JOAN SCOTT

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GÊNERO: UMA CATEGORIA ÚTIL DE ANÁLISE HISTÓRICA
LEONARDO NOLASCO
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LEONARDO NOLASCO
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JOAN SCOTT
  1. historiadora Norte-americana, nascida em 18 dezembro de 1941 no Brooklyn,
    1. Trabalho inicialmente dedicado à história francesa (movimento operário e história intelectual)
      1. direcionado na década de 1980 para a história das mulheres a partir da perspectiva de gênero
        1. Tem a história participado da construção das relações de gênero, ou apenas informado a respeito de como os sujeitos do sexo masculino e feminino vêm se organizando ao longo do tempo nas diversas sociedades históricas?
          1. Segundo Le Goff “não há realidade histórica acabada, que entregaria por si própria ao historiador”
            1. o historiador como todo homem de ciência, “diante da imensa e confusa realidade faz sua opção” e constrói sua explicação do passado (LE GOFF, 2005: 42)
              1. escolhe o que fazer ouvir e o que fazer calar
        2. o conhecimento histórico não é só um simples registro das mudanças nas organizações sociais ao longo do tempo, mas também, um instrumento que participa da produção do saber sobre estas organizações.
          1. perceber como esta área do conhecimento tem participado na produção do saber sobre a diferença sexual.
            1. a “História é tanto objeto da atenção analítica quanto um método de análise. Vista em conjunto desses dois ângulos, ela oferece um modo de compreensão e uma contribuição ao processo através do qual gênero é produzido” (SCOTT, 1994: 13-14).
              1. passou a levar a sério a teoria pós-estruturalista e a enfrentar suas implicações para uma história social (SCOTT, 1994: 11-12).
                1. “Igualdade versus diferença: os usos da teoria pós-estruturalista” (SCOTT, 2000: 203-204)
                  1. a teoria que melhor permite ao feminismo romper o esquema conceitual das velhas tradições filosóficas ocidentais, que têm construído o mundo de maneira hierárquica, em termos de universos masculinos e especificidades femininas.
                    1. precisa de teorias que permitam articular modos de pensamentos alternativos sobre gênero e que não busque simplesmente reverter ou confirmar velhas hierarquias
                      1. a que possui instrumental mais adequado e satisfatório para a análise das construções de significados e relações de poder, como também a que questiona as categorias unitárias e universais, tornando históricos conceitos que normalmente são tratados como naturais ou absolutos.
            2. tratar as relações entre mulheres e homens a partir de uma ótica que faça como que estes sujeitos não sejam vistos em separados, daí, por exemplo, ter lançado sérias críticas quanto ao modo como foi estudada a “história das mulheres” por volta da década de 1970, e mostrar porque tal abordagem teve tão pouco impacto.
              1. o caminho que se estava seguindo, ou seja, o de mostrar novas informações sobre as mulheres no passado, pensando que com isso ia de certo modo “equilibrar a balança”, não estava ajudando neste projeto, tendo em vista, não modificar a importância atribuída às atividades femininas, mas, pelo contrário, o que se estava fazendo era colocá-las como em separado, estava dando a elas um lugar marginal em relação aos temas masculinos dominantes e universais (SCOTT, 1994: 14).
                1. não se tratava de questões que esclarecia porque aqueles que escreveram sobre a história do trabalho ignoraram evidências a respeito das mulheres, ou seja, não explicava a ausência de atenção às mulheres no passado e assim esse tipo de abordagem não alterava as definições estabelecidas dessas categorias (SCOTT, 1994: 14-15).
                  1. “o problema da invisibilidade” (SCOTT, 1989:.46)
                    1. limitações da proposta da história das mulheres, enfatizando que o propósito “compensatório” desse tipo de iniciativa, não avançou no que diz respeito a certas questões teóricas e metodológicas fundamentais
                      1. perguntar por que e como as mulheres se tornaram invisíveis na história.
                        1. a história das mulheres tem uma força política potencialmente crítica, uma força que desafia e desestabiliza as premissas disciplinares estabelecidas, principalmente, porque este tipo de história questiona a prioridade relativa dada à “história do homem”, em oposição à “história da mulher” e desafia a competência de qualquer reivindicação da história de fazer um relato completo quanto à perfeição e à presença intrínseca do objeto desta ciência – o Homem Universal.
