A Teoria Ator-Rede (TAR) é uma corrente da pesquisa em teoria social que se originou na área de estudos de ciência, tecnologia e sociedade na década de 1980 a partir dos estudos de Michel Callon, Bruno Latour, Madelaine Akrich, entre outros1. A TAR é também utilizada para explicar novos paradigmas da comunicação que passam a existir com a cultura contemporânea.
Ela trata da sociologia das associações, a tradução,
da mobilidade entre seres e coisas e confronta sociedade, ator e rede. Apesar de ser conhecida por sua controversa defesa de uma agência dos elementos não humanos, também é associada a críticas tanto à sociologia convencional
quanto à sociologia crítica. Na teoria ator rede, o ator é definido a partir do papel que desempenha, do quão ativo, repercussivo é, e quanto efeito produz na sua rede, portanto, pode-se dizer que pessoas, animais, coisas, objetos e instituições podem ser um ator2 . Já a rede representa interligações de conexões – nós – onde os atores estão envolvidos. A rede pode seguir para qualquer lado ou direção e estabelecer conexões com atores que mostrem algumas
similaridade ou relação. Ela foi desenvolvida à luz de uma perspectiva construtivista e baseia-se principalmente em dois conceitos – tradução e rede – e dois princípios extraídos do filósofo-sociólogo David Bloor –
o princípio de imparcialidade (não devemos conceder um privilégio àquele que conseguiu a
reputação de ter ganhado e de ter tido razão em face de uma controvérsia científica, e o princípio de simetria (os mesmos tipos de causas explicam as
crenças verdadeiras e as crenças falsas). A TAR enfatiza a ideia de que os atores, humanos e não humanos, estão constantemente ligados a uma rede social de elementos (materiais e imateriais). O termo actante é utilizado como uma forma neutra de se referir a atores tanto humanos como não humanos, já que seus principais autores consideram que a palavra autor tem uma carga simbólica ligada ao "ser pessoas"3 . A teoria explica que, na cultura contemporânea, os atores não humanos (que pode ser um dispositivo inteligente,como computadores, smartphones, sensores, wearables, servidores, entre outros) e o humano agem mutuamente, interferem e influenciam o comportamento um do outro, com a diferença que o não humano pode ser ajustado
pelo humano de acordo com a sua necessidade. Por permitir a conexão entre outros não humanos e ter como característica principal a inteligência, o não humano altera a ordem da vida humana, ditando o ritmo de se pensar e agir. Neste sentido, o não humano pode ser chamado de mediador, à
medida que estabelece a interação humana em todos os níveis sociais entre humanos e media a relação destes com outros não humanos. Para a TAR, a produção de redes e associações surge da relação de mobilidade estabelecida
entre os atores humanos e não humanos que se dá na convergência dos novos meios de sociabilidade que aparecem com a cultura digital, como por exemplo as redes sociais e as comunidades virtuais.
Redes de controvérsias
Nota:
Rede – arquivo que é traçado pelas traduções
nas explicações dos pesquisadores.
Intermediário- aquilo que
transporta significado ou
força sem transformá-lo.
Os intermediários
não são atores ou
actantes.
Mediador- podem ser contados como apenas,
valer por um, por nenhum, por várias ou
infinidade, o que entra neles nunca define
exatamente o que sai. Transformam, traduzem,
distorcem e modificam o significado ou os
elementos que supostamente veiculam. Pág. 65
Os atores na ANT precisam ser mediadores preferencialmente.
TRADUÇÃO
Nota:
Tradução- relação que não transporta
casualidade mais induz mediadores à coexistência.
Dispositivos tecnológicos são intermediários ou mediadores? Podem ser os dois.
ANT
Nota:
TEORIA ATOR REDE. Alusão à formiga, por sugestão do autor, carregando seu pesado equipamento para estabelecer até o mais insignificante dos vínculos. (p. 47).
