Cartas chilenas
Amigo Doroteu, prezado amigo,Abre os olhos, boceja, estende os braçosE limpa, das pestanas carregadas,O pegajoso humor, que o sono ajunta.Critilo, o teu Critilo é quem te chama;Ergue a cabeça da engomada fronhaAcorda, se ouvir queres coisas raras.
Ah! pobre Chile, que desgraça esperas!Quanto melhor te fora se sentissesAs pragas, que no Egito se choraram,Do que veres que sobe ao teu governoCarrancudo casquilho, a quem rodeiamOs néscios, os marotos e os peraltas!Seguido, pois, dos grandes entra o chefeNo nosso Santiago junto à noite.A casa me recolho e cheio destasTristíssimas imagens, no discurso,Mil coisas feias, sem querer, revolvo.Por ver se a dor divirto, vou sentar-meNa janela da sala e ao ar levantoOs olhos já molhados. Céus, que vejo!Não vejo estrelas que, serenas, brilhem,Nem vejo a lua que prateia os mares:Vejo um grande cometa, a quem os doutosCaudato apelidaram. Este cobreA terra toda co’ disforme rabo.