Anibal Quijano - Colonialidade do poder, Eurocentrismo e America Latina.
Descrição
AUTORIA: Lorrane Louise da Penha Monteiro - lorrane.monteiro@uepa.br
REFERENCIAS:
QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. 2000.
ZEVALLOS, ENRIQUE AMAYO. (2018). Anibal Quijano (1930-2018), Instituto de Estudos Avançados e o contexto peruano. Estudos Avançados, 32(94), 411-427. https://doi.org/10.1590/s0103-40142018.3294.0026
Anibal Quijano - Colonialidade do
poder, Eurocentrismo e America Latina.
Sobre Anibal Quijano
Nasceu em 17 de novembro de 1930, em Yanama, Peru.
Faleceu em 31 de maio de 2018, em Lima, Peru
Fundador do primeiro Programa de Sociologia do Peru, em 1962, na
Universidade Nacional Agraria de La Molina (UNALM).
Desde suas origens, o Departamento de Sociologia e a FECS posicionaram-se de maneira crítica, com
respeito à ordem estabelecida no Peru, exercendo influência na formação da opinião pública nacional.
Em 1964, Quijano foi expulso da FECS por conta de posicionamentos críticos que
criaram ressentimentos em setores hegemônicos da UNALM.
Contribuição para as Relações
Internacionais.
O que ele pesquisava/teorizava?
Quijano possuia interesse em questões culturais e raciais que culminaram na violenta desigualdade
econômico-social. Em sua obras torna evidente que, no âmbito social interno americano e mundial,
tais questões apareceram como consequência da conquista e destruição da América Indígena pela
Europa, no período de origem do capitalismo moderno. Essa premissa é fundamental para a
construção de seu conceito de Colonialidade, como a outra face - desconhecida e obscura - da
Modernidade. Trata-se de conceito de longa duração, pois continua marcando a história das
sociedades atuais.
Principais
obras.
Colonialidad y modernidad (1992)
La modernidad, el capital y América Latina nacen en el mismo dia (1995)
Colonialidad del poder y clasificación social (2000)
Modernidad, identidad y utopia (1988).
Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina (2000)
¿Bien vivir?.9Entre el “desarrollo” y la Des/ Colonialidad del poder (2010)
Um dos membros fundadores do grupo
Modernidade/Colonialidade
Em 1964, tornou-se professor dada Universidad Nacional Mayor de San Marcos.
Pouco depois, foi nomeado para uma posição na Divisão de Assuntos Sociais da Comissão
Econômica para América Latina (Cepal), no Chile
Fundou a revista acadêmica: Sociedad y Política. Revista de Análisis y Debate Político (1972-1983) que
impactou os meios políticos e de pesquisa econômico-social peruana.
Sobre a obra.
I. A América e o novo padrão de poder mundial.
Raça, uma categoria mental da modernidade.
A formação de relações sociais fundadas nessa idéia, produziu na América identidades sociais historicamente novas:
índios, negros e mestiços, e redefiniu outras.
Tais identidades foram associadas às hierarquias, lugares e papéis sociais correspondentes, com constitutivas
delas, e, conseqüentemente, ao padrão de dominação que se impunha
Termos como espanhol e português - mais tarde europeu - que até então indicavam apenas procedência geográfica ou
país de origem, adquiriram também, uma conotação racial - Branco.
Na América, a idéia de raça foi uma maneira de dar legitimidade às relações de dominação impostas pela conquista. A expansão do
colonialismo europeu ao resto do mundo conduziram à elaboração da perspectiva eurocêntrica do conhecimento e com ela à
elaboração teórica da idéia de raça como naturalização dessas relações coloniais de dominação entre europeus e não-europeus.
Colonialidade do poder e capitalismo mundial
Raça e divisão do trabalho, foram estruturalmente associados e se reforçam
mutuamente muito embora não sejam conceitos dependentes entre si.
Assim, cada forma de controle do trabalho esteve articulada com uma raça particular
Brancos - Assalariados
Negros - Escravização
Indios - Servidão
Novo padrão de poder mundial e nova inter-subjetividade mundial.
