Nasce o bebê, que percebe o mundo, mas é incapaz de perceber
a si mesmo (sem consciência reflexiva)
Neste processo, o adulto, ao interagir com o bebê, tende a
agir como um espelho para o mesmo, sintetizando e
reproduzindo suas ações e o reconhecendo como sujeito
antes que o seja, realmente.
Este processo se divide em três tempos dentro do
complexo de Édipo:
O 1º tempo é dividido em quatro etapas:
1ª Etapa: Para a criança a tarefa aqui é
como assumir, em si e para si, essa
linguagem na qual, antes de tudo, ela é
falada. Ela deve aprender a pedir e a
colocar em palavras aquilo que sente e o
que quer. Estas palavras lhe vem do
outro, portanto suas demandas se criam
à partir de uma alienação.
2ª Etapa: A descoberta da própria sexualidade no
prazer e desprazer. Neste processo a criança inicia
uma jornada pulsional, onde descobre o seu próprio
desejo por um objeto ausente, a satisfação humana,
e por extensão a sexualidade, se organiza em torno
de um objeto fantasiado, que por sua vez é um
substituto de um objeto ausente.
Na contramão desse objeto desejo e de prazer, o
desprazer é crucial, ele se verifica nos intervalos da
pulsão, segundo Freud, a experiência do desprazer é
fundamental para formação do eu. O eu associa-se ao
prazer interiorizado, e o mundo, ao desprazer
exteriorizado. As experiências antes possuíam este
valor (prazer ou desprazer) e só depois adquirem o
sentido de existência (ser ou não ser).
3ª Etapa: Neste momento acontece uma reviravolta na criança, um estranhamento, ela
começa a se perceber, é o início do Estádio do Espelho. Se fascina, se estranha pela imagem,
não a reconhece, mas é afetada por ela. Nesse processo de insegurança do Eu, a criança é
complementada pelas imagens do Outro, daí o fato de que o eu é sempre uma espécie de
outro interiorizado. O desejo é o desejo de possuir o desejo do outro, que se fixa na imagem
que o representa.
Uma criança quer o brinquedo que pertence ao vizinho, está
disposta a bater no amigo, por isso e não cederá a pressões. Os pais
providenciam um brinquedo similar ao desejado que no entanto
não surte o menor efeito. A criança parece dizer: “Eu quero aquele
brinquedo porque ele é o brinquedo do outro, porque o outro
parece desejá-lo. Eu quero o brinquedo do outro porque quero o
que ele quer.”
4ª Etapa: Inicia-se a concretização do Édipo. agora é necessário ter algo para ser amado e
ser algo para obter amor de alguém. Esse algo é de natureza intrigantemente simbólica.
Há ainda uma transformação da forma como a criança quer ser reconhecida: não mais
como um objeto fixo e estável para o desejo do Outro, mas como alguém que precisa
fazer algo para conquistar esse reconhecimento e que, portanto, corre o risco de
perdê-lo.
Freud observou seu neto que brincava no berço. A criança tinha um
carretel, preso a um fio, e alternadamente o jogava para fora do berço e
o puxava para dentro, exprimindo uma vocalização característica a
cada um dos momentos. A hipótese é que com esse brincar a criança
realizava as quatro operações necessárias para a formação do eu: (1)
substituía simbolicamente a mãe pela imagem do carretel; assim como
a mãe ia e vinha, dividida entre seus afazeres domésticos e os cuidados
ao bebê, o carretel aparecia e desaparecia de seu campo visual; (2)
substituía simbolicamente a experiência passiva de ser deixado e de
ser reencontrado pela mãe, pela experiência ativa de controle da
situação, assumindo a manipulação do fio; (3) substituía
simbolicamente o desprazer gerado pela ausência da mãe pelo prazer
causado pelo brincar; e (4) substituía simbolicamente o objeto inerte,
representado por um carretel amarrado à um fio de linha, por um
objeto investido pelo dom amoroso da mãe. Temos aqui, portan
O 2º tempo se inicia pela percepção da criança de que a mãe deseja algo além dela; não é,
portanto, a única fonte de seu amor e o exclusivo objeto de seu desejo.
A criança passa a perceber que a Mãe tem esta falta a qual ela não pode ocupar, e também passa a
perceber que existe uma imagem de um pai que até então havia passado despercebida, o pai surgirá
como uma figura aterrorizante e ameaçadora. A ele será atribuída a responsabilidade de a mãe
encontrar-se nesse estado de privação de algo. Ao mesmo tempo a ele serão atribuídos os efeitos de
dano à imagem narcísica de si.
