Princípios Básicos sobre Teorias da Memória Public

Princípios Básicos sobre Teorias da Memória

Fabrício Rios
Course by Fabrício Rios, updated more than 1 year ago Contributors

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Princípios Básicos sobre Teorias da Memória

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Aspectos filosóficos originais sobre a memória.

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INTRODUÇÃO   Mente é o instrumento humano de gestão, de aprender e de pensar. Necessária para a formação do ser humano, a mente é uma estrutura altamente complexa com organização sistêmica de redes neurais que capacitam o indivíduo na autonomia para dirigir a própria existência no tempo e resolver a si mesmo no espaço. (autor a identificar)   Uma das concepções iniciais sobre a mente humana, parodoxalmente materialista, proveio de Tales de Mileto, há 2500 anos, noo qual associava a existência do todo às quatro substâncias em que tudo se originava: a água, o ar, o fogo e a terra. Anaxágoras definiu o Nous (Mind) como "a mais pura e refinada de todas as coisas" que ocupa lugar no espaço.    De fato, ao que tudo indica,  historicamente a memória surgiu mais como um aspecto técnico do que filosófico. Acredita-se que Simônides de Ceos (cc 556-468 a. C), famoso poeta em seu tempo, foi o “inventor” da memória como técnica – na verdade, ele parece ter compilado de alguma forma técnicas antigas e que vinham sendo ensinadas de maneira oral até então.    Platão foi o primeiro a defender explicitamente a doutrina de que a mente é inteiramente não material — sem as definições das propriedades da matéria como tamanho, forma ou impenetrabilidade. Platão usou a palavra psyche (traduzida como "alma") a qual simultaneamente,  vai se transformando e difundindo psyche como "espírito que pensa" (Havelock p. 213), elaboração atribuída inicialmente a Sócrates. Como destacado por SMOLKA (2000): Platão encontra-se em meio a uma instigante arena de luta, com séculos de exercitação da experiência rítmica memorizada, conservada em formas de enunciados verbais, na memória viva das pessoas, como modo de consciência partilhado, como tradição. Os nomoi (normas, leis) e os ethe (práticas, hábitos, costumes, sentimentos e reações particulares) persistiam como estado mental oral do povo.    Para Platão a memória se assemelharia a um bloco de cera em nossas almas – de diferentes qualidades, de acordo com os indivíduos – e isso é ‘o dom da Memória, a mãe das Musas’. Quando vemos, ouvimos ou pensamos em algo, submetemos essa cera às impressões das percepções e dos pensamentos. No entanto, para Platão, há um conhecimento que não é derivado das impressões sensoriais: as Formas das Idéias, que a alma conheceu antes de cada um nascer. Logo, o verdadeiro conhecimento consistiria em ajustar as marcas das impressões sensoriais à forma da realidade superior, da qual as coisas são meros reflexos. Platão então defende, que nós não vimos ou aprendemos esses arquetipos nessa vida, sendo de certa forma inato em nossa memória.    Notemos que Platão eleva o conceito de memória como uma técnica preconizada pela sofística, tendo um pensar muito mais amplo que põe o próprio sentido do humano. Ou sejam a memória não constitui somente uma técnica, mas, especialmente, um reconhecer-se e um posicionar-se diante da realidade e de um mundo ideal.    A mente para ese grande filósofo deveria ser considerada uma substância única, separada do corpo, e com isso, não estaria sujeita as suas leis materiais. Ainda, em Philebus, Platão distinguiu dois processos: A conservação de sensações e a reminiscência, termos também adotado posteriormente por Aristóteles. De maneira muito perspicaz, Aristóteles avançou na temática da distinguindo a memória propriamente dita, a mneme, faculdade de conservar o passado; da reminiscência, a mamnesi, faculdade de invocar voluntariamente o passado.  Porém, divergindo de seu mestre, Aristóteles defendeu que ambos os fenômenos são inteiramente físicos, pois seria da memória que os homens derivam a experiência, pois as recordações repetidas da mesma coisa produz o efeito de uma única experiência.  Não é sem justa causa, que tais debates a partir do século XVII com a Teoria do Conhecimento retomou com muito entusiasmo como uma informação fica gravada, assim como da sua necessidade para a vida, o prazer, ou mesmo para a dor. Tais teorias criaram o empirismo que sustenta que todo conhecimento provém da experiência, e o de outro o nativistimo, que defende que de alguma forma o ser humano já possui em sua essência muitos dos conhecimentos tidos então como inato.   Agora que tal avançarmos nosso estudo em como essas perspectivas filosóficas evoluíram para novos conceitos em psicologia e neurociência?
