Símbolos e personagens - Felizmente Há Luar! - Luís de Sttau Monteiro

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Felizmente Há Luar! - Luís de Sttau Monteiro

Símbolos e as personagens

Símbolos Titulo – Felizmente há luar ! - É uma expressão que faz parte de um documento escrito por D. Miguel e enviado ao intendente da polícia, no dia da execução do general. -No texto de Sttau Monteiro, é uma expressão proferida por duas personagens de “ mundos “ diferentes, no final do ato II: D. Miguel, símbolo do poder , e Matilde , símbolo da resistência . - Tendo em conta esta dualidade, o luar é interpretado de forma diferente por cada uma das personagens. Para D. Miguel, o luar permitirá que o clarão da fogueira seja visto por todos, atemorizados aqueles que ousem lutar pela liberdade, sendo por isso um efeito dissuasor. Para Matilde, o luar sublinha a intensidade do fogo, incitando à ousadia daqueles que acreditam na mudança e na caminhada para a “ luz da liberdade”(prenúncio da revolução liberal), constituindo-se, por isso, como um estimulo para que o povo se revolte. -Intencionalmente, Sttau Monteiro escolhe esta expressão para título da sua obra e reforça o seu objetivo: a esperança no restabelecimento da justiça.Lua - Por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de forma, a Lua representa dependência, periodicidade. - A luz da lua, devido aos ciclos lunares, também se associa à renovação. A luz é a força extraordinária que permite o conhecimento e a lua poderá simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que , aliás, se relaciona com a crença na vida para além da morte.Luarduas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão avisadas e para os oprimidos, mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade LuarA Luz- como metáfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade, fraternidade e liberdade), que possibilita o progresso do mundo, vencendo a escuridão da noite (opressão, falta de liberdade e de esclarecimento), advém quer da fogueira quer do luar. Ambas são a certeza de que o bem e a justiça triunfarão, não obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se a luz se encontra associada à vida, à saúde e à felicidade, a noite e as trevas relacionam-se com o mal, a infelicidade, o castigo, a perdição e a morte. A luz representa a esperança num momento trágico.Noite- mal, castigo, morte, símbolo do obscurantismoSaia verde - Encontra-se associada a momentos de felicidade vividos pelo casal. - O verde da saia simboliza a esperança de que um dia se reponha a justiça. -É sinal de um amor verdadeiro e transformador, pois Matilde, vencendo aparentemente a dor e a revolta iniciais, comunica aos outros esperança através desta simples peça de vestuário. - O verde é a cor predominante na natureza e dos campos na Primavera, associando-se à força, à fertilidade e à esperança.Fogueira -Para D. Miguel Forjaz, a fogueira constituirá um ensinamento para o povo; para Matilde, a chama da fogueira manter-se-á viva e a liberdade triunfará. - Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e a escuridão, no futuro relacionar-se-á com a esperança e a liberdade.O Fogo- é um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela do fogo. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade. Moeda de cinco réis - Funciona como símbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o próximo, o que contraria os mandamentos de Deus

As PersonagensAs personagens do poder – “Três conscienciosos governadores do Reino”: - o poder político representado por D. Miguel; - o poder religioso na figura do principal Sousa; - o poder militar representado por Beresford. Os delatores - Andrade Corvo e Morais Sarmento, “ dois denunciantes que honraram a classe” -Vicente, “um provocador em vias de promoção”.As personagens do antipoder - General Gomes Freire de Andrade, a presença ausente; - Matilde de Melo, “ a companheira de todas as horas”; - Sousa Falcão, “o inseparável amigo”; - Frei Diogo. O Povo - Manuel, “ o mais consciente dos populares”. - Rita, “ a mulher do Manuel”