Em um momento consequente, existe o questionamento da origem dos bebês. A criança, a
partir da percepção do pai, começa a se questionar sobre o objeto de Poder no Falo como sendo
o objeto da falta materno, de tal maneira, que a cada passo dessa investigação infantil, a criança
tem efeitos bem reais na sua relação com suas fontes de prazer.
A criança passa então a se sentir ameaçada pelo poder do Falo, causando-lhe angústia e questionamentos,
assim surgindo a Angústia de Castração, mas também uma ideação daquilo que ele (Eu) pode vir a ser. A criança
enxerga que o Pai pode significar um perigo a certas imagens do próprio corpo. Já na menina, há um efeito
diverso, onde ela atribui essa ameaça do Falo a uma falta herdada pela mãe e a invejar essa posição de poder.
Aceitar a privação da mãe o convidará a “esquecer” que um dia ele a desejou como seu
complemento narcísico e pulsional. Esse “esquecimento” corresponde a um modo de negação
simbólica chamado de recalcamento e dará origem a uma relação de tipo neurótica com o
desejo. Recusar a privação da mãe, por outro lado, o convidará a um outro tipo de negação, pelo
qual ele se fará possuidor de um objeto capaz de reatualizar a potência materna, travestida
agora em “força de lei”. Essa outra forma de negação é chamada de desmentido ou recusa e
dará origem a um tipo de relação perversa com o desejo.
A criança pratica uma espécie de negação do objeto que é simultaneamente uma negação de sua
posição inicial relativa à mãe. Ela não é mais o objeto que realiza inteiramente o desejo da mãe.
Essa negação introduz uma reviravolta nas relações dela com os pais, que passa agora a
envolver quatro elementos (o pai, a mãe, a criança e o falo) e não apenas três.
O 3º tempo, onde o sujeito estabiliza seu processo de
constituição, organizado agora pelo complexo de castração,
agora encontrará uma solução para o problema da sexuação.
Na sexuação ocorre uma espécie de transmutação do objeto que representa
o desejo, transmutação que decorre de uma simbolização da relação entre os
pais, destes com a criança e desta com o que representa o desejo.
A criança acaba por simbolizar não apenas a ausência e a presença da mãe, a potência e a
impotência do pai, mas o sentido dessa transição. Introduz-se assim a idéia de que entre os pais há
uma circulação da qual a criança estava inicialmente excluída. O pai, que antes dizia “não” e
representava a interdição de suas vontades, passa agora a dizer “sim” para o desejo, que é agora um
desejo limitado. Essa operação é conhecida como castração.
A criança passa a constituir uma metaforização da relação dos pais, nesta, o pai perde
seu poder de opressão imagética e de força real em prol de uma potência simbólica. Sua função se
“impessoaliza” sendo reduzida à do nome que o inscreve, ele próprio, em uma genealogia cuja
origem não deixa de ser mítica.
A descoberta de que as relações desejantes são relações que envolvem a circulação de elementos
simbólicos é um passo decisivo para a socialização da criança. Ela pode, a partir disso, entender que
nos submetemos às leis e regras não porque haja um elemento de força real que nos coage a isso
(punição). A lei não se reduz à força ou potência de seus representantes reais, mas à sua autoridade
simbólica em promover a circulação do desejo. Assim a autoridade real dos pais pode transferir-se
para instâncias sociais que, na origem, os representam (governantes, professores, médicos, juízes,
etc.).
A partir dessas renúncias forçadas pela lei, existe a perda de um prazer que
mais tarde pode reaparecer no sujeito como a escolha do objeto de prazer
amoroso, como o superEgo, responsável pela vigilância e culpa, ou como um
processo de sublimação em busca de reaver tal prazer, pela arte, ciência etc.
Neste processo inicia-se a identificação sexual, na qual a fantasia, que remanesce como
organizadora do desejo, incidirá para cada sujeito
Neste terceiro tempo há uma modificação fundamental do objeto que coordena o desejo, ele não é
mais imaginário, nem real, mas se torna propriamente simbólico. Este movimento implica na
formação de um nova maneira de relacionar o sexual ao desejo (mediada pela lei), onde é possível
inscrever-se como homem ou como mulher anunciado assim um modo prevalente de satisfação,
agora mediada pela fantasia.
Desta maneira, o complexo de édipo encerra uma longa estruturação do desejo, da lei, do superego, do ego, do
reconhecimento do sujeito e do desejo inscritos no indivíduo
Ao finalizar o artigo, Dunker ainda explica: Entende-se por sujeito não apenas a capacidade de ter
consciência de si, nem a capacidade de agir e reagir a problemas e conflitos, mas fundamentalmente
o que nos torna responsáveis por nosso próprio desejo, mesmo que uma parte dele permaneça
inconsciente.