Seja qual for a escolha, ela nos fará recordar o “manto leve” de Max Weber, um dos fundadores da sociologia moderna; ele podia ser removido dos ombros à vontade, num instante, sem muitos problemas – ao contrário da “rígida crosta de aço”, que proporcionava uma proteção eficaz e duradoura contra as turbulências, mas era difícil de se despir, além de tolher os movimentos da pessoa que protegia e restringir o espaço para o exercício de seu livre-arbítrio.O que mais importa para os jovens é preservar a capacidade de remodelar a “identidade” e a “rede” no momento em que surge uma necessidade (ou, na verdade, um capricho) de refazê-las, ou quando se suspeita que essa necessidade já tenha surgido. A preocupação dos antepassados com a própria identificação, exclusiva e única, tende a ser deslocada pela preocupação com uma reidentificação perpétua. As identidades devem ser descartáveis; uma identidade insatisfatória, ou não suficientemente satisfatória, ou uma identidade que denuncia a idade avançada, deve ser facilmente abandonável; a biodegradabilidade talvez seja o atributo ideal da identidade mais desejável nos nossos dias. As capacidades interativas da internet são feitas sob medida para essa nova necessidade. Em sua versão eletrônica, é a quantidade de conexões, e não sua qualidade, que faz toda a diferença para as chances de sucesso ou fracasso. É isso que possibilita manter-se au courant do que “todo mundo está falando” e das escolhas indispensáveis do momento: as músicas mais ouvidas, as camisetas da moda, as últimas aventuras das celebridades, as festas mais badaladas, os festivais e eventos comentados.Ao mesmo tempo, estar em dia com tudo isso ajuda a atualizar os conteúdos e a redistribuir as ênfases na imagem da pessoa; ajuda ainda a apagar depressa os vestígios do passado, isto é, os conteúdos e as ênfases que agora estão vergonhosamente fora de moda. Tudo somado, ainternet facilita demais, incentiva e inclusive impõe o exercício incessante de reinvenção – numa extensão inalcançável na vida off-line. Esta é, sem dúvida, uma das mais importantes explicações para o tempo que a “geração eletrônica” gasta no universo virtual: o tempo gradual e crescentemente utilizado no mundo virtual em detrimento do tempo passada no mundo “real” (off-line).
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