Caracterização das personagens- As personagens do poder

D. Miguel - Pequeno tirano, inseguro e prepotente, revela-se um homem contrário ao progresso e insensível à justiça a à miséria. - O seu discurso preconceituoso e profundamente demagógico constrói-se sobre verdades e convicções falsas. Os argumentos do “ardor patriótico”, da construção de “um Portugal próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que vivia lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor” são o eco fiel do discurso politico Salazarista. - D. Miguel revela falsidade e hipocrisia.Beresford - Personagem cínica e controversa que lidera o processo de Gomes Freire, não como um dever nacional ou militar, mas apenas motivado por interesses individuais: a manutenção do seu posto e da sua tença anual. -A sua presença contribuiu para acentuar as contradições no seio do poder. - É um homem crítico em relação a Portugal e está sempre pronto a denegrir a sua imagem. - Surge como uma voz que reprova a atuação de D. Miguel e do principal Sousa.Principal Sousa -Além da hipocrisia e da falta de valores éticos, esta personagem deixa transparecer que os interesses particulares suplantam o bem comum – “Agora me lembro de que á anos, em Campo de Ourique, Gomes Freire prejudicou muito a meu irmão Rodrigo! “ -Simboliza, de igual modo, o arranjo entre a Igreja, enquanto instituição, e o poder e a demissão da mesma em relação à denúncia das verdadeiras injustiças.-As didascálias que acompanham esta personagem no ato I – “ O principal Sousa surge no palco imponentemente vestido.” (p.36) – e no ato II – “ Surge a meio do palco (…) Está vestido de gala e sentado na cadeira em que apareceu no 1º ato” (p. 121) – mostram tratar-se de um homem vaidoso que aprecia a riqueza e o luxo, o que entra em conflito com os princípios da Igreja. - É um homem que não apresenta uma forte convicção relativamente aos procedimentos adotados contra o general Gomes Freire : tem dúvidas e hesitações. “Não me agrada a condenação dum inocente…”

Caracterização das personagens- Os deletores

Os deletoresVincente-Elemento do povo - Trai os seus iguais, chegando mesmo a provocá-los, apenas lhe interessando a sua própria ascensão político-social. - A sua atuação evidencia dois momentos distintos: • Num primeiro momento, tenta denegrir junto do povo o prestígio do general, assumindo-se como um provocador e agitador “ Vocês ainda não estão fartos de generais? (…) Tu, José: Tens sete filhos com fome e frio e vais para casa com as mãos a abanar. Julgas que o Gomes Freire os vai vestir? (…) E tu (…) Julgas que matas a fome com balas? Idiotas! (…) O que eles querem é servir-se da gente” • Num segundo momento, assumindo o papel específico de denunciar o general a D. Miguel a troco da nomeação como intendente da política.-Ele é indubitavelmente todo aquele que se vende ao poder, de forma pouco escrupulosa. “Eu, chefe de policia! Estou a ver a cara do povo… (…) o povo a vir bater-me à porta:-Meu senhor: Nós não temos pão em casa… Dê-nos uma esmolinha (…) E lá lhes vou dando umas moedas, por caridade …”Andrade Corvo e Morais Sarmento- São os delatores por excelência, aqueles a quem não repugna trair ou abdicar dos ideais, para servir obscuros “propósitos patrióticos”.

