Uma das heranças do período de dominação romana
na Europa durante a Idade Média foi o cristianismo. Aos
poucos, a Igreja Católica cresceu, Acumulou várias
extensões de terra, enriqueceu e concentrou um grande
poder religioso e secular.
Essa herança
conviveu com
mudanças na
ordem social
que tiveram
expressão
significativa na
literatura do
período.
O poder da Igreja
O clero estimulava as pessoas a acreditar que eram
imperfeitas e inferiores e a buscar a redenção na total
submissão à Igreja, que representava, no mundo, a
vontade de Deus. Essa postura servil perante Deus e a
Igreja é denominada teocêntrica.
A palavra teocentrismo se refere a uma visão de mundo cristã,
que afirma a perfeição e a superioridade de Deus, centro de todas
as coisas, e vê o ser humano como imperfeito e pecador.
Religião e cultura
Uma importante manifestação do poder da Igreja
medieval era seu controle quase absoluto da produção
cultural. Em uma época em que apenas 2% da
população europeia era alfabetizada, a escrita e leitura
estava praticamente restritas aos mosteiros e abadias.
Os religiosos reproduziam ou traduziam textos
sagrados do cristianismo e obras de grandes
filósofos da Antiguidade, como Platão e
Aristóteles, que não representassem uma
ameaça ao poder da Igreja.
Poemas e canções eram compostos em latim
por monges eruditos que vagavam de feudo
em feudo e, desse modo, divulgavam suas
composições. A maior parte dessa produção
abordava temas religiosos.
Uma nova
organização social
As relações entre nobres, cavaleiros e
senhores feudais eram regidas por um código
de cavalaria baseado na lealdade, na honra, na
bravura e na cortesia.
O servilismo dos vassalos ao seu suserano e dos fiéis a Deus dá
origem ao princípio básico da literatura medieval: a afirmação da
total subserviência de um trovador à sua dama (no caso da poesia)
ou de um cavaleiro à sua donzela (no caso das novelas de
cavalaria).
O Trovadorismo: poesia e cortesia
No século XII, os
cavaleiros viram-se de
uma hora para outra
sem função social.
Era preciso criar para
eles um novo papel.
A solução desse
quadro veio com a
idealização de um
código de
comportamento
amoroso, que ficou
conhecido como
amor cortês.
Esse código
transferia a
relação de
vassalagem
entre
cavaleiros e
senhores
feudais para o
louvor às
damas da
sociedade.
Projeto literário do Trovadorismo
Literatura oral para entreter os
homens e mulheres da nobreza.
Redefinição do papel
dos cavaleiros na corte.
Criação de estruturas literárias
equivalentes às da relação de
vassalagem.
Sociedade: subservivência total a Deus
(teocentrismo), representada literariamente
pela submissão do trovador à dama
(poesia) ou do cavaleiro à donzela (novelas
de cavalaria).
O nascimento da literatura portuguesa
O nascimento da literatura portuguesa coincide com o
do próprio país. Os trovadores galego-portugueses
desenvolvem sua lírica amorosa claramente
influenciada pela literatura provençal.
As cantigas
galego-portuguesas
se dividem em líricas
e satíricas,
dependendo do tema
que desenvolvem.
As cantigas líricas são divididas em cantigas
de amor e cantigas de amigo.
Cantigas de
amor:
exprimem a
paixão
infeliz, o eu
lírico é
sempre
masculino e
representa o
trovador que
dirige os
elogios a
uma dama.
Cantigas de amigo: falam
de uma relação amorosa
concreta que acontece
entre pessoas simples, que
vivem no campo. O tema
central dessas cantigas é a
saudade. O eu lírico é
sempre feminino e
representa a voz de uma
mulher (amiga) que
manifesta a saudade pela
ausência do amigo
(namorado ou amante).
As cantigas satíricas apresentavam críticas ao
comportamento social de seus pares, difamavam
alguns nobres ou denunciavam as damas que
deixavam de cumprir seu papel no jogo do amor cortês.
Elas podem ser de escárnio ou de maldizer.
Cantigas de escárnio: o trovador critica alguém por meio de
palavras de duplo sentido, para que não sejam facilmente
compreendidas. O efeito satírico que caracteriza essas cantigas é
obtido por meio de ironias, trocadilho e jogos semânticos. De
modo geral, ridicularizam o comportamento de nobres ou
denunciam as mulheres que não seguem o código do amor
cortês.
Cantigas de maldizer: o
trovador faz suas críticas de
modo direto, explícito,
identificando a pessoa
satirizada. Essas cantigas
costumam apresentar
linguagem ofensiva e palavra
de baixo calão. Muitas vezes,
tratam das indiscrições
amorosas de nobres e
membros do clero.
As novelas de cavalaria
As novelas de cavalaria são os primeiros romances, ou seja,
longas narrativas em verso, surgidas no século XII. Elas
contam as aventuras vividas pelos cavaleiros andantes e
tiveram origem no declínio do prestígio da poesia dos
trovadores.
Estão organizados em três ciclos, de
acordo com o tema que desenvolvem e
com o tipo de herói que apresentam:
Ciclo Clássico: novelas que narram a guerra de Tróia
e as aventuras de Alexandre, o Grande. O ciclo
recebe essa denominação porque seus heróis vêm do
mundo clássico mediterrâneo.
Ciclo arturiano ou bretão: histórias envolvendo o rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda.
Nessas novelas podem ser identificados vários núcleos temáticos: a história de Percival, a
história de Tristão e Isolda e outras.
Ciclo carolíngio ou
francês: histórias
sobre o rei Carlos
Magno e os 12 pares
da França.