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A memória como um processo psicológico                        “Experiências repetidas convertem memória de curto prazo em memória de longo prazo” (Erick Kandel – Princípios da Neurociência)                           Vimos no módulo anterior como o pensamento sobre a importância entre e a memória foram sendo filosoficamente discutidas ao longo do tempo. Mas hoje, como podemos definir esse conceito ainda que abstrato sobre a memória?   Vejamos uma boa contextualização e conceituação utilizados pela Dra. Silvia Helena Cardoso: “A memória é uma faculdade cognitiva extremamente importante porque ela  forma a base para a aprendizagem. Se não houvesse uma forma de armazenamento mental de representações do passado, não teríamos uma solução para tirar proveito da experiência. Assim, a memória envolve um complexo mecanismo que abrange o arquivo e a recuperação de experiências, portanto, está intimamente associada à aprendizagem, que é a habilidade de mudarmos o nosso comportamento através das experiências que foram armazenadas na memória; em outras palavras, a aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos e a memória é a retenção daqueles conhecimentos aprendidos.”   Ainda no século passado William James definiu, por introspecção, os conceitos de memória primária e memória secundária. A memória primária se estenderia por um curto prazo de tempo e dela fariam parte eventos pertencentes ao "presente psicológico" que após serem percebidos ainda não deixaram a consciência. A memória secundária pertenceria ao "passado psicológico" e já esteve ausente da consciência. Posteriormente estes conceitos evoluíram em memória de curto prazo (ou memória imediata) e memória de longo prazo, respectivamente. Atualmente existe muitas evidências que permitem diferenciar memória de curto prazo (retenção de itens por apenas alguns segundos) de memória de longo prazo (retenção de itens por intervalos maiores).                       Além disso, muitos autores diferenciam as memórias além da função tempo de armazenamento (ultrarrápida ou sensorial, curto prazo e longo prazo), como também o da sua natureza  (explícita, implícita e de trabalho).   Dentre as primeiras teorias, que ainda nos traz importantes observações, temos a Teoria da Memória por Estágios (TME), que tem como referencial o fator tempo.   Sua premissa básica é que as memórias são dados passíveis de armazenamento em vários compartimentos, se movimentando por estágios. Essas informações então poderiam transitar de uma memória de curto prazo intermediária, na qual após processos de repetição, passariam a ser consolidadas em um memória de longo prazo. Semelhante à uma biblioteca, o volume de informações nas estantes apesar de serem maiores, são mais dispendiosas de consultar, quando comparado aos livros já selecionados que estão sobre a sua mesa. De fato, muitos também irão classificar a memória de curto prazo como uma memória de trabalho.   Contudo, a TME não se ateve (e nem era necessário no momento) sobre a influência do próprio indivíduo (como estratégias e objetivos) no processo de memorizar. Ou seja, a memória é processo ATIVO, e a mera repetição não conduz a informação para uma memória de longo prazo. Isso quer dizer que a memória é um processo ativo, na qual as atitudes e desejos influenciam diretamente a transferência de tais informações para um estado de maior consolidação.   Pelo menos alguns fatores que determinam a qualidade da memorização. Dentre esses, a profundidade do processamento está diretamente relacionada com a atenção e envolvimento intelectual para com aquilo que se deseja aprender. Veja que não são os fenômenos que são memorizados, mas sim o que pensamos sobre ele durante o processo. Ou seja, entre duas pessoas, um evento pode ser marcante e ser fixado em sua memória, enquanto para o outro, em pouco tempo será esquecido. Talvez disso derive assertivas como "o primeiro amor nunca se esquece".   Desse modo, podemos dizer que determinada informação considerada bruta ou originária, será diretamente impregnada com os significados que possam ser mais facilmente recordados.    Se eu te dissesse que meu aniversário é 04 de agosto, possivelmente ao final desse curso você já teria até esquecido. Mas e seu te disser que meu aniversário é no dia 11 de setembro (e de fato o é), e que em 11/09 foi o dia do atentado que abalou o mundo com a destruição das Torres Gêmeas de Nova York? Certamente você lembraria mais facilmente.   Com isso, muitos autores passaram a classificar os tipos de memória de acordo com o tempo de sua "permanência", podendo ser ela sensorial, a curto prazo (imediata e de trabalho) e a longo prazo.   A memória sensorial  seria aquela que tem origem nos órgãos sensitivos. As informações obtidas pelos sentidos se mantêm por um curtíssimo espaço de tempo (0,1 a 2 segundos), caso o estímulo não seja recuperado. A memória sensorial nos permite reter as informações de estímulos visuais, auditivos, gustativos, olfativos, táteis ou proprioceptivos, e com isso possuem uma característica fundamentalmente elétrica.  Essa informação pode tanto passar para a memória a curto prazo, ou ainda não ser conscientemente codificada. Por isso, muitos autores não a mencionam, pois a alocam como uma condição prévia da codificação, pois envolve a percepção do indivíduo do mundo em sua volta, apresentando, portanto, caráter pré-consciente .      A memória de curto prazo retêm a informação durante um período limitado de tempo, podendo ser esquecida ou ser direcionada para a memória de longo prazo a depender da necessidade do processo de condificação. A memória de curto prazo pode ser distinguida em uma memória imediata ou em uma memória de trabalho. A memória de trabalho também se caracteriza por ser um fenômeno de natureza elétrica. não induzindo de imediato alterações físicas nos neurônios, e com isso não alterando a morfologia neural ou das conexões sinápticas. Porém, o termo memória de trabalho passou a ser utilizado há pouco tempo, aparecendo na literatura somente na década de 1960.    Na memória imediata a informação recebida fica retida durante um curto período de tempo e podemos conservar mesmo até sete elementos (como letras, palavras, algarismos, etc), variando entre cinco e nove unidades em cada indivíduo.   