Cultura brasileira e identidade
nacional- Renato Ortiz
caráter ontológico à
identidade brasileira
DESAFIOS DE DEFINIR A ESPECIFICIDADE DO BRASILEIRO ENQUANTO nação
Assim, não se trata de indagar sobre a veracidade, ou não, de uma suposta identidade brasileira, mas
indagar-se sobre quais valores e interesses estão orientando esta construção simbólica; quais grupos e
propósitos estão presentes em sua elaboração.
sentido da cultura popular e da
identidade brasileira, desde meados do
século XIX
a MEMÓRIA NACIONAL e a IDENTIDADE BRASILEIRA são CONSTRUÇÕES SIMBÓLICAS que dissolvem a
heterogeneidade das culturas populares na homogeneização da NARRATIVA IDEOLOGICA
Assim, o Estado é a TOTALIDADE que transcende e organiza a
realidade concreta, delimitando os contornos da identidade nacional.
CONCEITOS: sincretismo, memória coletiva, mito, símbolo e totalidade
Estado, ideologia e hegemonia
meados do século dezenove
até a década de 1970
Inicia por "Cultura Popular"
construção simbólica perspassada por relações de poder
Formada por uma pluralidade de discursos elaborados por diferentes grupos sociais, em momentos
históricos distintos, a partir de múltiplas manifestações culturais.
Mas que não é e nunca será FIXA. Cultura NÃO é FIXA
"não há veracidade ou falsidade a serem aferidas, já que os próprios critérios de aferição
variam, também, de acordo com a visão de mundo e os interesses daqueles que os
verificam em cada tempo"
Perpassa perpassa pela história
narrativas simbólicas e políticas
interesses dos diferentes grupos sociais e
em suas relações com o Estado.
"cultura e a identidade brasileira são consideradas e investigadas em sua historicidade, caso contrário
corre-se o risco de abordá-las anacronicamente, portanto, tornando-as ininteligíveis"
Anacronismo: atitude ou fato que
não está de acordo com sua época
Análise do caráter racista das interpretações acerca do ser brasileiros
legadas pelos precursores das Ciências Sociais no Brasil, a partir de meados do século XIX
RELAÇÃO ENTRE
QUESTÃO RACIAL E
A IDENTIDADE
resultaram nas primeiras tentativas de se pensar a
cultura brasileira em sua especificidade.
A evolução da sociedade a partir de questões embrionárias como a sua colonização
A teoria do darwinismo social mostra de certa forma
mostra isso, que a cultura de uma sociedade, suas
evoluções e transformações se dão praticamente
apenas em relação ao seu modo de colonização
Mas Ortiz comenta que:
"embora o evolucionismo fornecesse a matriz interpretativa da história das
sociedades humanas, era preciso dar conta da peculiaridade da sociedade
brasileira e explicar o hiato entre a teoria e a realidade social"
Como chaves de leitura, as noções de MEIO e RAÇA são tomadas como capazes de explicar a nossa
especificidade social.
O SOCIAL
dependência ao AMBIENTE
explicando, em parte, nossa peculiaridade
em relação aos europeus colonizadores
meio influenciando o social
A RAÇA
qualidades “negativas” de nossa composição racial
desconsiderava o negro como parte da composição social e elegia o índio como
elemento capaz, na relação com o branco, de traduzir a especificidade do nacional
Todavia, a abolição do regime escravocrata impõe o negro como sujeito a ser
considerado na trama social, ainda que socialmente em desvantagem.
Para Silvio Romero e Nina Rodrigues, como observa Ortiz, o negro passava a desempenhar um papel
mais importante que o índio na composição social
A abolição do trabalho escravo foi determinante para a reavaliação
das teorias da mestiçagem, com a inclusão do negro nas
preocupações nacionais
MESTIÇAGEM
fusão das três raças fundamentais e amalgamadas: o
branco, o negro e o índio
na fusão das raças, ao elemento branco são atribuídas as características
e valores capazes de conduzir a nação à civilização.
IDEAL NACIONAL: branquamento da sociedade, com incentivo às imigrações
Isso não implica considerá-las em termos de igualdade
no final do século dezenove, o discurso da RAÇA começa a dar lugar ao de CULTURA
sincretismo
Sincretismo é a reunião de doutrinas diferentes, com a
manutenção de traços perceptíveis das doutrinas originais.
