Por que a discussão sobre fake news deve ser levada para a sala de aula
By Juliana Fontoura
Apresentação de Adriana dos Reis Silva
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Em ano de eleição os brasileiros têm preocupações quanto as notícias falsas que veiculam na imprensa - fake news.
Desde as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, em 2016, o termo “fake news” (notícias falsas, em inglês) se tornou extremamente popular.
Durante a corrida eleitoral que levou Donald Trump à presidência, muitas notícias falsas foram compartilhadas na rede e, até hoje, dois anos depois, o país ainda investiga e discute a influência dos conteúdos mentirosos no resultado do pleito.
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No Brasil já tramita no congresso alguns projetos para combater as fake news.
Mas os números impressionantes de compartilhamentos das notícias falsas na rede apontam para um problema maior:
a falta de visão crítica das pessoas no meio digital.
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Boa parte dos compartilhamentos das notícias falsas pode ser feita pelos chamados:
bots – contas automatizadas criadas para replicar as mensagens nas redes sociais e influenciar o debate público.
um estudo do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) sobre fake news, apontou que a difusão de conteúdo mentiroso se dá mais pela ação humana do que dos robôs.
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Uma pesquisa, analisando notícias postadas no Twitter entre 2006 e 2017, demonstrou que as informações inverídicas se espalham mais rápido do que as verdadeiras.
Aumenta a necessidade de abordar o assunto em sala de aula.
“Falta formar o cidadão digital completo”,
analisa Cristina Tardáguila, diretora da Agência Lupa, agência de checagem de fatos.
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Identificando notícias falsas
Não ficar apenas na manchete;
Verificar qual o site original da publicação – se é conhecido, confiável;
Se outros veículos também publicaram a notícia;
Pesquisar sobre o autor são alguns dos primeiros passos a serem dados.
Às vezes, a informação não é falsa, mas é antiga ou passada de forma descontextualizada: por isso, também é importante olhar a data de sua publicação.
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É importante que a escola oriente os estudantes com relação ao uso das redes sociais – especialmente para o acesso à informação.
“A escola não pode se eximir do papel de educar crianças e jovens para uma prática cultural – educativa, midiática, tecnológica – responsável, ainda mais numa sociedade cada vez mais protagonizada pelas mídias”.
Afirma Mônica Fantin, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e líder do grupo de pesquisa Núcleo Infância, Comunicação, Cultura e Arte na mesma instituição.
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Mônica Fantin considera que os professores devem discutir com os pais dos alunos sobre como e quando introduzir as tecnologias na vida das crianças, para que elas aprendam a utilizá-las corretamente.
Além disso, é preciso saber atuar como mediador. “Um ponto de partida é buscar conhecer os usos que crianças e jovens fazem das tecnologias, observá-los, compreender seus saberes e suas necessidades para propiciar mediações educativas”, afirma.
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Formação crítica
Além das informações técnicas, também é importante que a escola ofereça uma formação mais abrangente, que desenvolva uma posição crítica dos jovens com relação ao que leem na internet.
Isso porque as principais características das fake news são as manchetes sensacionalistas e o texto alarmista, que apela para o emocional.
É importante que os alunos saibam compreender que suas opiniões pessoais não devem influenciar na avaliação da veracidade de uma informação.
Formas de trabalhar o assunto em sala de aula:
utilizar o plano de aula gratuito elaborado pelo Instituto Poynter e traduzido pela Agência Pública, que explora a diferença entre fato e opinião, além de oferecer dicas para a checagem de fatos.
O projeto Fake ou News, realizado pela Agência Lupa e o canal Futura, também oferece trilhas do conhecimento sobre a identificação de notícias falsas.
Outro ponto fundamental:
Não focar apenas os boatos, mas ensinar aos alunos a importância e o valor das notícias verdadeiras e do bom jornalismo para a democracia, sugere Barbara McCormack, vice-presidente do setor educativo do Newseum, museu dedicado ao jornalismo localizado em Washington, nos Estados Unidos.
“Isso pode ajudá-los a entender por que não podem simplesmente achar que todas as notícias e informações são falsas – o que é tão problemático na nossa sociedade quanto acreditar em tudo que lemos”, diz Barbara McCormack,.
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O termo fake news se popularizou não apenas para designar as notícias realmente falsas;
Ele foi distorcido e passou a ser usado para atacar qualquer informação ou notícia que não se adeque à visão de mundo daquele que a consome.
Donald Trump, por exemplo, usa a expressão reiteradamente para atacar a imprensa americana.
É fundamental ampliar a discussão sobre fake news para um debate sobre as imprensa e política, especialmente em ano eleitoral.
"Discutir como a política constitui a vida social, que sem política é impossível a existência em grupo, o modo como a política é configurada nas sociedades modernas, na democracia; e o modo como informações atuam na participação política dos sujeitos para a eleição de seus representantes são pontos fundamentais a serem debatidos na escola, de maneira que o fenômeno das notícias falsas seja situado também no interior deste debate”,
afirma Pedro Oliveira Simões, professor de língua portuguesa e pesquisador sobre mídia e educação.
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Para Pedro Oliveira Simões, esses debates podem até mesmo extrapolar a sala de aula.
“Talvez não só os professores devam ensinar a pesquisar informações em sites confiáveis, realizar curadoria de fontes, mas também as escolas, como um todo, devam tomar a responsabilidade de promover debates sobre o tema no conjunto da comunidade escolar e para além dela, atuando de forma participativa na identificação, no combate e na denúncia das notícias falsas.”