Caracterização das personagens- As personagens do anti-poder

Sousa Falcão - Sousa Falcão, “o inseparável amigo”, “ o amigo de todas as horas”, é o amigo fiel em quem se pode confiar e que está sempre pronto a exprimir a sua solidariedade e amizade. - No entanto, ele próprio tem consciência de que, muitas vezes, não atuou de forma adequada com os seus ideais, faltando-lhe coragem para passar à ação. Por isso, para ele, o general é mais do que um amigo, é alguém que ele desejaria ser. - O processo de Gomes Freire permite a Sousa Falcão uma reflexão e consciencialização da sua própria existência- “ Há homens que obrigam todos os outros homens a reverem-se por dentro”( Diálogo final com Matilde)Gomes Freire de Andrade - Como o próprio dramaturgo afirma, “está sempre presente, embora nunca apareça” e é a personagem central de peça. - Gomes Freire aparece-nos, então, como um homem instruído, letrado, “um estrangeirado”, um militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justiça. - O povo vê nele o seu herói, o único que será capaz de o libertar do clima de opressão e terror em que vive, depositando nele as derradeiras esperanças de sobrevivência e de regresso a uma sociedade justa e livre do domínio dos ingleses e da tirania da regência.-É o símbolo da luta pela liberdade, da defesa intransigente dos ideais e daí que a sua presença se torne tão incómoda para os “reis do Rossio”. - A sua morte, servirá de lição a todos aqueles que ousem afrontar o poder político e também, de certa forma, económico, representado pela tença que Beresford recebe. - O martírio de Gomes Freire, a sua lição de coragem, bem como a sua determinação em não abandonar o sonho de ver Portugal livre, constituem os principais elementos da construção do caracter épico e trágico desta personagem. Matilde de Melo -“Companheira de todas as horas” de Gomes Freire é ela quem dá voz á injustiça sofrida pelo seu homem. - As suas falas, imbuídas de dor e revolta, constituem também uma denúncia da falsidade e da hipocrisia do Estado e da Igreja, identificando-se com a ideologia progressiva dos anos 60. - Os monólogos desta personagem revelam tratar-se de uma mulher que foge ao paradigma das mulheres da sua época. Ex: Não estava casada com Gomes Freire, sendo, por isso, apelidada de “a amante de Gomes Freire”. -Quando dialoga com os representantes da Igreja, revela um profundo conhecimento dos seus princípios e insurge-se contra a leviandade de um Igreja que desconhece o verdadeiro significado da caridade da justiça e da igualdade entre os homens. - Quando dialoga com o povo mostra-se insatisfeita com a sua falta de solidariedade e apoio. - Matilde é uma personagem modelada, uma vez que se apresenta inicialmente como uma mulher que apenas quer salvar o seu homem mas ao tomar consciência da trama maquiavélica que envolve o general, acaba de assumir a luta de Gomes Freire, revelando-se firme e corajosa.-Acreditando num reencontro pós-morte, Matilde reafirma a crença numa outra vida para além da vida terrena, revelando-se, assim, como uma cristã autêntica. - No entanto, a consciência da inevitabilidade do martírio do seu homem arrasta-a para um delírio final em que envergando a saia verde que o general lhe oferecera em Paris, Matilde dialoga a uma só voz , com Gomes Freire vivendo momentos de alucinação intensa e dramática. Estes momentos finais pelo seu carácter surreal, denunciam o absurdo a que a intolerância e a violência dos homens conduzem.Frei Diogo de Melo e Meneses -Esta personagem é o símbolo do anti-poder dentro da Igreja – “ se há santos, Gomes Freire é um deles…”. - Surge por oposição ao principal Sousa, representante de uma igreja que em tudo se distância dos princípios mais autênticos da Igreja de Cristo e que, por isso, desvirtua a interpretação dos textos sagrados. - Frei Diogo é o representante de uma igreja autêntica. - É ele que fortalece Matilde quando esta parece deixar de ter fé e afirma que “A misericórdia de Deus é infinita”. Acrescentando que “Haja o que houver, não julgue a Deus pelos homens que falam em seu nome”. Este apelo de Frei Diogo denuncia a atuação contraditória dos homens da Igreja.

Caracterização das personagens- O povo

O Povo - Encontra-se representado pela presença de “vários populares” e não tem uma intervenção direta no conflito dramático . - É um grupo de infelizes , de desanimados, que ninguém respeita, que não vive, mas apenas sobrevive, e cuja condição contraria os princípios da dignidade humana. Manuel e Rita - São símbolos de um povo oprimido e esmagado, sem vitalidade. - Têm consciência da injustiça em que vivem, sabem que são simples joguetes nas mãos dos poderosos, mas sentem-se impotentes para alterar a situação. - Veem em Gomes Freire uma espécie de messias e, desta forma, a sua prisão é uma espécie de traição à esperança que o povo nele depositava. -A fala de Manuel, no início do ato II, evidencia um tom irónico que acompanha o desdobramento de personalidades que a personagem ensaia: o oprimido que suplica miseravelmente uma esmola e o opressor que humilha de forma arrogante.Reforça o panorama de injustiça social, de falta de liberdade e dignidade humana que toda a peça claramente denuncia. Manuel e Rita acabam também por simbolizar a desesperança, a desilusão, a frustração de toda uma legião de miseráveis face á quase impossibilidade de mudança da situação opressiva em que vivem.

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