A memória de trabalho por sua vez, a informação mantêm-se enquanto ela nos e útil, e apesar de o objetivo não ser a memorização mais permanente,  implicam uma certa memorização para se poder resgatar quando necessário em um determinado período de tempo. Possui então como característica central uma duração ultrarrápida (de apenas poucos segundos) e capacidade limitada (retém apenas 5 a 9 itens), estando muito relacionada  à atividade de armazenamento e de utilização de informação ligada especificamente à realização de tarefas. Como exemplo memorizar o número no imã da geladeira e discar o número, etc. Após o evento, essa memória pode ser facilmente esquecida caso não tenha se estabelecido como necesssária ou importante.  Como exposto por Mourão Junior e Faria (2015), são características essenciais que diferenciam a memória sensorial: (a) sua matéria-prima são as informações que chegam até nós pelos sentidos; (b) é ultrarrápida, ou seja, apresenta curtíssima duração (da ordem de poucos segundos), apesar da variação de tempo entre diferentes tipos de estímulos (a memória visual, por exemplo, é mais curta que a memória auditiva); (c) apresenta maior capacidade de armazenamento que a memória de trabalho, apesar de durar bem menos tempo que esta; (d) apresenta caráter pré-consciente, ou seja, ocorre antes que tomemos consciência da informação que os sentidos nos trazem; (e) tal qual a memória de trabalho, trata-se tão somente de um fenômeno elétrico nos neurônios, não produzindo alterações morfológicas ou funcionais nas sinapses (como ocorre com as memórias de longa duração)   A memória de trabalho passa a ser importante por possibilitar o encadeamento das ideias durante um diálogo, pois asim podemos lembrar (temporariamente) das palavras que foram ditas e, posteriormente, ocorrer sentido no conjunto das palavras. Ao fim da conversa, é bem provável que venhamos a esquecer a sequencia exata das palavras utilizadas pelo interlocutor, mas seremos capazes de lembrar o seu conteúdo. Claro, que a depender da força impregnada e do processo que codificamos a informção, teremos diferentes graus de motivação em armazenar os fragmentos da informação. Sendo esse o caso, tal memória de trabalho poderá ser transformada em em memória de longo prazo. A memória de trabalho funciona como a nossa mesa de estudo, e nela também podemos comparar as novas informações que estamos recebendo com informações anteriores, consolidadas, como um verdadeiro sistema de processamento.    Nesses termos, a consolidação é justamente a passagem de uma memória de curto prazo, para memória de longo prazo.   Os sistemas de memória de longa duração são capazes de armazenar muitas informações, como uma biblioteca, no entanto, a memória de trabalho, que entra em ação na evocação dessas informações, nos permite recuperar apenas alguns dos livros mais importantes naquele momento do pensamento.  Portanto, a memória de trabalho possui importante função de gerenciamento, trazendo à consciência as informações de maneira sequencial e ordenada, coordenando os eventos do presente com as memórias evocadas de um passado que se integra na realidade que se apresenta.   No aspecto da aprendizagem formal, a consolidação passa a ser mais fácil quando ao término de estudos, por exemplo, ocorre a prática diversificada, como a resolução de exercício sobre o tema. Tais práticas podem inclusive passar a ser um comportamento não consciente de aprendizagem, um hábito de aprender a aprender. E com isso, temos o uso de diversos tipos de memórias, compondo a memória de longo prazo, o que irá incluir as memórias declarativas (com o seu conteúdo aprendido) e a não declarativa (com seus hábitos e condicionamentos), como será discutido em um dos módulos.   Essa memória de longa duração (ou também conhecida como remota ou "permanente") é responsável por armazenar todo o conhecimento de uma pessoa, por longos períodos de tempo, meses, anos ou até mesmo décadas. Sua possibilidade de evocação (explicada a seguir) ou simplesmente de acesso é muito maior quando comparado as demais modalidades. A formação de uma memória de longa duração leva, em média, entre três e oito horas, e no decorrer do processo diversos fatores podem afetar sua consolidação, desde o uso de substâncias químicas, como a interferência de condições emocionais, que afetam a codificação dessas informações externas.    Iremos estudar melhor a memória de longa duração nos próximos módulos.
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A CODIFICAÇÃO, ARMAZENAMENTO E A RECUPERAÇÃO   De uma maneira bem simplificada, chamamos de memória a capacidade que os seres vivos têm de adquirir, armazenar e evocar informações. Todo ato de lembrar implica que houve sucesso em pelo menos três aspectos: A aquisição (codificação), consolidação (armazenamento) e evocação (recuperação). Esses processos não ocorrem necessariamente de maneira linear no tempo, mas sim simultaneamente . Enquanto armazenamos uma informação podemos estar a evocando, sem que para isso seja necessário o térimo de uma etapa para que outra se inicie.    A aquisição diz respeito ao momento em que a informação chega até nosso sistema nervoso e se dá por meio das estruturas sensoriais, as quais transportam a informação recebida até as regiões encefálicas.  No processo de aquisição esses dados sensoriais podem ser traduzidos em um código. O processamento superficial decorre da codificação de características superficiais do estímulo, enquanto o processamento profundo é focado no significado dos dados sensoriais. Como comentado no tópico anterior, um evento ou objeto de pouca importância aparente, pode passar a ter alto grau de recordação em momento futuro. Ter a consciência do significado das afirmações e o que ela representa (código semântico).  