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Leia a seguir um fragmento de conto:
Em dezembro
“Em dezembro mangas maduras eram vistas da janela – mas antes disso já tínhamos comido muita manga verde com sal, tirado escondido da cozinha. [...]
— Quem comeu manga verde? Vamos, confessa, já. Nenhum confessava: os dois de castigo.
Mostrei para Neusa a manga amoitada no capim: começava a amarelar. Ela cheirou, apertou contra o rosto, me pediu.
— Dou um pedaço.
— Quero a manga inteira.
— A manga inteira não. Um pedaço. [...]
— A manga inteira ou nada.
— Então nada.
Quando entrei na cozinha, Vovó estava me esperando:
— Pode ir direto para o quarto, já sei de tudo. Fiquei fechado de castigo até a hora da janta.
— Se tornar a comer manga verde, da próxima vez vai apanhar é de vara, ouviu?
Quem apanhou de vara foi Neusa. Cerquei-a no fundo do quintal com uma vara:
— Você enredou, agora vai pagar. [...]
Ela pediu pelo amor de Deus. Perguntei se ela gostava de mim. Ela disse que gostava. Pedi para ela dizer: ‘Eu te amo.’ Ela disse. [...] Eu falei que era mentira, que ela gostava é de Marcelo. Então ela disse que era mentira mesmo, que tinha é nojo de mim, e eu desci uma varada nas pernas dela. Em vez de correr, ela ficou parada, encolhida contra o muro [...].
— Pede perdão, senão eu bato de novo! [...]
Ameacei com a vara, mas ela só chorava. Então bati de novo, e dessa vez ela nem se mexeu, como se não tivesse sentido dor. Foi andando em direção a casa, e eu fiquei parado, vendo-a afastar-se. [...]
Ao voltar para casa, deixei três moranguinhos na mesinha do quarto onde ela, deitada, havia adormecido.
No dia seguinte recebi uma caixinha embrulhada — dentro os três moranguinhos e um bilhete: ‘Eu gostava é de você mesmo, mas agora nunca mais’.”
VILELA, Luiz. Contos da infância e da adolescência. São
Paulo: Ática, 2001.
Luiz Vilela nasceu em Minas Gerais, em 1942. Desde menino, lia muito. Então, um dia, depois de ler tantas histórias, resolveu tornar-se um escritor: começou a escrever aos 13 anos. Sua obra é composta por mais de 15 livros, entre novelas, romances e coletâneas de contos. Em entrevista, afirmou: “Meus livros são o melhor de mim, são a marca de minha passagem pela Terra, o meu nome escrito a canivete no tronco da grande árvore da vida”.
O texto acima é o fragmento de um conto narrado em ( 1ª pessoa, 2ª pessoa, 3ª pessoa ). O narrador é o ( antagonista, protagonista, secundário, coadjuvante ), isto é, a personagem principal da história: ele participa ativamente dos acontecimentos e é de seu ponto de vista que tudo é observado e narrado. Chamamos esse tipo de narrador de( narrador-observador, narrador-personagem, narrador onisciente ).