 e condições fetais desfavoráveis tem ↑
taxa de insucesso de tentativa de amadurecimento cervical).
Se IG > 34 semanas ou IG < 24 semanas (ausência de viabilidade fetal) ou Instabilidade materna e
fetal (condição fetal não tranquilizadora ou complicações de Síndrome HELLP) → Parto imediato
após estabilização materna, SEM considerar Corticoterapia (para maturação pulmonar fetal).
Se IG < 34 semanas COM estabilidade materna e fetal (bem estar materno e fetal) → Parto após
Corticoterapia (Se IG entre 24 e 32 semanas, fazer Magnesioterapia para neuroproteção fetal).
Monitoramento
(assistência ao parto)
Vias de parto por indicação obstétrica → Via vaginal: manter plaquetas >
20.000 (episiotomia excepcional); Cesárea: manter plaquetas > 30.000
Medicamentosa
Corticoterapia →
Dexametasona (base
do tratamento)
Adm IV até o parto ser concluído, inicialmente para: qualquer paciente com Sd HELLP Classe 1 ou Classe 2,
independentemente da IG; OU qualquer paciente com Sd HELLP Classe 3/parcial-incompleta, independentemente da
IG, que também tenha eclâmpsia, dor epigástrica intensa, hipertensão grave ou qualquer morbidade significativa.
É iniciado em doenças anteparto e/ou em doenças detectadas pós-parto. Após o parto e com evidências de parâmetros
laboratoriais e clínicos da doença remitidos, a dose de dexametasona é ↓ por pelo menos 2 doses e depois é interrompida.
● < 34 semanas de gestação e parto não ocorrido: preferível adiar o parto por no mínimo 24-48h na tentativa de obter benefício
máximo para o feto; ● >34 semanas de gestação: parto é geralmente iniciado 8-12h após a 1ª dose ser adm para proporcionar
benefício máximo materno e ↓ necessidade de transfusão de plaquetas, ↑ probabilidade de anestesia local e ↓ risco de sangramento.
Profilaxia de Convulsão
→ Sulfato de Magnésio
4-6 g IV como dose de ataque, seguidos por 1-2 g/h de infusão por, pelo menos,
24h, máximo de 40 g/dia. Após o parto, a infusão deve continuar por 24h.
Terapia anti-hipertensiva
○ Labetalol: 20mg IV inicialmente, seguidos de 40-80mg a cada 10 min de acordo com a resposta, máximo de 300mg; pode ser adm como infusão contínua, mas a adm IV em bolus é mais frequente.
○ Nicardipino: 5mg/h por IV inicialmente, aumentar em incrementos de 2.5mh/h a cada 15min de acordo com a resposta, máximo de 10mh/h.
○ Hidralazina: 5mg por IV a cada 20-30 min de acordo com a resposta; pode ser utilizada se o labetalol for contraindicado, pois é menos efetivo.
A PA deve ser monitorada a cada 15min: se ≥ 160/105mmHg → redução imediata para uma pressão sistólica ≅ 140-150mmHg
DIAGNÓSTICO
Clínico
História clínica. Achados do
exame físico: Edema e
hipertensão; Sensibilidade à
palpação no QSD e Reflexos
rápidos. Mais raros: Icterícia e
sangramento, como hematúria.
Mesmo sendo
considerada uma forma
grave de pré-eclâmpsia,
nem todas as pacientes
afetadas pela HELLP
atendem aos critérios
de diagnóstico para
pré-eclâmpsia GRAVE.
Laboratorial
É essencialmente laboratorial e
sua extensão não tem relação
com a gravidade da hipertensão,
nem da proteinúria.
● Hemograma completo; Teste de função hepática (AST, Bilirrubina, HDL); TGO; Esfregaço de
sangue periférico com presença de esquizócitos, (ou helmet cells), equinócitos e burn cells;
Ureia; Creatinina; Urina I ou Tira-teste reagente; Proteinúria de 24h.
Nem sempre as 3 alterações laboratoriais principais são encontradas; a presença de 1 ou 2 delas define a
ocorrência da Sd HELLP parcial ou incompleta, que é mais amena e apresenta menor morbidade.
A TROMBOCITOPENIA é a principal e mais precoce modificação encontrada, sendo que
alteração do tempo de protrombina, tempo parcial da tromboplastina e fibrinogênio apenas
irão ocorrer em fases avançadas, ou seja, quando a queda das plaquetas > 30.000/mm3.
● Em casos graves: Ácido úrico, fibrinogênio e tempo de protrombina/tempo
de tromboplastina parcial → podem indicar comprometimento renal
avançado, descolamento da placenta ou suspeita de um distúrbio imitador.
