O Desafio da Inclusão da Tecnologia na Educação
Entrevista com o Professor José Paulo Santos
Depois da série de artigos que publicamos sobre a inclusão da Tecnologia na Educação, conversamos por um tempo com o Professor José Paulo Santos, que após 16 anos de serviço, suspende a sua atividade docente para desempenhar funções como Consultor em Educação, para acompanhar e aconselhar os professores no seu processo de formação em tecnologias interativas em contexto de aprendizagem. Ele falará sobre o desafio da inclusão da Tecnologia na Educação para inspirar todos os educadores a darem o primeiro passo.
Quais os benefícios da inserção da Tecnologia na Educação?
Apenas podemos falar em benefícios das Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação, quando as mesmas são usadas para a aprendizagem significativa e profunda e não como estratégia de transmissão de saber. A tecnologia é benéfica, se potenciar a mudança de práticas do professor, ou seja, se levar à modificação das suas crenças e dos seus comportamentos como profissional da Educação.
Com um uso correto das mais diversas ferramentas tecnológicas e com orientações bem definidas das atividades curriculares por parte do professor, as TIC podem promover uma maior diversidade de situações de construção das aprendizagens, fomentando uma maior motivação, uma melhor assimilação de conceitos e de processos mais complexos e a possibilidade de garantir mais empenho e esforço por parte do aluno nas atividades escolares.
O uso de TICs facilita o interesse do aluno pelo conteúdo e estimula o processo de aprendizagem?
É, para nós, bem clara a percepção sobre a apetência natural das crianças e dos jovens pelo uso e manipulação das tecnologias. Elas fazem parte do quotidiano, das conversas, convivem no seio familiar, entre os amigos e já constituem um estilo de vida. Esse interesse natural é, então, uma janela aberta, uma oportunidade para as escolas e os professores criarem contextos em sala de aula em que as TIC possam ter um papel mediador de estímulo para a aprendizagem e para a realização de projetos pedagógicos reais, que promovam a interação social e colaborativa.
As escolas e professores estão preparados para educar com ajuda da Tecnologia?
Não. De forma geral, não estão. Obviamente, há relatos de boas práticas evidenciadas em estudos, mas ainda são residuais. Na verdade, o grande entrave existente para um uso efetivo das TIC na Educação é, precisamente, o Professor. As tecnologias exigem conhecimentos e um grande domínio técnico por parte dele e isso leva muito tempo e elevada dedicação.
Tanto em Portugal, como em muitos países da Europa, e mesmo na América Latina, as TIC já fazem parte dos equipamentos de muitas escolas, no entanto, verifica-se que há um uso pouco ambicioso do ponto de vista da aprendizagem. Na maior parte dos casos, são usadas como apoio ao professor ou em tarefas rotineiras pelos alunos, sem adicionar nada à exigência cognitiva. Em muitas situações, essa abordagem tem efeitos perniciosos para os alunos, levando-os à desconcentração e à desmotivação, visto que ele não sente o seu potencial criativo e de trabalho ser profundamente explorado pelo professor. Tal como refere Ken Robinson, as escolas, em vez de acarinhar, matam a criatividade.
Quais os principais desafios para integrar a Tecnologia na educação?
Penso que o maior desafio é, sem dúvida, o professor. É urgente desmistificar a representação que os professores fazem do potencial pedagógico das tecnologias e isso só acontece através de uma formação adequada e continuada, por meio da partilha, da cooperação, da reflexão e da análise crítica das potencialidades educacionais das TIC, com vista à criação de ambientes de aprendizagem estimulantes, inseridos em projetos curriculares reais e significativos para os alunos.
Há muito que venho defendendo que, acima de tudo, é necessário promover atividades pluridisciplinares, onde o trabalho em projeto seja mais valorizado; onde métodos de resolução de situação-problema façam parte do trabalho diário; onde a escrita e a leitura sejam componentes fundamentais dos hábitos de trabalho do aluno.
Nesta sequência, é essencial também que haja uma regulação formativa de aprendizagens e uma aprendizagem personalizada, recorrendo a sistemas de resposta do aluno, dispositivos eletrônicos que facilitam o acompanhamento contínuo da progressão dos conhecimentos, competências e dificuldades dos alunos.
Como integrar efetivamente as Tecnologia ao currículo escolar e ao projeto pedagógico?
Obviamente, é importante prover as salas de aula com as mais diversas tecnologias, como lousas interativas, sistemas de votação, software educativo, tabletes, computadores, máquinas fotográficas, câmaras de vídeos e mesas multitoque, etc. Porém, é preciso entender também que a Educação se desenvolve numa perspetiva sistêmica, holística, onde a visão do universo, do Homem, convive com a ciência e a tecnologia.
Tudo isto exige que se pense numa nova formação de professores, onde eles possam refletir sobre o porquê, o para quê e o como usar as TIC; uma formação cada vez mais orientada para a aprendizagem de orientação socioconstrutivista, democrática e plural.
O professor e a Escola, nesta sociedade cada vez mais exigente, deverão saber preparar os alunos para serem produtivos, criativos, participativos e flexíveis, mas, para que tal aconteça, é necessário que o professor seja um criador e não um mero transmissor tradicional do conhecimento. Deve ser um provocador, um desafiador, tanto para os seus alunos como para os seus próprios pares.
A entrevista do Professor José Paulo inspira muito todos a pensarem nos caminhos que podemos percorrer para efetivamente inserirmos de forma produtiva a TIC na Educação! Esperamos que ela tenha ajudado a todos vocês. Compartilhe o material com seus colegas e deixe seu comentário!
José Paulo Rodrigues dos Santos é Professor, Estudante de Doutoramento em “TIC em Educação”, Criador e co-administrador da Comunidade Virtual de Aprendizagem de Professores, Educadores e Investigadores INTERACT entre outros projetos.
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