Educação do Futuro

Há algum tempo escutamos sobre mudanças na educação, o que esperamos da educação do futuro e muitos cometam que o precisamos mesmo para uma educação do futuro é que a escola traga os alunos para a realidade, coloque cenários e mostre o dia a dia além da sala de aula. Esperamos que isso aconteça rápido e diversas iniciativas já citadas no blog do ExamTime trabalham nesse sentido. Porém procuramos entender um pouco mais sobre a teoria para conseguir colocá-la em prática.

Então dai surgiu o convite ao José Moran que escreveu sobre a teoria da Educação Humanista Inovadora e nos contará um pouco sobre ela!

educação do futuro

Entrevista com José Moran
Pesquisador e orientador de Projetos Educacionais Inovadores com metodologias ativas em cursos presenciais e online
Autor do livro “A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá
www.eca.usp.br/moran

ExamTime: Fale-nos sobre a teoria da Educação Humanista Inovadora?

José Moran: A educação é um processo muito rico, complexo e dinâmico, no qual participamos ao longo da vida como aprendizes e ensinantes de forma intercalada e ininterrupta. É humanista, porque feita entre pessoas, em ambientes formais e informais, ao vivo ou offline, que nos ajudam a construir percursos pessoais que nos realizem em todas as dimensões.

A sociedade é educadora e aprendiz ao mesmo tempo. Todos os espaços e instituições educam – transmitem ideias, valores normas – e ao mesmo tempo, aprendem, embora na escola o façamos de forma mais intencional e organizada. A educação não se esgota na escola. A sociedade educa através da família, grupos, organizações, mídias. Todos somos corresponsáveis pelo sucesso ou fracasso educativo individual e coletivo. A educação formal organiza uma parte desse processo mais amplo, que é o ensino de conteúdos, habilidades, competências e valores importantes para o país, para a transmissão da cultura passada e orientar para escolhas pessoais e profissionais futuras.

A educação escolar precisa ser cada vez mais inovadora, porque estamos numa fase de transição: ainda não saímos do modelo industrial (embora mantenhamos muitas de suas estruturas organizacionais e mentais) nem chegamos ao modelo da sociedade do conhecimento, embora parcialmente incorporemos alguns dos seus valores e expectativas.

ET: Quais seriam os caminhos para uma educação diferente e inovadora?

JM: Em educação – em um período de tantas mudanças e incertezas – não devemos ser xiitas e defender um único modelo, proposta, caminho. Trabalhar com desafios, com projetos reais, com jogos parece o caminho mais importante hoje, mas pode ser realizado de várias formas e em contextos diferentes. Podemos ensinar por problemas e projetos num modelo disciplinar e em modelos sem disciplinas isoladas; com modelos mais abertos – de construção mais participativa e processual – e com modelos mais roteirizados, preparados anteriormente, planejados nos seus mínimos detalhes.

Alguns componentes são fundamentais para o sucesso da aprendizagem: a criação de desafios, atividades, jogos que realmente trazem as competências necessárias para cada etapa, que solicitam informações pertinentes, que oferecem recompensas estimulantes, que combinam percursos pessoais com participação significativa em grupos, que se inserem em plataformas adaptativas, que reconhecem cada aluno e ao mesmo tempo aprendem com a interação, tudo isso utilizando as tecnologias adequadas.  O articulador das etapas individuais e grupais é o docente, com sua capacidade de acompanhar, mediar, de analisar os processos, resultados, lacunas e necessidades, a partir dos percursos realizados pelos alunos individual e grupalmente.

Esse novo papel do professor é mais complexo do que o anterior de transmitir informações. Precisa de uma preparação em competências mais amplas, além do conhecimento do conteúdo,  como saber adaptar-se ao grupo e a cada aluno; planejar, acompanhar e avaliar atividades significativas e diferentes.

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ET: Dentro desse novo cenário, como a Tecnologia influência e colabora para a construção de uma educação inovadora?

JM: A chegada das tecnologias móveis à sala de aula traz tensões, novas possibilidades e grandes desafios.  São cada vez mais fáceis de usar, permitem a colaboração entre pessoas próximas e distantes, ampliam a noção de espaço escolar, integrando os alunos e professores de países, línguas e culturas diferentes. E todos, além da aprendizagem formal, têm a oportunidade de se engajar, aprender e desenvolver relações duradouras para suas vidas. Ensinar e aprender podem ser feitos de forma muito mais flexível, ativa e focada no ritmo de cada um.

O modelo mais interessante e promissor de utilização de tecnologias é o de concentrar, no ambiente virtual, o que é informação básica e na sala de aula, as atividades mais criativas e supervisionadas. É o que se chama de aula invertida ou flipped learning. A combinação de aprendizagem por desafios, problemas reais, jogos com a aula invertida é muito importante para que os alunos aprendam fazendo, aprendam juntos e aprendam também no seu próprio ritmo. E é decisivo também para valorizar mais o papel do professor como gestor de processos ricos de aprendizagens significativas e não o de um simples repassador de informações. Se mudarmos a mentalidade dos docentes para serem mediadores, poderão utilizar os recursos próximos, tecnologias simples, como os que estão no celular, uma câmera para ilustrar, um programa gratuito para juntar as imagens e contar com elas histórias interessantes e os alunos serem autores, protagonistas do seu processo de aprender.

ET: Quais os desafios para o Educador quando vemos a velocidade com que a tecnologia transforma a educação?

JM: Os desafios de mudança na educação são estruturais. O difícil no Brasil é aumentar o número de escolas – públicas e privadas – de qualidade; de escolas com bons gestores, docentes e infraestrutura, que consigam motivar os alunos e que realmente promovam uma aprendizagem significativa, complexa e abrangente. Faltam muitas condições estruturais – carreira, formação, valorização – para poder cobrar essa melhoria, mas esse é um desafio de longo prazo para toda a sociedade. Precisamos de políticas consistentes de formação, para atrair os melhores professores, remunerá-los bem e qualificá-los melhor; de políticas inovadoras de gestão, que levem os modelos de sucesso de gestão da iniciativa privada para a educação básica e superior.

Os educadores hoje precisam aprender a realizar-se como pessoas e como profissionais, em contextos precários e difíceis; aprender a evoluir sempre em todos os campos, a ser mais afetivos e ao mesmo tempo saber gerenciar grupos. Podemos transformar-nos em educadores inspiradores, motivadores. Na relação direta com os alunos podemos suprir muitas das lacunas estruturais com uma comunicação direta, confiante e aberta com os alunos, incentivando-os a participar, a se expressar, a compreender o que os motiva profundamente. Quanto mais avançamos tecnologicamente, mas importante é poder ter profissionais competentes nos quais confiar.

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ET: Como você enxerga o ExamTime como ferramenta de estudos no processo de inserção de TICs e como meio transformador da educação?

JM: O ExamTime é importante porque é um ambiente que incentiva a autoria e a colaboração, utilizando aplicativos atualizados e dinâmicos como mapas mentais, quizzes, etc. Cada professor pode criar seu curso e gerenciar seu conteúdo de forma personalizada e, ao mesmo tempo, aprendendo juntos.

E você o que espera da Educação do Futuro?

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