Experiências de alteridades internas: Como a relação Eu e Outro dos componentes
internos do processo criativo se dá dentro do processo, a partir das relações de
alteridades independentes no abandono de certezas, das impermanências, e aderência
às impermanências, como movimento de retroalimentação do processo criativo, numa
constituição de um Eu-Outro/Eu-Nós no processo (?).
Experiências de alteridades externas: Como a relação Eu e Outro, a partir das relações dos componentes
internos, ou seja, do Eu-Outro/Eu-Nós, se dão com as alteridades alheias ao processo, assumindo, assim
este Outro também como uma alteridade independente, diferente e "estranha" ao Eu (?).
Características: 1 - o caráter de acontecimento teatral; 2 - a relação e o trabalho da/do
atriz/ator com as técnicas teatrais e performativas; 3 - a criação da personagem, ou das
personas, no processo criativo.
1 - O acontecimento teatral: a cena contemporânea reclama o teatro para uma arte que se converte na
experiência, ao invés de enxerga-lo como obra, ou seja, como objeto estático. Foi a aproximação do teatro com a
performance art que possibilitou o teatro a se entender como eventness (acontecimento), a partir de uma
característica de acontecimento mutável e passageiro, e a sua relação com os eventos cotidianos, na tentativa de
romper com a “representação do real” no teatro, assim como a performance e o happening,
2 - A relação e o trabalho da/do atriz/ator com as técnicas teatrais e performativas: a partir da aproximação do teatro com a
performance art, na qual converte o espetáculo em acontecimento, a/o atriz/ator precisa reinventar seu trabalho, a partir desta nova
proposta. Partindo da retroalimentação das experiências com as alteridades, internas e externas, do processo criativo, as propostas
teóricas e práticas são evidenciadas para inserir a/o atriz/ator nesta nova empreitada, numa tentativa
3 - A criação de personagens e personas, no processo criativo: a personagem é o Outro da/do atriz/ator e,
também, o elo de comunicação do acontecimento com o espectador. Partindo deste princípio, a personagem é
posta em evidência, em consonância das características anteriores, para ser pensada sua localização do e no
acontecimento, não como um ser fictício mas, também, como uma persona da/do atriz/ator.
Parte do elemento japonês Ma, como uma diáspora cognitiva e, consequentemnete, de um operador cognitivo, a
partir do pensamento complexo de Edgar Morin, no intuito de criar uma lógica de criação. Não se trata de um
método e/ou sistema, mas de um logos.
A partir do conceito de Maturana e Varela, a autopoiese do processo criativo se encontra na relação dos componentes internos do
processo criativo (atriz/ator, encenadora/encenador, designers de luz e de som, cenógrafa/cenógrafo, etc.) e suas alteridades
independentes, partindo da retroalimentação das experiências com as alteridades internas, ou seja, os componentes do processo
criativo, e externas, os componentes internos com as alteridades alheias ao processo criativo, e sua autorregulação, a partir destas
experiências.
Uma outra lógica pode ser pensada a partir do conceito de Autopoiese, dos biólogos chilenos Francisco
Varela e Humberto Maturana, para definir os seres vivos como sistemas autônomos que produzem
continuamente a si mesmos, retornando, sempre que possível, aos significados do elemento japonês ma
numa tentativa de contribuir com este nova lógica de criação.
CIRCUITO RETROATIVO
AUTOPOIÉTICO
Conceito cunhado pela pesquisadora alemã Érika Fischer-Lichte, na qual se refere as relações de
co-presença de atrizes/atores e espectadores no acontecimento teatral, a partir de algumas
estratégias da encenação: a inversão de papeis, a formação de uma comunidade, as diferentes
modalidades de contato e o liveness. O circuito é pensado no exato momento em que a autopoiese do processo
criativo não se finda com a apresentação, mas se estende ao acontecimento como mais um
movimento de retroalimentação.
Inversão de Papéis: "processo onde a relação sujeito-objeto,
tradicionalmente válida para o teatro, se transforma numa
relação com múltiplas facetas que escapa a uma abordagem
unívoca".
Comunidade: é o resultado possível do circuito retroativo
autopoiético, na pretensão de “um fenômeno em que o
estético se liga diretamente com o político e o social: a
produção de uma comunidade de atores e espectadores se
firma na co-presença física”.
Contato: a co-presença física de atores e espectadores
também implica a possibilidade de contato físico entre
eles, do mesmo modo que representa a condição de
possibilidade para o surgimento de uma comunidade
Liveness: co-presença física de atrizes/atores e
espectadores e exercidos pelo circuito retroativo
autopoiético