CARVALHO, Elysio de. As transformações do pan-germanismo. In: América Brasileira, ano II, n. 23,
nov.1923, p. 310-316.
__________________. Graça Aranha e a Metaphysica Brasileira. In: América Brasileira, ano I, n.2, jan.
1922a, não paginado.
_____________________. São Paulo e o sentimento da Unidade Nacional. In: América Brasileira, ano I, n.4,
mar. 1922b, não paginado.
Se o significado de raça estava atrelado ao indivíduo moral, a miscigenação do indígena, do negro e
do português era um fator importante na construção da identidade nacional, mas ao mesmo tempo
o elemento da mistura que prevaleceria era o do branco. Entretanto, apesar de enfatizar a
importância do elemento português na forma de ser do brasileiro, a raça brasileira seria diferente
da portuguesa como Elysio faz questão de frisar em diversos momentos. Ao mesmo tempo em que
pregava a originalidade brasileira nascida da mestiçagem afirmava o elemento branco como
preponderante. Esse foco de Elysio de Carvalho no gene branco da nossa formação étnica está
atrelado à ideia de que os brasileiros são herdeiros do gênio latino. p 13
Comentários. In: América Brasileira. n. 5, ano I, abr. 1922, não paginado.
A nação brasileira, que se encontra no meio das vicissitudes do eterno fluxo e refluxo das
migrações, é produto histórico da fusão gradual de três radicais étnicos distintos, e não resultado de
obscuros instintos primitivos, mas é também obra do esforço e da vontade da raça branca, núcleo
essencial e base da primeira em torno da qual se agruparam os materiais multicores que trouxeram
os outros povos, e daí o segredo da quase perfeita unidade moral da nossa gente, que se caracteriza
fortemente pela idealidade ariana e pelo contraste emotivo das duas outras raças, por mais
estranha que esta afirmação pareça (CARVALHO, 1922a: n.p.). Dessa forma, de acordo com o autor,
quando do estado de síntese definitivo da raça brasileira, as duas raças “subalternas” seriam
absorvidas pela branca ou eliminadas pela “seleção social e econômica se não se deixarem assimilar
pelo núcleo racial preponderante” (CARVALHO, 1922a: n.p.).
Elysio de Carvalho tinha uma percepção parecida apesar de não falar em raça pura. Muito embora
para o escritor a miscigenação tenha sido importantíssima para fazer do brasileiro o que ele é, “'os
glóbulos aristocráticos do celta-ibero' são preponderantes e se avolumam ao lado da quantidade
minúscula de sangue do africano e do gentio" (CARVALHO, 1922a: n.p.).
Elysio de Carvalho acreditava na grandeza do gênio latino da qual o Brasil era herdeiro e
posicionava-se contra uma possível germanização do mundo. O escritor bebeu na fonte das teorias
raciais, mas negava o culto ao arianismo, afirmando que também as raças europeias se misturaram
e nem por isso teriam deixado de contribuir para o "esplendor da civilização" ocidental.
A visão otimista na formação étnica brasileira vai ao encontro da ideia de nação forte e povo
vigoroso. Apesar de criticar em vários momentos o governo e expor seu descontentamento com
situação brasileira, boa parte dos artigos da América Brasileira são extremamente nacionalistas e
apresentam o Brasil como um país de grande potencial, cujas riquezas naturais se bem exploradas
viriam a desenvolver fortemente a economia, tornando o Brasil uma grande potência. Faz parte
deste quadro um povo forte e virtuoso, cujo passado foi glorioso com batalhas, heróis e vitórias e
que seria capaz de tirar proveito desse potencial. Dessa forma, não seria possível aderir
completamente às teorias raciais que apontavam a mestiçagem como degeneração uma vez que a
identidade do brasileiro cheio de virtudes formou-se também no seu passado. "Somos, portanto, até
certo ponto, uma raça mestiça, mas o fato dessa mestiçagem, fenômeno biológico cujo
determinismo podemos facilmente apreciar, não constitui motivo de
vergonha nem de inferioridade, porque, em primeiro lugar não há raças completamente puras, à
exceção dos semitas e, depois, misturadas foram e ainda o são na atualidade todas as raças que
mais contribuíram para o esplendor da civilização e da cultura ocidentais (CARVALHO, 1922a: n.p.).
O autor afirmava que o embranquecimento da população se daria devido à força do gene da raça
branca e apesar de não fazer apologia à política de imigração em seus escritos, permite que a
discussão sobre este assunto seja encetada na América Brasileira. No artigo São Paulo e a Unidade
Nacional, Elysio de Carvalho citou um excerto do texto de Graça Aranha que alerta sobre os perigos
de uma constante mestiçagem – mesmo com os próprios europeus –, uma vez que correr-se-ia o
risco de perder as características nacionais quando da assimilação das características de muitas
outras raças. Após concordar com a utilidade do estrangeiro para o “progresso material” do país,
Graça Aranha afirmou: “mas a alma de uma nação não está num pé de café” (CARVALHO, 1922b:
n.p.).
O Vania Moreira, tenho o texto; O mito de origem brasileiro na mistura das três raças (branca, negra e índia) surgiu ainda no século
XIX quando da realização de um concurso pelo IHGB em 1844 que iria avaliar a melhor proposta de
pesquisa e divulgação da história do Brasil. A monografia vencedora, intitulada Como se deve
escrever a história do Brasil, do médico, botânico e antropólogo alemão Karl Friedrich Philipp Von
Martius (1794-1868) vai lançar as bases da ideia de democracia racial no Brasil que toma força no
século XX (LOSADA MOREIRA, 2008).
Sobre esta mesma questão da formação étnica brasileira, Elysio de Carvalho afirmou que: não
somos uma mistura, nem muito menos representativos de nenhuma das três raças, mas uma
síntese étnica, que se operou logo anos depois da conquista quando os europeus que se
encontravam no país se ligaram amorosamente com a gente bronzeada da terra, gerando uma raça
indômita e audaciosa, dotada de uma energia heroica e de uma resistência formidável, que
enquanto o português se deixava ficar no litoral, fascinado pelo oceano e cheio de nostalgia pela
metrópole, penetrava no sertão bravio que abriu o roteiro para o Brasil imenso e de destinos sem
limites (CARVALHO, 1922a: n.p.). Embora Elysio diferencie o português que ficou na costa do
brasileiro que penetrou no sertão, essa posição muda conforme aquilo que o autor deseja defender.
À medida em que quer deixar clara a nossa independência dos portugueses, ele separa a população
que permaneceu portuguesa em essência da brasileira, e à medida que busca
apontar o brasileiro como uma raça forte que tem um futuro destinado à grandeza, ele resgata o
elemento português como principal constitutivo da raça. Como se pode verificar na citação ele não
faz menção ao negro, apenas ao índio e ao branco. “Ao mameluco está reservado um lugar distinto
em nossa etnologia, visto ser um tipo de fusão, que se tornou preponderante no caldeamento geral”
(CARVALHO, 1922a: n.p.).
Elysio de Carvalho o escritor comungava das ideias de seus contemporâneos e compartilhava do
otimismo em relação à miscigenação, que à seu ver não determinaria a ruína do Brasil. Neste
sentido é importante ressaltar que Elysio de Carvalho também tenta validar as teorias raciais de
forma a se adequarem à realidade brasileira, abraçando a contradição e buscando uma saída
através desta.