                          1. Uma das primeiras formulações teóricas que dá suporte explicativo em direção ao caminho da compreensão do que mais tarde se torna o conceito de gênero, é de Gayle Rubin
                            1. seu texto The Traffic in Women: Notes on the ‘political economy’of sex, (em 1975), surgiu nos primórdios da segunda onda do movimento feminista, quando muitas feministas estavam tentando fazer uma idéia de como pensar e entender a opressão das mulheres. Assim, ele, é o resultado deste esforço. Hoje considerado mundialmente, um trabalho pioneiro e marcante no campo dos estudos de gênero, por traçar a distinção entre sexo/biológico e gênero/construção social do biológico.
                              1. Rubin, em seu texto “Tráfico de mulheres” (SCOTT, 1975: 157-210), discute e elabora o conceito de “sistema de sexo/gênero”, definindo este como sendo “um conjunto de arranjos através dos quais, a sociedade transforma a sexualidade biológica em produto da atividade humana”
                                1. Scott diz, em seu texto: Gênero: uma categoria útil para análise histórica (SCOTT, 1990), que Rubin pecou ao reduzir gênero ao sistema de parentesco. Ou seja, para Rubin as noções de “troca de mulheres” e “sistemas de parentesco”, trazidas por Strauss são conceitos sedutores e poderosos, isso porque coloca a opressão das mulheres dentro de sistemas sociais, em lugar da biologia e por serem formas observáveis e empíricas de sistemas de sexo/gênero. Segundo ela, muito do que se afirma sobre sexualidade e gênero é baseado nos sistemas de parentesco, devido estes se basearem no tabu do incesto, na heterossexualidade obrigatória e em uma divisão assimétrica dos sexos, ou seja, o sistema de parentesco é fundamentado na obrigatoriedade do casamento entre pessoas de sexos diferentes, este não deve ocorrer entre pessoas do mesmo grupo e sempre através da troca de mulheres (RUBIN, 1975: 06-14).
                                  1. Scott defende uma visão mais ampla de gênero, que inclua não só o parentesco, mas também o mercado de trabalho que é sexualmente segregado, a educação enquanto instituições socialmente masculinas e ainda o sistema político. Para ela a análise de Rubin foi reducionista, já que gênero tanto é construído através do parentesco, como também na economia, na organização política, enfim em outros lugares igualmente fundantes (SCOTT, 1990: 15).
                                    1. Para Scott, portanto, as relações entre os sexos são construídas socialmente, como já havia sido sinalizado por outras teóricas, porém, para ela isso ainda diz pouco, pois não explica como estas relações são construídas e porque são construídas de forma desigual privilegiando o sujeito masculino;
                                      1. Scott vai além das propostas anteriores e articula a noção de construção social com a noção de poder, presente no processo dessa produção
                                        1. gênero é um elemento constitutivo das relações sociais, baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos e mais, o gênero é uma forma primeira de dar significado às relações de poder (SCOTT, 1994: 13)
                                          1. gênero significa o saber a respeito das diferenças sexuais, saber este, pensado por ela, seguindo a orientação de Foucault, como sendo a compreensão produzida pelas culturas e sociedades sobre as relações humanas e ainda um modo de ordenar o mundo e como tal não antecede a organização social, mas é inseparável dela.
                                            1. Saber, pensado aqui, como algo que nunca absoluto ou verdadeiro, mas sempre relativo, cujos usos e significados nascem de uma disputa política e são os meios pelos quais as relações de poder – de dominação e de subordinação – são construídas.
                                              1. Vincular o saber ao poder e teorizar sobre eles operacionalizando a diferença exige, segundo Scott, uma história feminista mais radical do que aquela que vinha sendo feita, a partir do modelo da “história das mulheres”, e o pós-estruturalismo, pelo menos certas abordagens associadas a Michel de Foucault e Jacques Derrida, oferecem uma perspectiva analítica bastante poderosa em direção a este caminho
                                                1. pós-estruturalismo
                                                  1. um estudo de processos, não de origens
                                                    1. causas múltiplas, ao invés de causas únicas
                                                      1. não se abandona a atenção às estruturas e instituições, mas se busca entender o que elas significam para poder então entender como elas funcionam
                                                        1. interessa à História analisar: os processos conflitivos através dos quais os significados se estabelecem, as maneiras através das quais conceitos como gênero adquirem a aparência de fixidez, as contestações que ocorrem às definições sociais normativas e ainda as respostas a essas contestações.
                                                          1. interessa saber como se dá o jogo de forças presentes na construção e implementação de significados em qualquer sociedade. Interessa saber a política3 que está evolvida aí, isto é, perceber de quem é o interesse em controlar ou contestar significados e qual a natureza desse interesse (SCOTT, 1994: 16-17).
                                                            1. O conhecimento histórico, segundo Scott, é parte da política de sistema de gênero.
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