A codificação reporta-se à aprendizagem deliberada, ou seja, a aprendizagem que exige esforço, levando à memorizar a informação. Sua relação com a atenção é direta, de tal forma que podemos pensar que esse processo de aquisição pode ser composto tanto do aspecto perceptivo, como o foco da atenção propriamente dito. Quanto maior a dedicação em compreender às informações, mais profundamente podemos levar a uma codificação duradoura. Após a aquisição da informação, poderá ocorrer o processo de consolidação, que diz respeito ao momento de armazenar a informação. Esse armazenamento - que representa a memória - segundo as teorias vigentes podem se dar de duas maneiras distintas: (a) através de alterações bioquímicas ou (b) através de fenômenos eletrofisiológicos. Ainda que não haja consenso a respeito (muito pelo contrário), nos fenômenos eletrofisiológicos, acredita-se que memorização efêmera decorra da atividade elétrica neural (ou seja, sem efetiva colaboração bioquímica proteica) em um conjunto de neurônios, que em regra se mantem somente pelo tempo enquanto encontra-se em uso, sendo após isso extinta. É isso o que ocorre na memória sensorial e na memória de trabalho (ou memória operacional) como discutido anteriormente. Os fenômenos bioquímicos (traços de memória) podem por sua vez ocorrer por alterações estruturais  (morfológicas) e funcionais de uma rede neural. Como exposto por Mourão Junior e Faria (2015): "As alterações estruturais compreendem a formação de novas espinhas dendríticas (as quais permitem que um determinado neurônio receba mais aferências de outros neurônios) ou então a formação de novos prolongamentos axonais (os quais permitem que um dado neurônio transmita mais sinais para os neurônios com os quais ele se conecta). Podem ocorrer ainda alterações morfológicas que criam novos circuitos que anteriormente não existiam. Finalmente, no caso das alterações funcionais, são formados novos canais iônicos ou novas proteínas sinalizadoras, que otimizam a transmissão sináptica. É interessante observar que, tanto as alterações morfológicas quanto as funcionais, têm como substrato biológico o mesmo fenômeno: a síntese proteica. Assim, a informação (quando repetida várias vezes), de alguma maneira ainda desconhecida, produz fatores que atuam no DNA do neurônio, fazendo com que este comande a síntese de novas proteínas, que podem ser, por exemplo, canais iônicos (produzindo alterações funcionais), ou espinhas dendríticas e prolongamentos axonais (produzindo alterações morfológicas)". Oportuno destacar que a consolidação de maior duração ocorre durante determinadas fases do sono. Eis que aparentemente desconexos, o conteúdo dos sonhos possa ser a evocação de fragmentos de memória, em um processo de descarte e seleção de novos fragmentos para consolidação. Até hoje o sono e os sonhos ainda são um mistério absoluto na neurociência em relação aos seus mecanismos de seleção da memória e aprendizagem. Vale destcar que como o sono, outros fatores como atenção, motivação, nível de estresse e estado emocional são fundamentais para o processo de consolidação de memórias. A evocação (ou recuperação) envolve a organização dos traços de memória em uma sequência coerente no âmbito da memória de trabalho. Dois tipos de recuperação pode ser distinguidos, o reconhecimento e a recordação. Reconhecimento ocorre diante de um estímulo previamente conhecido e armazenado, familiar. Você reconhece facilmente os seus colegas do trabalho, seus familiares, simplesmente ao passar por eles. Na recordação, não encontramos um estímulo previamente conhecido de imediato ou pelo menos de maneira consciente imediata (o qual será evocado). Existe certa voluntariedade em querer recuperar a informação, devendo “puxá-la” da memória. De certa forma, são processos relacionados temporalmente, pois quando reconhecemos algo ou alguém, logo em seguida, começamos a recordar espontaneamente uma série de informações referentes ao objeto ou a pessoa, sua características, nossa percepção sobre, etc.  Quando perguntamos, qual a roupa você usou ontem?  Ou de quem será a palestra nos próximos dias, seriam formas de relembrar (diferente de reconhecer, mas também uma forma de recuperar a informação). Porém, ao ver a roupa ou a foto do palestrante nas redes sociais, você estará reconhecendo. Cada informação, cada engrama, produz modificações nas redes neuronais, que mantendo-se, permitirá uma segunda etapa, que será a sua recuperação. A evocação (ou recuperação) envolve a organização dos traços de memória em uma sequência coerente no tempo (fenômeno chamado de integração temporal) e ocorre principalmente no córtex pré-frontal, através de um processo denominado memória de trabalho, o qual será detalhado mais adiante. Alguns autores apontam que existem dois tipos de recuperação frequentemente distinguidos: o reconhecimento e a recordação. Um ponto importante é que durante o processo de evocação ocorre uma verdadeira edição de fragmentos de memória no âmbito da memória de trabalho, em junção com as funções executivas visando formar um todo cognitivo.  Com isso, nas memórias de longa duração podem ocorrer perdas durante o processo de consolidação, pois toda vez que evocamos uma memória, modificamos essa memória que pode sofrer adições (fictícias) ou subtrações (reais) em seu acesso. Com isso, ao relatar uma vivência, estamos cada vez mais distantes de relatar o que realmente aconteceu. Por isso cada um lembra de um determinado fato à sua maneira. Logo, a evocação está longe de ser uma reprodução como uma tecnologia de digital arquivada (e que mesmo assim pode sofrer mudanças com o tempo). Trata-se, em verdade, mais de um processo criativo do que reprodutivo.
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MEMÓRIA  DECLARATIVA E NÃO DECLARATIVA   Como visto,  a memória pode ser classificada em relação ao tempo de retenção da informação, mas muitos autores ainda trazem o binômio da consciência e inconsciência em relação a divisão da memória de longo prazo:   (a) memória declarativa (também conhecida como memória explícita), que corresponde às memórias que estão prontamente acessíveis à nossa consciência e que podem ser evocadas através de palavras; (b) memória não declarativa (também conhecida como memória implícita), que correspondem às memórias que estão em nível subconsciente, não podendo ser evocadas por palavras, mas sim por ações.     MEMÓRIA DECLARATIVA OU EXPLÍCITA   A memória declarativa também pode ser designada por explícita ou memoria com registo, e implica a consciência do passado sobre acontecimentos, fatos, pessoas ou qualquer tipo de fragmento dos conhecimentos adquiridos no decorrer da vida. Este tipo de memória reúne o conjunto de informações que podem ser evocadas/declararadas por meio de palavras (daí o termo declarativa), podendo apresentar duas categorias: a memória episódica e a memória semântica.   (a) memória episódica, propost por Endel Tulving em 1972, que diz respeito a experiências passadas, como um cenário autobiográfico do indivíduo. São os "episódios" das vidas, como viagens, momentos felizes ou tristes, as amizades importantes etc.  