Sociologia das
associações: tenta
entender essas
controvérsias sobre o
âmbito de elementos
heterogêneos que
podem ser associados.
Nota:
A sociedade é a consequências das associações, não a causa
1ª FONTE DE
INCERTEZAS
não há grupos, mas apenas a formação deles
Nota:
A primeira
delas destrona o reino estabelecido dos grupos e suas totalidades tipológicas
tão bem explicadas, pensadas e utilizadas no campo do social. Latour (2012).
Não existem grupos, existem movimentos de agregação de elementos heterogêneos...
esses movimentos associativos se formando, ali está o que precisa ser
explicado, ou seja, é na performance da associação e nos meios utilizados para
estabilizá-la que se encontram as questões que ajudam a desdobrar o mundo
social. (Gonzales, Baum, 2013)
2ª FONTE DE
INCERTEZAS
a ação é assumida. O ator não é uma peça que já está no tabuleiro e que depois age. Trata-se de um
ente que se constitui apenas na ação
Nota:
O
ator não é uma peça que já está no tabuleiro e que depois age. Trata-se de um
ente que se constitui apenas na ação (Latour sugere nesse livro o termo actante,
mas ele aparece traduzido em outros livros como atuante também).
(SEGATA, 2012)
...
não existe uma força estranha ou uma mão invisível que leva os atores a agirem
de tal forma. É bom que se diga que o
ator aqui não é a fonte da ação, mas, sim o alvo de um conjunto de entidades
que se degladeiam fazendo-o agir, tornando-o ator. Desta forma, a ação na rede
é assumida pelos atores-agentes na rede. Não se sabe, por fim, quem faz o quê,
ou que entidade aciona a outra entidade. A rede só existe com todas estas
entidades se debatendo em controvérsias e ações.
dizem;
muitas vezes, se traduz ou se substitui as várias expressões dos informantes
para o vocabulário especializado das forças sociais no pacto infame em que “o
analista simplesmente repete a descrição do mundo social tal qual é; e os
atores simplesmente ignoram o fato de terem sido mencionados no relato do
analista” (Latour, 2012, p. 90). Com isto,o investigador acaba por decidir
“como os atores devem ser levados à ação, [ao invés de] detectar os diferentes
mundos que os (próprios) atores elaboram uns para os outros” (Latour, 2012, p.
80) (Gonzales,
Baum, 2013).
3ª FONTE DE
INCERTEZAS
os objetos também agem. Não implica em pensá-los como intencionais, mas como dotados de
alguma subjetividade
Nota:
...falamos
de entidades heterogêneas que remontam a humanos e não humanos conectados no
que o senso comum denomina de vínculos sociais.
Não
é um mundo livre das coisas relegadas aos cientistas da natureza. Não, é um
mundo entrelaçado de objetos mediadores na vida deste mundo social em suas
relações de poder e suas assimetrias, tais como documentos, escritos, mapas,
arquivos, computadores, telefones, etc.. (Gonzales, Baum, 2013).
4ª FONTE DE INCETEZAS
estabiliza entendimentos do construtivismo e da promessa de simetria generalizada que marcaram
suas inclinações ao mundo da ciência e da tecnologia. como é que se opera a construção de um fato
Nota:
...
os estudos científicos se arregimentaram em duas frentes. Assumiram a validade
da palavra construção para focalizar as conexões entre humanos e não humanos.
E, por outro lado, descartam o termo construção social por vê-lo substituir a
realidade heterogênea de alguma coisa em construção por uma “matéria” homogênea
do social. E ainda mais, se a construção se equivaleria a uma associação de
entidades, dizer que essa associação é social seria uma redundância sem sentido.
As
questões de fato tornam-se mudas, não conseguem chegar nas conexões e
controvérsias que mobilizam as entidades em associações. No entanto, os
laboratórios a cada dia tornam-se mais cheios de episódios e fatos
interessantes, visíveis, discutíveis, dispendiosos e controversos para todo o
público. Não estariam aí, as questões que realmente falam do acontecer e do
social na ciência? Essas seriam as questões de interesse para uma sociologia de
associações. (Gonzales, Baum, 2013).