● Outros dados: ↑ da bilirrubina indireta, haptoglobina ↓ (< 25 mg/dl), ↑ LDH e ↓ Hb.
Radiológico /
Imagenológico:
USG, TC e RNM:
indicados em casos de
dor significativa no QSD
e com hematócrito ↓,
com suspeita de
sangramento por infarto
do fígado e
hematoma/ruptura
hepática, a fim de
descartar hematoma
hepático
subcapsular/hemorragia
intraparenquimal.
Avaliar características
biométricas e biofísicas
fetais e determinação da
IG, com avaliação de fluxo
de Doppler da artéria
umbilical adicional na
presença de restrição do
crescimento fetal.
Monitorar continuamente
a FC do feto sempre que
possível.
QUADRO CLÍNICO
Proteinúria; Hipertensão arterial (secundária à vasoconstricção); Edema; Dor epigástrica e/ou em hipocôndrio direito
(causado pela isquemia e necrose hepática); ↑ excessivo do peso e/ou piora do edema; Náuseas e vômitos (causados
por disfunção hepática); Cefaleia; Alterações visuais (escotomas); Icterícia subclínica; Reflexos tendinosos rápidos.
Quadro avançado: alteração de comportamento; possibilidade de
eclampsia; gengivorragia; icterícia; distúrbios visuais; hemorragia
vítrea; hipoglicemia; hiponatremia; diabetes insípido nefrogênico.
FISIOPATOLOGIA
1) Rejeição imunológica aguda da mãe em relação ao produto conceptual → em decorrência da
invasão trofoblástica, ocorre um contato entre tecido fetal e o sistema imunológico materno.
2) 3º trimestre da gestação: importante ativação dos leucócitos na circulação periférica materna → plaquetas
circulantes aderem ao endotélio danificado, o que causa ↑ destruição e, como consequência, PLAQUETOPENIA.
3) A ruptura da membrana plaquetária e a liberação de ácido araquidônico e de outros mediadores vasoativos produzem vasoconstrição, vasoespasmo,
e aceleram a agregação plaquetária. Há envolvimento também da ativação plaquetária e da alteração da ativação do plasminogênio.
4) A ativação de células endoteliais, com a liberação do fator de Von Willebrand, leva à trombocitopenia de consumo e à microangiopatia
trombótica. A enzima responsável pela clivagem do FVW, ADAMTS 13, apresenta um nível ↓ nas mulheres com Sd HELLP.
5) Uma complexa cadeia de eventos se inicia no fígado em decorrência da deposição de fibrina no interior dos sinusoides, o que leva a obstrução associada à ↓ do fluxo hepático.
Essa isquemia pode causar infarto hepático, necrose de hepatócitos, hematomas subcapsulares e hemorragias intraparenquimatosas, que podem resultar em ruptura hepática.
COMPLICAÇÕES
HEMORRÁGICAS
Hemocomponentes e
hemoderivados
Concentrado de
hemácias (CH) e
derivados
Dose: Adulto → 1 unidade de concentrado de hemácias eleva os níveis de Hb em 1 g/dl. Criança: dose de 10 ml/Kg de peso corpóreo.
Preparado a partir de uma unidade de sangue total através da remoção de ≅ 130-230 ml de plasma. Volume final ≅
220 a 320ml. O hematócrito varia entre 65% a 80%; contém leucócitos, plaquetas e plasma.
Indicações: tratamento de anemia em pacientes com necessidade de aumento do transporte de oxigênio; é primariamente clínica.
Concentrado
de plaquetas e
derivados
Preparado a partir de uma unidade de sangue total, por centrifugação. O volume final é de ≅ 50-70ml e deve conter, no mínimo, 5,5 x 10 (10 notação científica) plaquetas.
Indicações: Plaquetas < 20.000/mm³ + uma ou mais dessas situações: Temperatura > 38,5ºC; CIVD; Sepse; Plaquetas < 10.000/mm³.
Dose: 1 unid./10Kg de peso corpóreo
Plasmas
fresco
congelado e
derivados
É preparado de doações de sangue total ou obtido por procedimentos de aférese. Este último método não é autorizado em
nosso país, exceto em situações especiais. O volume pode variar de 150-400 ml, dependendo da forma de obtenção.
Indicações: CID com sangramento; reversão imediata dos efeitos dos dicumarínicos; PTT e SHU como produto para reposição nas plasmaféreses terapêuticas; doença
hepática grave com deficiência de fatores de coagulação severa em presença de sangramento ou necessidade de procedimento cirúrgico; reposição de fatores de
coagulação em situações de transfusão maciça; deficiência de AT-III; não deve ser utilizado somente para expansão volêmica, nem como suporte nutricional.