Ou seja, a memória episódica guarda informações relacionadas a um determinado momento no tempo, e com isso é a forma mais profunda de memória. A memória semântica é, portanto, uma memória pessoal na qual que se manifesta uma relação íntima ente quem recorda e o que se recorda. Podemos dizer que essa memória é capaz de conduzir as pessoas a reexperimentar o passado, em uma simbólica "viagem no tempo". Além disso, na recuperação desse consciente de acontecimentos e eventos, somos capazes de fazer projeções para a antecipadação de eventos futuros. Um aspecto interessante da memória declarativa é que o conhecimento por ela armazenado interfere fortemente em nossa maneira de perceber o mundo e em nossas decisões. Passar por uma situação extremamente desagradável em determinado lugar nos leva a perceber de maneira negativa este mesmo lugar. E, provavelmente, quando formos escolher um local para ir, decidiremos visitar algum lugar diferente. Essa característica tem um importante papel adaptativo, pois pode nos livrar de situações de perigo semelhantes a alguma experiência anterior. Quando uma memória é adquirida em situação de estresse, ansiedade ou medo, sua evocação será mais rápida e precisa em situações em que o sujeito apresente-se novamente estressado, ansioso ou amedrontado;   (b) memória semântica, abrange a memória do significado das coisas e fatos do mundo e diz respeito a conhecimentos não relacionados a tempo e espaço específicos, como fórmulas, regras, palavras, do funcionamento de algo, de símbolos etc.). Em resumo, a memória semântica não está associada a nenhum conhecimento, ação ou fato especifico do passado. Por exemplo, o que é o sal de cozinha? Cloreto de Sódio, ou mesmo NaCl. Isso é um conhecimento da memória semântica. Mas se eu associar esse raciocício ao meu professor de química do ensino médio, este dado passa a estar em coopeeração com a memória episódica. Vale destacar que na memória semântica existe o significado de uma palavra que possibilita às pessoas manterem conversas com o mesmo significado, e isso não envolve questões temporais. Já notaram o quanto é complexto conversar sobre política, futebol e religião? Por que? Como mostrado no último módulo, os avanços da neurociência cognitiva tem mostrado que de fato essa subdivisão da memória declarativa tem importantes correspondentes em diferentes áreas cerebrais, podendo ser afetadas de maneira distinta em diversas doenças que acometem o cérebro. Portanto, é possível que uma pessoa possa apresentar comprometimento em recordar eventos em sua vida, mas ainda reconheça perfeitamente o mundo à sua volta.      MEMÓRIA NÃO DECLARATIVA (MND), IMPLÍCITA OU DE PROCEDIMENTOS   Você já notou que ao dirigir, jogar tênis, digitar em um teclado de computador ou mesmo tocar um instrumento de maneira hábil, não paramos para pensar a cada momento que executamos a tarefa? Seria inclusive difícil falar enquanto executa muitas dessas funções. Por exemplo, nesse momento que você está lendo o texto, sem olhar, a letra F fica quem qual posição do teclado? Qual a letra que encontra-se à esquerda da F.  As memórias não declarativas (MND) operam em nível subconsciente e não se tratam de processos intelectivos. No grupo das MND incluímos os condicionamentos, as memórias motoras e o priming. Os condicionamentos nada mais são do que associações que fazemos entre estímulos ou então entre determinados comportamentos com sua consequência (recompensa ou punição), sua importãncia passa a ser de extrema importância, pois encontra-se diretamente relacionado ao próprio aprendizado, naquilo que pode dar ou não prazer. As memórias motoras são memórias relacionadas a procedimentos e habilidades motoras. São difíceis de serem aprendidas, pois necessitam de muita repetição para se tornarem consolidadas. Porém, uma vez consolidadas, se tornam automáticas, inconscientes e extremamente resistentes ao esquecimento A memória não declarativa é uma memória também associadas aos hábitos, como escovar os dentes após alimentação. Como exemplificado por Mourão junior e Faria (2015) "muitas pessoas (aquelas com um tempo considerável de prática) não estão atentas aos seus movimentos enquanto estão ao volante e dirigem perfeitamente. Acontece ainda de a pessoa fazer o mesmo trajeto para o trabalho há tanto tempo, que, não raro, chega ao seu destino sem se lembrar do percurso que tomou. Isso se dá porque realizamos tão repetidamente certas atividades que é como se nosso corpo memorizasse os movimentos e pudesse realizá-los automaticamente, sem que nós tenhamos que estar conscientes dos mesmos".     Além disso, de maneira diferente da memória declarativa, a memórica implícita em uma perspectiva mais profunda, não estão sujeitas as mesmas condições de codificação, podendo afetar o julgamento do indivíduo de maneira mais independente de sua vontade.    Um fenômeno muito interessante relacionado às memórias e que merece ser destacado é o priming (também conhecido como pré-ativação). O priming é um aperfeiçoamento da capacidade de detectar ou identificar palavras ou objetos após uma experiência recente com eles. Na realidade, um tipo de memória induzido por pistas ou dicas. Às vezes estamos tentando lembrar de uma música ou de um poema, e não conseguimos. Porém, se alguém cantarolar para nós, as primeiras oitavas da música ou recitar para nós o início dos primeiros versos do poema, quase instantaneamente nos lembramos de todo o restante, como se fora uma reação em cascata. De fato, parece que, muitas vezes, só nos lembramos de onde está um prédio quando dobramos a esquina anterior à sua localização.    Parece que o priming é mais importante do que imaginamos, pois ele faz com que tenhamos a tendência de evocar informações sobre as quais já recebemos alguma pista em algum momento de nossa vida (Kandel et al., 2013). Ocorre que tais pistas nos chegam, muitas vezes, tão rapidamente que nem tomamos consciência delas, mas elas serão decisivas para nossas decisões futuras. Um exemplo claro disso são as propagandas subliminares, nas quais o cérebro é bombardeado com pistas (e.g. uma determinada marca de refrigerante). Da próxima vez que formos comprar um refrigerante, nossa "escolha" acabará recaindo sobre a marca que nos foi apresentada no passado.   O aprendizado perceptual difere-se por ser mais gradual, no qual a habilidade passa a se desenvolver com maestria e destreza, e após várias tentativas a ocorre alta capacidade de identificação. O emocional..   Para refletir: É bom ou ruim esquecer?