5ª FONTE DE
INCERTEZAS
a própria desconfiança de nossos textos
Nota:
Escrever relatos de risco é aqui o que o autor designa como a
precariedade de nossos trabalhos. Seguir os atores – rastrear e descrever
associações, esse é o nosso trabalho – ou seja, tecer a própria rede. A rede
não está lá – não é o que está sendo descrito ela é uma ferramenta, um método. “Ela,
a rede, é um resultado e não um dado – a descrição de uma rede é
uma maneira de dispor os rastros deixados por atores no curso de suas ações”. (Viveiros
de Castro, 2009 apud SEGATA, 2012).
O
que Latour (2012) propõe é “trazer para o primeiro plano o próprio ato de
compor relatos” (p. 180). O próprio texto torna-se um mediador. interessante,
vivo e controverso. Aqui são convocados todas as entidades mobilizadas na rede,
sejam elas humanas ou não humanas. Por isto, o texto funciona como o laboratório
do cientista social, exige perícia e habilidade na escrita para descrever com
objetividade as conexões em seus experimentos-estudos. “O bom texto tece redes
de atores quando permite ao escritor estabelecer uma série de relações
definidas como outras tantas translações” (Latour, 2012, p. 189). (Gonzales, Baum, 2013).
Estabilizar as 5 fontes de incertezas, tarefa da ANT
CONSTRUTIVISMO SOCIAL
Nota:
Pode ser melhor explicado como uma teoria sociológica que aplica o construcionismo
filosófico ao cenário social, onde os grupos de pessoas colaboram com a
sabedoria um dos outros, criando uma pequena cultura onde significados
e sabedorias são abertamente compartilhados. Quando alguém está imerso em alguma cultura deste tipo, está inevitavelmente aprendendo o tempo todo com a experiência e ideias dos outros participantes. A origem desta teoria vem de Lev Vygotsky.
POSITIVISMO
Nota:
Assim como o catolicismo está fundamentado na
filosofia escolástica de São Tomás de Aquino, a Religião da Humanidade está
fundamentada na filosofia positivista de Auguste Comte fundamentada na ciência
clássica.
REFERÊNCIAS
Nota:
PRATES,
Vinícius. Entre formigas e estrelas. Galaxia.
(São Paulo, Online), n.
25, p. 206-210, jun. 2013. Disponível em: .
Acesso em jun. 2016.
GONZALES,
Zuleika Köhler; BAUM, Carlos. Desdobrando a Teoria Ator-Rede: Reagregando o
Social no trabalho de Bruno Latour Deploying the Actor. Polis e Psique, Vol. 3, n. 1, 2013. Pag.
142-157.
LATOUR, Bruno. Reagregando o Social:
uma introdução à Teoria do Ator-Rede. Trad. Gilson César Cardoso de Sousa.
Salvador/Bauru: Edufba/Edusc, 2012, 399p.
SEGATA,
Jean. Resenha sobre o livro Reagregando o Social. ILHA. v. 14, n. 2, p.
238-243, jul./dez. 2012. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/2175-8034.2012v14n1-2p238. Acesso em 05 de jun. de 2016.
VIVEIROS
DE CASTRO, Eduardo. Métaphysiques Cannibales: lignes d’anthropologie
post-structurale. Paris: Presses Universitaires de France, 2009.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo; GOLDMAN,
Marcio. O que Pretendemos é Desenvolver Conexões Parciais [entrevista]. In:
SZTUTMAN, Renato. (Org.). Eduardo Viveiros de Castro. Encontros. Rio de
Janeiro: Azougue, 2008, p. 226-259 e “Slow Motions: comments on a few texts by
Marilyn Strathern”. Cambridge Anthropology, v. 18(3), 2009, p. 23-42.