Nos trilhos das transformações em curso, as TEORIAS CULTURALISTAS
assumem um caráter privilegiado no
debate sobre a IDENTIDADE BRASILEIRA
o pensamento de Gilberto Freyre é
paradigmático no interior destes debates
a identidade nacional, como experiência da
mestiçagem, através do culturalismo;
enfatiza a relação intensa, material e simbólica que harmonizou os
termos socialmente desiguais pela experiência da mestiçagem
A virada do século – passando da Monarquia para a República, da economia escravocrata para a
capitalista (em desenvolvimento), das teorias raciológicas para o culturalismo DE 1890- 1900 EM DIANTE
FÁBULA DAS TRÊS RAÇAS
No contexto das mudanças pós-1930
1950, o conceito de CULTURA ganha uma perspectiva sociológica e filosófica
A cultura, nesse círculo, é pensada como uma objetivação do espírito humano, sobretudo um “vir a
ser”; uma história que está por se fazer, como PROJETO SOCIAL
Fundamentada na dialética do “vir a ser”, o pensamento isebiano centrou-se nos conceitos de
alienação, colonialismo e situação colonial;
Na análise do pós-1964,
A importância do ESTADO como um dos elementos dinâmicos e
definidores da PROBLEMÁTICA CULTURAL, apresentando-se como agente
privilegiado de DIFUSÃO CULTURAL, evidentemente dentro dos limites do
que convinha ao Regime Militar
o planejamento das políticas governamentais
extrapolava o campo do econômico e do
administrativo, estendendo-se ao cultural
INTEGRAÇÃO NACIONAL
concebeu a cultura
numa perspectiva
funcional
O Estado se empenha no desenvolvimento da
CULTURA DE MASSA com estímulo à participação do
capital privado, nos limites do controle estatal
diante da ampliação do mercado de bens culturais, o Estado volta-se para outro tipo de intelectual
disponível: os administradores, capazes de elaborar um planejamento cultural estratégico em sintonia
com os rumos do desenvolvimento tecnológico. Atuando em órgãos como INC, DAC, Secretaria de
Assuntos Culturais, SEAC, Embrafilm e Funarte, esse novos intelectuais inseriram a cultura numa
perspectiva de mercado.
ênfase na difusão dos bens culturais, dinamizando a produção,
a distribuição e o consumo
Durante todo o REGIME MILITAR a cultura foi alvo de intensa normatização, com a criação de órgãos
governamentais e planos estratégicos para desenvolvimento cultural, nos limites da Segurança
Nacional.
CULTURA COMO PATRIMÔNIO NACIONAL
A PARTIR DE 1930: Enquanto as teorias raciais
encontravam espaço no projeto político do
Império e da República Velha,
Nos estudos de Euclides da Cunha, Sílvio Romero e Nina Rodrigues
Bonfim toma o social por análogo ao biológico depreendendo uma noção
de imperialismo traduzida em termos de PARASITISMO SOCIAL
MESTIÇAGEM como um fenômeno renovador na composição nacional à
medida que amenizaria os elementos negativos herdados dos colonizadores
Bonfim, pesquisador do nacional brasileiro foi influenciado por Darwin, mas
tinha outra perscepção sobre a NAÇÃO E IDENTIDADE BRASILEIRA
pensar a realidade latino-americana, revelando uma perspectiva internacionalista que considerava
as especificidades das relações entre nações hegemônicas e dependentes, o que era inédito nas
discussões brasileiras.
Ortiz conclui seu estudo assentando a ideia de uma CULTURA POPULAR como
PLURALIDADE de manifestações folclóricas
que não partilham, absolutamente, um traço comum, nem se inserem num sistema único, de forma
coerente; ela é heterogênea e fragmentada,
Sendo mais adequado pensá-la no plural, como
CULTURAS POPULARES
Isto porque correspondem à diversidade de grupos sociais,
portadores de MEMÓRIAS DIFERENCIADAS
Recuperando o conceito de MEMÓRIA COLETIVA, essas manifestações folclóricas só se mantêm como
memórias à medida que se ritualizam em um grupo social que as comportam.
MEMÓRIA COLETIVA: relaciona-se à vivência de grupos sociais
MEMÓRIA NACIONAL: não corresponde diretamente a um grupo que ritualiza
enquanto tal, pois se situa em outro nível: o histórico, o ideológico, portanto, o virtual.
se relaciona a grupos sociais restritos
a IDEOLOGIA se lança sobre o conjunto da
sociedade, pois se pretende UNIVERSAL