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Introdução aos princípios básicos que regulam o processo de aprendizagem e as áreas do sistema nervoso central associadas

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A Neurociência Cognitiva   Encerrando esse curso introdutório, vamos falar um pouco sobre como a neurociência vem ajudando a compreender melhor esse mundo da memória, da mente e da aprendizagem. Como estudado até aqui, sabemos que não há um lugar específico na qual a memória é armazenada, sendo a memória em verdade diferentes conjuntos cognitivos, tendo cada área do cérebro humano a capacidade de armazenar ou gerenciar predominantemente certas modalidedes  ou em conjunto formar modalidades mais complexa.   O principal objetivo desse ramo, chamado de neurociência cognitiva, é justamente compreender o comportamento de circuitos neurais em relação aos atos mentais decorrentes do pensamento humano.   Um dos primeiros passos nesse sentido foi dado por Wilder Graves Penfield  (1891 - 1976) , sendo considerado um dos maiores neurocirurgiões do século XX, um dos maiores pioneiros no tratamento cirúrgico da epilepsia e da identificação das áreas somatossensoriais cerebrais em humanos.    Penfield utilizada como técnica no tratamento da epilepsia grave a destruição de pequenos grupos de neurônios no qual se acreditava estar localizado os focos dos  ataques epiléticos. Método que passou a ser conhecido por"procedimento de Montreal". Em busca de uma identificação mais precisa das regiões que necessitavam de ablação cirúrgica e com isso, a redução de danos colaterais decorrentes da preservação em áreas cerebrais sadias, Penfield estimulada diferentes partes do cérebro com impulsos elétricos, mantendo os pacientes conscientes apenas sob anestesia local. Tal procedimento permitia observar a relação entre as áreas estimuladas e o efeito fisiológico provocado. Penfield descobriu que, ao estimular o córtex temporal com impulsos elétricos, os pacientes relatavam que podiam relembrar de momentos e emoções vividas, com memórias vislumbrantes, sensações de odores do passado, ou ainda imagens que vinham mesmo da infância.   Desta forma, Penfiled além de conseguir localizar as zonas cerebrais responsáveis pela epilepsia,  permitiu a ele e seus colaboradores, como Herbert Jasper, elaborarem mapas dos córtices sensoriais e motores do cérebro, assim como as suas representações aos diversos membros e órgãos do corpo. Tais mapas continuam a quase na sua forma quase original. Esse mapa do cérebro, hoje retratado como um desenho chamado homúnculo motor ou cortical, tem como características ser um desenho  de acordo com a quantidade de espaço que determinadas atividades ocupam no cérebro humano.     Essas descobertas de Penfield impulsionavam o estudo e melhor entendimento de fatos importantíssimos e curiosos (se não tristes ou mesmo bizarros) sobre o comportamento humano. Talvez um dos mais emblemáticos seja o de Phineas Gage (1823 - 1860). Aos 25 anos decorrente  de uma explosão acidental com pólvora,  Gage teve uma barra de ferro atravessada da base do lado esquerdo da sua face ao topo da cabeça. Apesar de recobrar a consciência e, em pouco tempo, voltou a andar e a falar como antes, algo tido como quase impossível, seu comportamento havia mudado significativamente.   De um operário amigável, solidário, com postura austera e respeitosa, Gage passou a se comportar como um homem caprichoso, arrogante e impaciente, birrento de linguajar baixo. Chegou a tornar-se atração, de circo, mostrando para o público as marcas da ferida assim como o ferro que lhe atravessara a cabeça. Hoje o crânio e o bastão encontram-se na Warren Medical Museum, na Escola de Medicina de Harvard, em Boston, Estados Unidos.   Seu médico, doutor Harlow, solicitou a irmã de Gage que o corpo fosse exumado para que o seu crânio preservado. Através de imagens computadorizadas mostraram que a área afetada pelo bastão foi o córtex pré-frontal. Para maiores detalhes, ver o artigo Mapping Connectivity Damage in the Case of Phineas Gage , que pode ser acessado aqui.    Outros casos passaram a ser fundamentais também para o melhor entendimento da mente humana. Um outro muito conhecido é o do paciente "H.M." - O homem sem novas memórias.   H.M, iniciais de Henry Gustav Molaison (1926 - 2008), norte-americano, a partir dos 10 anos, Henry sofreu de episódios recorrentes de crises epilépticas focais, a princípio após um acidente de bicicleta sofrido por ele aos 7 ou 9 anos. Aos 16 anos, suas crises passaram a ser mais frequentes e se generalizaram, manifestando-se como crises tônico-clônicas. Sendo declarado incapacitado para trabalhar aos 27 anos, o neurocirugião William Scoville se ofereceu para fazer uma resecção encefálica no intuito de reduzir as crises de epilepsia. O foco epiléptico parecia advir bilateralmente dos lobos temporais mediais, passando então pela cirurgia bilateral do lobo temporal medial, incluindo hipocampo, córtex entorrinal, córtex perirrinal, córtex parahipocampal e amigdala.  A extensão extraordinária déficit de memória observado em pacientes como Molaison parece ser devido a lesões conjuntas de hipocampo e áreas corticais adjacentes (córtex perirrinal, giro para-hipocampal.   Contudo, apesar da melhora em relação as crises epilépticas, Molaison desenvolveu uma amnésia anterógrada grave não conseguindo mais consolidar nenhuma memória de fatos novos e um pequeno comprometimento de memórias passadas, a amnésia retrógrada. Tais pacientes tornam-se escravos do passado, sendo capazes de lembrar de tudo o que se passou antes da lesão ocorrer, mas não conseguem mais armazenar nada de novo por um período maior de tempo. O caso de Molaison foi publicado em 1957, com o título de LOSS OF RECENT MEMORY AFTER BILATERAL HIPPOCAMPAL LESIONS (acesse aqui o texto original) publicado pelo William Beecher Scoville e Brenda Milner,  uma das maiores neurocientistas do século. Porém, após a cirurgia Molaison ainda era capaz de reter e evocar memória de procedimentos (tarefas motoras), de raciocinar e utilizar a linguagem fluentemente ou seja, a memória operacional e ainda de evocar memória consolidada antes da cirurgia.   