HILÁRIO, Franco Júnior. A Idade Média, nascimento do ocidente. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense,
2004. Novas pesquisas historiográficas no século XX desmistificam os preconceitos referentes
à Idade Média. (Heranças na cultura ocidental) • O termo medieval vem da expressão latina
"medium aevum" (época intermediária) dada pelos historiadores renascentistas ao período
compreendido entre o desaparecimento do Império Romano e os novos interesses pela cultura
greco-romana no século 15.
CONTEXTO
HISTÓRICO
QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO (DO OCIDENTE) NO
SÉCULO V
SURGE A IGREJA
CATÓLICA
Nos primeiros séculos as perseguição aos cristãos. Proibição dos cantos. Séc. I, II e III representava
apenas grupos dispersos. Inexistência de uma doutrina específica unificada. Séc. III → proibição da
Igreja por parte do Império. Séc. IV (313) → Decreto de autorização. A Igreja é permitida pelo Império
Romano. Séc. IV (381) →A Igreja é decretada a Religião oficial do Império Romano.
Com o fim do Império Romano (476), a grosso modo, a Igreja torna-se a verdadeira grande
herdeira do Império. Séc. IV-V → processo de unificação das diversas doutrinas e ritos. Criação
da hierarquia episcopal (mais tarde → Bispos, presbíteros, diáconos). Cerimônias e rituais
(missa - missão, cantos).
CANTOCHÃO (SÉC.
V-VIII)
MONODIA (CANTO
MONOFÔNICO)
A música ocidental foi monódica até o século IX. O termo monodia designa urna
linha melódica — uma única voz — sem acompanhamento. Isto não impede que, na
música vocal, esta voz única possa ser executada por um grupo de cantores: diz-se,
então, que eles cantam em uníssono.
As primeiras peças musicais escritas foram religiosas. Eram peças do canto gregoriano, ou
cantochão, que veio das igrejas orientais e está ligado à liturgia cristã. O cantochão é uma
música modal. Um modo nada mais é do que a sucessão de todas as notas "naturais" — as
teclas brancas do teclado do piano, por exemplo — a partir de uma dada nota.
MÚSICA
POLIFÔNICA
POLIFONIA
Superposição de duas ou várias linhas melódicas que se desenrolam de maneira homogênea—
guardando, cada uma delas, seu caráter particular.
O
CONTRAPONTO
Chama-se contraponto à arte de combinar entre si as linhas melódicas. O primeiro "gesto
contrapontístico" esboçou-se na Idade Média, ao que tudo indica no século IX, quando os
monges tiveram a idéia de acompanhar o cantochão com uma segunda voz que seguia a
melodia gregoriana, em paralelo, à distância de um intervalo de quarta. Esta primeira polifonia
(música a várias vozes) denominava-se, em latim, organum. A cada nota do cantochão
correspondia uma nota do acompanhamento: punctum contra punctum [ponto contra ponto].
Essa a gênese do termo contraponto.
ORGANUM
Organum: Técnica de colocar uma segunda melodia (segunda voz) acima ou abaixo do
cantochão (primeira voz). A melodia gregoriana (cantochão) passou a se chamar vox principalis
e a voz acrescentada vox organalis.
ORGANUM
PARALELO
Organum Paralelo: vox organalis se movimenta em paralelo em intervalos de quartas, quintas e
oitavas.
https://www.youtube.com/watch?v=QH71sxmG9wY
https://www.youtube.com/watch?v=W4rYZmEnZO8
ORGANUM
LIVRE
o longo do desenvolvimento do Organum , outros movimentos (oblíquo e contrário) foram
introduzidos dando origem ao Organum livre. Neste Organum, as dissonâncias aparecem como
intervalos de passagem entre os intervalos de 4ª e uníssono. A partir daí as linhas melódicas
ficam mais independentes. - A voz organal canta acima da voz principal
https://www.youtube.com/watch?v=TgWaz78yuGg
ORGANUM MELISMÁTICO
o organum melismático, com os melismas aparecendo de fato em grande número (à razão de
vinte notas para uma) na voz organal, a tal ponto que a voz principal fica relegada, de certo
modo, a um segundo plano e passa a servir apenas de apoio à voz que, tempos antes, era a de
acompanhamento. Com o nome de tenor (do latim tenere, sustentar), passa a caber à voz
principal o registro grave do canto. Por essa simples denominação da voz que é, na verdade, a
voz litúrgica, pode-se compreender que, agora, no espírito dos clérigos músicos, a liturgia
importa menos que a função técnica das partes. Com tal mudança, o canto gregoriano se
ofusca diante da nova escrita do organum.
https://www.youtube.com/watch?v=ngCRm7uLirA
DOCUMENTÁRIO DA BBC (REVOLUÇÃO GÓTICA).
https://www.youtube.com/watch?v=6nKV4gx_qdE
ESCOLA DE NOTREDAME
LEONIN
Léonin, primeiro mestre da Escola de Notre-Dame, é reconhecido pelo autor anônimo de um
tratado (o Anonymus TV, de Coussemaker) como o melhor compositor de organa de seu tempo.
Seu Magnus liber [Livro magno, ca 1180] contém uma série de organa para o Gradual e o
Antifonário, 33 para a Missa, 13 para as Horas, com vistas ao embelezamento do serviço
divino. Léonin ora pratica a escrita melismática para a voz que ocupa o registro agudo, dando
liberdade à voz tenor litúrgica, ora trabalha com o descanto. Foi o primeiro a medir a duração
dos valores da voz tenor, de modo a obter um contraponto rigoroso nota-contra-nota, como se vê
nitidamente no Audi filia [Ouve filha] do Propter veritatem [Por amor da verdade].
CLAUSULA DE DISCANTUS
Essas cláusulas (em latim clausulae) constituem autênticas pequenas composi- ções
independentes, cujo grande número leva a pensar que devam ter sido executadas fora de um
contexto litúrgico definido. Delas nascerá o moteto. Note-se que Pérotin, em seus organa,
acrescenta uma ou duas vozes suplementares ao tecido polifónico de Léonin. Seus dois
famosos quadrupla (na realidade, três vozes sobre a voz tenor) —Viderunt omnes [Viram todos,
1198], para o Gradual de Natal, e Sederunt principes [Tomaram assento os primeiros, 1199],
para a festa de Santo Estêvão, em 26 de dezembro — foram destacados pelos teóricos da época
como um acontecimento na evolução da escrita musical.
PEROTIN
Pérotin, o outro grande mestre de Notre-Dame, retoma a obra de Léonin. Encurta-a — sempre
de acordo com o que está escrito no Anonymus TV— para dar às peças polifónicas uma
dimensão que convenha ao tempo da liturgia e que seja proporcional ao comprimento das
partes de cantochão com as quais elas se alternam. Pérotin escreve de maneira mais breve as
velhas seções do descanto e, sobretudo, substitui as cláusulas de organum melismático,
longas demais, por cláusulas de descanto necessariamente mais breves.
TRIPLUM
https://www.youtube.com/watch?v=ba5LXi760D8
QUADRUPLUM
https://www.youtube.com/watch?v=PhqWgfGK1Xw
MOTETO
o mais complexo, o mais bem resolvido e o mais surpreendente, também, de todos os gêneros
polifó- nicos. Com Pérotin, as clausúlete, como já se disse, assumiram uma vida independente
da Uturgia. Não fazia muito sentido cantá-las usando, como únicas palavras, as da voz tenor.
Voltou-se, então, a prestigiar o procedimento adotado com êxito nos tropos: encaixar palavras
(em francês mot > petit mot > motet) nas melodias preexistentes. Foi assim que nasceu o
moteto.