Avaliação do desenvolvimento motor
infantil e sua associação com a
vulnerabilidade social
METODOLOGIA ULTILIZADA
o. Os dados foram coletados entre os meses de julho e dezembro de 2017, sendo a amostra constituída pelos
pacientes hospitalizados na unidade de internação pediátrica do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas
(HMIPV), em Porto Alegre (RS). Foram incluídas no estudo crianças entre quatro e 17 meses, clinicamente estáveis,
sem suporte de oxigênio e com alta,breve prevista, cujos pais ou responsáveis assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) após serem esclarecidos sobre o estudo. Foram excluídas da pesquisa
crianças: (1) com doenças neurológicas já diagnosticadas; (2) que participassem de programas de reabilitação física
ou motora; ou (3) que, por algum motivo, não atenderam aos critérios de inclusão.
Procedimentos e instrumentos de avaliação
Questionário de identificação
Para obter informações gerais sobre a criança utilizouse um questionário, elaborado
pelas pesquisadoras, com base na literatura atual, que aborda de forma ampla os
fatores biológicos, sociais e ambientais que podem ser considerados fatores de risco
ao desenvolvimento motor.
Alberta Infant Motor Scale (AIMS)
A AIMS avalia o desenvolvimento motor de recém-nascidos a termo e
pré-termo, a partir de 38 semanas de idade gestacional até 18 meses de idade
corrigida, permitindo quantificar a movimentação espontânea e as
habilidades motoras da criança a partir de 58 itens divididos em quatro
subescalas, definidas pelas posições supina (9 itens), prona (21 itens), sentada
(12 itens) e em pé (16 itens)
Análise estatística
A análise estatística descritiva foi realizada por meio do cálculo de
frequência, porcentagem, média e desviopadrão (DP), conforme a natureza
dos dados. Foi utilizado o teste qui-quadrado para análise das frequências
para variáveis dicotômicas. Realizou-se o cálculo da magnitude de efeito por
meio do teste de Cohen para as variáveis que não apresentaram diferenças
significativas no desempenho motor das crianças avaliadas
RESULTADO
r. Das crianças avaliadas, 66 (60%) não possuíam nenhuma patologia de base e 91 delas (82,7%) estavam internadas por causas respiratórias, sendo
que 70 (63,6%) estavam na segunda internação ou mais e 67 (61%) estavam com vacinas atrasadas. As características sociodemográficas da amostra
estão descritas na Tabela 1. Ainda se notou que 37,2% das crianças não têm a presença paterna em casa, 48,7% convivem com tabagismo no
domicílio e apenas 13,9% frequentam creche. Quanto à família, 29% das mães não atingiram o número mínimo de seis consultas de pré-natal
recomendadas pelo Ministério da Saúde14 e também 29% delas fumaram durante a gestação. A maioria dos responsáveis não concluiu o ensino
fundamental (38,7% das mães e 28,1% dos pais), 61,1% têm renda de até dois salários mínimos, 51,9% recebem algum benefício socioeconômico e
41,7% das famílias relatam conviver com violência
Das crianças com atraso, 41,4% (n=29) não vivem com a presença paterna e 87% (n=60) não frequentam a creche.
Sobre as mães, 25,7% (n=18) têm 20 anos ou menos, 33,8% (n=23) fumaram na gestação e 54,3% (n=38) não têm o
ensino fundamental completo.
DISCUSSÃO
QUESTÕES SOCIOECONÔMICAS
Vários estudos24-27 demonstraram que a renda foi considerada um fator de risco significante quando relacionada ao
desenvolvimento infantil. Crestani et al.24 avaliaram 182 díades mãe-bebê, entre zero e 18 meses, e concluíram que nas
famílias em que a renda per capita era menor que 200 reais, a chance de a criança ter o desenvolvimento comprometido foi
seis vezes maior em relação às crianças do grupo com renda superior a 200 reais per capita
Ainda foi possível observar neste trabalho que, embora sem associação estatisticamente significativa, a maioria
das mães (54,3%) não possuía ensino fundamental completo e 25,7% tinham 20 anos ou menos
Desse modo, compreende-se que a renda da família tem estreita relação com o desenvolvimento da criança,
já que uma boa condição econômica pode oferecer melhor espaço físico, brinquedos, experiências de lazer,
entre outros, além de melhores condições gerais para a família. Ou seja, a renda é diretamente responsável
pela qualidade de vida dessas crianças
vacinas
o desenvolvimento neuropsicomotor de 220 crianças de oito a 12 meses de
idade e observaram que aquelas com esquema vacinal incompleto correm
duas vezes mais risco de ter desenvolvimento suspeito do que as crianças
com a vacinação em dia, embora essa associação tenha apresentado
apenas uma tendência à significância
Os principais motivos citados pelos responsáveis para o atraso foram a falta de vacinas
nos postos; adoecimento da criança no dia da vacina; falta de tempo dos cuidadores;
distância da unidade de saúde; descuido ou esquecimento por parte do cuidador;
dificuldade de entendimento entre os responsáveis e os profissionais; e a
impossibilidade de comparecer ao serviço de saúde, em razão do horário de trabalho ou
da saúde dos cuidadores
COMO O CIGARRO AFETA
Sá et al.17 realizaram um na Grã-Bretanha e na Groenlândia21, avaliando crianças mais velhas,
entre oito e nove anos, concluiu que os filhos de fumantes apresentaram maiores dificuldades
motoras em comparação com as crianças de pais não fumantes, nos sugerindo que os efeitos
da exposição ao tabagismo não se restringem à primeira infância, mas podem persistir nos
anos subsequentes.
a frequente exposição ao tabagismo pode explicar outras situações, como o alto número de
internações por causas respiratórias encontrado em nossa amostra, na qual 82,7% das crianças
estavam internadas por esse motivo. Além dos prejuízos diretos e bem notórios causados pela
exposição frequente à fumaça do cigarro, ela também está relacionada a hospitalizações frequentes,
como observadas na nossa amostra, em que 63,6% da população estudada encontrava-se na segunda
internação ou mais.
observação
notou-se que houve certa omissão de dados nas respostas dos
responsáveis, especialmente quanto aos questionamentos sobre o uso de
drogas ilícitas e outras substâncias psicoativas, mesmo tendo sido
esclarecidos sobre o objetivo das questões e sobre o sigilo dos dados
colhidos, o que pode ter influenciado de alguma maneira nossos
resultados.
FORAM AVALIADAS 110 CRIANÇAS
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICA QUE AFETAM NEGATIVAMENTE
estão dando lugar a um perfil com novas situações de morbidades, como exposição à violência, pais usuários de drogas, aumento da
obesidade e sedentarismo, além de importantes iniquidades em saúde decorrentes das desigualdades econômicas, raciais e étnicas6 .
Deste modo crianças que vivem em países de baixa e média renda estão, desde a primeira infância, mais vulneráveis às desigualdades e
agravos que oferecem risco ao desenvolvimento. Esses déficits de desenvolvimento acumulados na primeira infância têm implicações
negativas no funcionamento cognitivo e psicológico do adulto, bem como na sua escolaridade e renda futuras