Em 1958 Penfield e Milner descreveram vários casos de cirurgia de ablação unilateral do lobo temporal medial, que incluía a amígdala e boa parte do hipocampo. Destes pacientes, dois desenvolveram um quadro amnésico semelhante ao observado em H.M.. Estudos post-mortem mostraram que o hipocampo do hemisfério cerebral não operado se apresentava necrótico e provavelmente inoperante.   De fato, caso H.M forneceu importante informação para estudos futuros sobre a memória e regiões cerebrais, hoje ficando demonstrando a importância de regiões como o hipocampo (forma de cavalo marinho, grego hippos=cavalo, kampi=monstro) na consolidação da memória de curta duração em memória de longa duração. O hipocampo está envolvido na formação de memórias e na navegação espacial. É uma estrutura complexa e ocupa a porção medial do assoalho do corno temporal, formando um arco ao redor do mesencéfalo. Estudos da neurociência vem mostrando que no lobo temporal medial, o hipocampo é uma região bem delimitada e filogeneticamente antiga no lobo temporal, sendo a região encefálica mais envolvida com as memórias declarativas, juntamente com o neocórtex temporal. Estudos de imagens do cérebro mostraram que quando uma pessoa lembra-se de algo, ocorre um aumento no metabolismo na região hipocampal, e consequentemente no fluxo sanguíneo.   Alguns conceitos foram estabelecidos após esses estudos iniciais. a) A capacidade de adquirir novas memórias (porção medial dos lobos temporais) é função distinta de outras capacidades de percepção e cognição. Ou seja, o encéfalo separa suas funções intelectuais e de percepção da capacidade de armazenamento de dados advindos de novas experiências. b) Os lobos temporais não desempenham função na memória imediata, podendo ser mantido diálogos ou mesmo reter imagens ou números por um pequeno período de tempo. c) O prejuízo na retenção da memória de longo prazo não necessiramente afeta a memória não declarativa, pois mesmo sem se lembrar como aprendeu recentemente algo, um paciente com amnésia anterógrada ainda poderá executar tarefas seguidamente melhores após treinamentos., mesmo que não se recorde de como aprendeu!   As evidências apontam que ao lado da memória armazenada nos lobos temporais, atua também os lobos frontais (em especial o direito) no processo da memória episódica. Essas evidências surgiram do caso de K.C. que após acidente com motocicleta teve lesões que envolveram lobos temporais mediais (causando amnésia retrógrada) e total amnésia de fatos ocorridos em sua vida, em virtude de lesão também nos lobos frontais. De fato, os lobos frontais são lentos no amadurecimento em crianças e são os primeiros a serem afetados pela senectude.   Nesse contexto, seja única ou múltipla em sua origem, a síndrome amnésica é de natureza seletiva, pois, embora os pacientes amnésicos não consigam se lembrar da maioria dos eventos que experienciam no dia-a-dia, muitas funções de aprendizagem e memória estão preservadas, como a capacidade de adquirirem habilidades motoras, cognitivas e perceptuais e a capacidade de se beneficiarem do efeito de pré-exposição.    No lobo temporal há um grupo de estruturas de importância para a memória explícita: o hipocampo, as áreas corticiais próximas e as vias que conectam essas estruturas com outras regiões cerebrais. e fato, a consolidação das informações requer a síntese de novo RNA – ácido ribonucleico responsável – e de novas proteínas no hipocampo, que transformam mudanças temporárias na transmissão em modificações persistentes na arquitetura das sinapses. Com o tempo, os sistemas cerebrais superiores também mudam.   Inicialmente, o hipocampo trabalha em conjunto com regiões de processamento sensorial distribuídas pelo neocórtex (inicalmente temporal, a camada mais externa do cérebro) para formar as novas lembranças. Nessa área, as representações dos elementos que constituem um evento de nossa vida estão distribuídas por várias regiões cerebrais, de acordo com seu conteúdo. Por exemplo, informações visuais são processadas pelo córtex visual primário no lobo occipital, na parte posterior do cérebro, enquanto informações auditivas são registradas pelo córtex auditivo, localizado nos lobos temporais. Quando uma lembrança é formada pela primeira vez, o hipocampo rapidamente combina essas informações distribuídas em uma única memória, agindo como um índice de representações nas regiões de processamento sensorial (como um catálogo provisório de nossa biblioteca). O hipocampo e o córtex subjacente (entorrinal) estão fortemente vinculados com a formação e a evocação da memória, como também registram os níveis de alerta e as emoções, associação entre as diferentes memórias.    À medida que o tempo passa, mudanças celulares e moleculares permitem o fortalecimento de conexões diretas entre as regiões neocorticais, possibilitando o acesso às memórias independentemente do hipocampo. Logo, ainda que danos nessa área ocasionados por lesões ou transtornos neurodegenerativos (como o mal de Alzheimer) prejudiquem a habilidade de formar novas memórias declarativas, o problema não afeta as lembranças de fatos ou eventos já consolidados.   Tanto a percepção de informações como a formação e utilização das memórias a elas relacionadas usam circuitos constituídos por várias estruturas cerebrais intimamente ligadas ao hipocampo, como uma rede neuronal. O hipocampo teria esse papel de organizar (peneirar) a evocação da memória e dos componentes que estão agrupados em diferentes porções corticais encefálicas para reconstituir a totalidade da memória, recordando, relembrando ou fazendo novas aquisições para memória de longo prazo. Em outras palavras, ao lembrarmos de algo, vias neurais são ativadas, e quanto maior a frequência, o cérebro tende a considerar a importância do dado, e converter a informação em uma memória de linga duração.   De fato, como sintetizado pelo Dr. John H. Byrne, o hipocampo está muito envolvido na formação de novas memórias, enquanto as memórias passadas por sua vez, podem ser armazenadas em outras áreas como o corpo neoestriado (memória implícita, como de habilidades e hábitos), o neocortex (primming ou pré-ativação), a amígdala (memória emocional) e o cerebelo (aprendizagem associativa).    