Crioprecipitado
Obtido a partir do descongelamento até 4ºC de uma unidade de PFC, retirando o plasma sobrenadante e deixando
10-15ml de plasma e o precipitado de coloração branca, e recongelando a -20ºC. Volume de unidade: 10-30ml.
Composição: Fibrinogênio: 150-250mg; Fator VIII: 80-120 UI; Fator XIII: 20-30% da quantidade inicial; FVW: 40-70% da quantidade inicial.
Indicação: Hemofilia e Doença de Von Willebrand (quando não houver disponível concentrado de fator VIII) ou em pacientes que não
respondem ao DDAVP; CID e graves hipofibrinogenemias; Hipofibrinogenemia congênita e adquirida; Deficiência de Fator XIII.
Hemocomponentes: Concentrado de
Hemácias (CH), Concentrado de
Plaquetas (CP), Plasma Fresco
Congelado (PFC), Crioprecipitado
(Crio). Hemoderivados: Albumina,
Imunoglobulinas, Concentrados de
fatores de coagulação (fator VIII, IX,
etc), Cola de Fibrina.
Manejo
● Transfusões plaquetárias: São necessárias para contagens plaquetárias < 25 x 10⁹/L (< 25,000/µl) ou < 30 x 10⁹/L (< 30,000/µl) em casos de sangramento, transfusões maciças ( ≥ 10
unidades de concentrados de eritrócitos) ou intervenções cirúrgicas. Tem efeito transitório, pois o consumo ocorre rapidamente. Espera-se que uma única unidade de plaquetas
aumente a contagem plaquetária em 5000. A imunoglobulina Rho D é necessária se o tipo específico de plaquetas não estiver disponível para mulheres Rh-negativo.
● Transfusões sanguíneas: podem ser necessárias quando o hematócrito é < 25%, pois os pacientes toleram mal hematócritos baixos; podem ser necessárias antes do parto.
● Plasma fresco congelado / crioprecipitado (preferível quando a sobrecarga hídrica for uma preocupação): necessário em níveis < 2.94 μmol/L (< 100 mg/dL). Para aumentar o nível
sérico de fibrinogênio em 25 mg → adm 1 g de fibrinogênio exógeno. Essa quantidade é fornecida por 1 unidade de plasma fresco congelado ou 6 unidades de crioprecipitado.
Riscos da transfusão sanguínea
Reações transfusionais (tabela ao lado)
Infecções; Hepatite; HIV; HTLV-I; CMV; Sífilis; Malária; Doença de chagas...
CIVD; Sd do desconforto
respiratório do adulto;
Insuficiência hepática e/ou renal;
Edema agudo pulmonar;
Hematoma hepático sucbapsular;
Ruptura hepática; Eclâmpsia;
AVC; Choque; Prematuridade
extrema; Asfixia perinatal;
Descolamento prematuro de
placenta; Restrição de
crescimento intrauterino.
EPIDEMIOLOGIA
É uma complicação grave da
gravidez, associada a ↑
morbimortalidade materna e
perinatal. O prognóstico anuncia
sua severidade, exibindo
mortalidade perinatal
aproximadamente de 10-60%, e
materna em 1,5-5% dos casos.
Ocorre em ≅ 1-8 a cada 1.000 gestações e em
≅ 10-20% das pacientes com pré-eclâmpsia
grave/eclâmpsia e geralmente em brancas,
multíparas e em grávidas > 35 anos. Mais
comum em pessoas brancas nos EUA que em
afro-americanas ou hispânicas. ≅ 10% das
pacientes têm gestações múltiplas.
Incidência de achados
laboratoriais em casos
de PRÉ-ECLÂMPSIA:
2-20% dos casos; em
casos de ECLÂMPSIA:
10-30% dos casos.
A maioria das pacientes
apresenta entre
28-36)(3º trimestre)
semanas de gestação. Em
15-30%, se manifesta
pós-parto/evolui no
pós-parto.
CLASSIFICAÇÃO
de Martin/Mississipi
Classe 1: trombocitopenia grave (0 à ≤ 50,000/mm³, LDH ≥ 600UI/L, AST e/ou ALT ≥ 70 UI/L)
Classe 2: trombocitopenia moderada ( > 50,000 à ≤ 100,000/mm³, LDH ≥ 600UI/L, AST e/ou ALT ≥ 70 UI/L)
Classe 3: trombocitopenia leve ( > 100,000 à ≤ 150,000/mm³, LDH ≥ 600UI/L, AST ≥ 40 UI/L)