Como exemplo desses, o neoestriado, principalmente no núcleo caudado e putâmen, teria um papel importante no estabelecimento do que chamamos de hábito, envolvendo eferências de várias áreas do córtex, incluindo áreas sensoriais, e aferências a estruturas subcorticais que fazem parte do sistema de controle dos movimentos.  As estruturas cerebrais envolvidas na memória implícita dos hábitos certamente abarcam regiões muito mais extensas, além de englobar vários tipos de memória independente da consciência. As habilidades motoras também como exemplo de memória implícita vem sendo associadas a ativação de diferentes áreas do encéfalo durate o aprendizado, como o córtex sensório motor e do neoestriado. Os hábitos se assemelham, e formam componetes de atos como um "desculpe" quase que automático ao esbarrar em uma pessoa ou um obrigado em agradecimento à alguém. Ademais, existem grandes evidências que o cerebelo não somente atue em atividades motoras, mas também possua importante componente de memória responsável pela percepção do fluxo do tempo.   A evocação (ou recuperação) de memórias declarativas envolve a organização dos traços de memória em uma sequência coerente no tempo (fenômeno chamado de integração temporal), ocorrendo principalmente através de pelo menos seis estruturas cerebrais interligadas: o córtex pré-frontal, o hipocampo, os córtices entorrinal, parietal e cingulado anterior e a amígdala basolateral. O córterx entorrinal está situado muito próximo do hipocampo, interliga-se ao córtex cerebral através de um número grande de fibras nervosas, bem como a amígdala cerebral ou núcleo amigdalino, O córtex entorrinal possui conexões de idade e volta com o córtex, a amígdala e o hipocampo. A amígdala cerebral, também fica no sistema límbico, e é um conjunto de células nervosas juntas. Esta situada dentro da região antero-inferior do lobo temporal, próxima ao hipocampo se interconectando com o mesmo. Também está próximo dos núcleos septais, da área pré-frontal e do núcleo dorso-medial do tálamo.É importante lembrar que o material que lembramos nunca é o mesmo que fixamos, pois ele sofre alterações no processo de conservação, pois cada indivíduo acrescenta características pessoais aos elementos armazenados.    Contudo, em termos práticos, temos que compreender que existe o envolvimento de vários sentidos no decorrer da aprendizagem. Por exemplo,  todas as vezes que você estuda ocorre aumento da atividade do hipocampo, e quando pratica algo, outras habilidades como a motora, passa a envolver o corpo estriado, o neocortex e o cerebelo, e as "emoções' relacionadas à essa aprendizagem com o envolvimento da amígdala (sistema límbico).    De fato, a maior parte do que aprendemos e memorizamos baseia-se na capacidade da aquisição e recuperação, e ambas possuem como potencializadores o fenômeno de associações. Imaginemos alguém que você tenha se apaixonado. O cheiro ativa as partes olfativas do córtex, sua imagem ativa as áreas visuais do córtex e detalhes do corpo ativa o seu tato. Quando esses vínculos associativos entre os sentidos se formam, serão mais facilmente hábeis na recordação, conjunta de algumas das características mais marcantes. As associações dessas sensações diferentes fazem com que muitas células nervosas, em áreas diferentes do cérebro sejam ativadas ao mesmo tempo.    Os estímulos sensoriais provindos do meio externo (imagens, sons, cheiros, sabor) são codificados em sinais elétricos e passam por um circuito, do qual a amígdala é um componente, chamado de  sistema límbico.   O sistema límbico guarda íntima relação com então com a memória emocional, permitindo que tais conexões determinem uma forte ligação entre as emoções e os outros diferentes tipos de memórias. A descoberta do sistema límbico se iniciou com Paul Broca, ao se referir a uma região localizada nas proximidades da glândula pineal, como um limbo ou na margem de outras estruturas já conhecidas. No entanto, dando sequência às descobertas de Papez iniciadas em 1939, foi que o fisiologista MacLean em 1949 conceituou o sistema límbico como é conhecido hoje. Conjuntamente com o hipotálamo e a área pré-frontal, o sistema límbico participa na contextualização da memória e nos processos emocionais, sendo por isso a base dos impulsos da motivação, inclusive da motivação para o processo de aprendizagem, bem como as sensações de prazer ou mesmo punição (aversão). Além disso, o sistema límbico compreende uma série de estruturas cerebrais relacionadas também aos comportamentos sexuais e homeostásicos.    De fato, o medo aprendido não é eliminado com lesões no hipocampo, mas com lesões bilaterais da amígdala, o que sugere que essa estrutura possa servir de eixo ou potencialmente armazenar algum tipo de memória, tanto emocionais positivas como negativas.   Como uma espécie de memória, essas emoções também possibilitam planejamentos e reconhecimentos futuros, participando evolutivamente de memórias não declarativas. E com isso, hoje é bem evidente que emoções como a ansiedade, medo ou determinadas afinidades (em conjunto manifestações evolutivas primitivas) podem afetar a memória e por óbvio, o aprendizado.   Com isso crescem as linhas que defendem a necessidade de um aprendizado emocional, verdadeiras mudanças na forma como nos sentimos a respeito daquilo que somos expostos, o qual é em grande parte, produto de intenso trabalho para novas aquisições de memória. Se mudamos a forma como recordamos, aprendemos e damos significado ao mundo à nossa volta, mudamos a nós mesmos. E se essa mudança for para um mundo mais altruísta e melhor de se viver em conjunto, por que não mudarmos a começar pela forma como pensamos?    As regiões cerebrais envolvidas no aprendizado e no armazenamento de habilidades motoras são as regiões do encéfalo relacionadas à motricidade, quais sejam, o cerebelo e os núcleos da base (conhecido também como corpo estriado)
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Referências bibliográficas
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