Já em sua condição de centro do capitalismo mundial, a Europa não somente tinha o controle do mercado
mundial, mas pôde impor seu domínio colonial sobre todas as regiões e populações do planeta,
incorporando-as ao “sistema-mundo” e a seu padrão específico de poder.
Re-identificação hitórica/ Novas identidades geoculturais.
América
Europa
Ásia
Africa
Oceania
A categoria Oriente foi elaborada como a única com dignidade suficiente
para ser o Outro, ainda que por definição inferior, de Ocidente
A Europa concentrou sob sua hegemonia o controle de todas as formas de controle da
subjetividade, da cultura, e em especial da produção do conhecimento.
Expropriaram das populações colonizadas – entre seus descobrimentos culturais –
aqueles que resultavam mais aptos para o desenvolvimento do capitalismo em
benefício do centro europeu.
Reprimiram - em variáveis medidas de acordo com os casos - as formas de
produção de conhecimento dos colonizados, seus padrões de produção de sentidos, seu universo
simbólico, seus padrões de expressão e de objetivação da subjetividade.
A questão da modernidade.
O notável disso não é que os europeus se imaginaram e pensaram a si mesmos e ao restante da
espécie desse modo mas o fato de que foram capazes de difundir e de estabelecer essa perspectiva
histórica como hegemônica dentro do novo universo intersubjetivo do padrão mundial do poder.
Um novo conceito de modernidade que leva em consideração a intersubjetidade.
1 - O atual padrão de poder mundial é o primeiro efetivamente
global da história conhecida.
É o primeiro em que cada um dos âmbitos da existência social estão articuladas todas as formas
historicamente conhecidas de controle das relações sociais
2 - É o primeiro em que cada uma dessas estruturas de cada âmbito de
existência social, está sob a hegemonia de uma instituição produzida dentro
do processo de formação e desenvolvimento deste mesmo padrão de poder
No controle do trabalho, está a empresa capitalista.
No controle da autoridade, o Estado-Nação
No controle do sexo, a familía burguesa.
No controle da intersubjetividade, o eurocentrismo
II. Colonialidade do poder e eurocentrismo
Perpectiva de conhecimento.
Colonial/Moderno
Capitalista
Eurocentrismo, consolidou-se por volta do séc.
XVII
Eurocentrado
História unilinear e
unidirecional.
Evolucionismo/Dualismo
Europeu e não Europeu
Redução dos povos por uma Identidade racial colonial negativa.
Indigenas
Incas
Maias
Astecas
Chimús
Aimarás
Negros
Zulus
Iorubás
Achantes
Congos
Bacongos
A história do poder colonial teve duas implicações.
Esses povos foram despojados de suas próprias identidades históricas
A nova identidade racial, colonial e negativa, implicava o despojo de seu lugar na história da produção
cultural da humanidade. Daí em diante não seriam nada mais que raças inferiores, capazes somente de
produzir culturas inferiores.
Raça como critério básico de classificação social
universal da população do mundo.
Mito da moderdidade
Idéia do estado de natureza como ponto de partida do curso civilizatório cuja culminação é a civilização
européia ou ocidental e ao mesmo tempo atribuíam ao restante da espécie o pertencimento a uma
categoria, por natureza, inferior e por isso anterior.
Corpo/ Não Corpo
Objetificação do "corpo" como "natureza".
Na perspectiva eurocêntrica, certas raças são condenadas como “inferiores” por não serem sujeitos
“racionais”. São objetos de estudo, “corpo” em conseqüência, mais próximos da “natureza”. De acordo
com o mito do estado de natureza, algumas raças como os negros (ou africanos), índios, oliváceos,
amarelos (ou asiáticos), estão mais próximas da “natureza” que os brancos.
Afetou também as relações sexuais de dominação, a partir dessa
ideia, o lugar das mulheres das ditas "raças inferiores" ficou
estereotipada junto aos outros corpos.
Etnocentrismo.
Capital/Capitalismo
Todas as formas de trabalho conhecidas serviram ao capitalismo.
Do ponto de vista eurocêntrico, reciprocidade, escravidão, servidão e produção mercantil independente são todas
percebidas como uma seqüência histórica prévia à mercantilização da força de trabalho. São portanto,
incompátiveis com o capital.
Contudo, na América essas formas de trabalho não emergiram numa seqüência histórica unilinear; nenhuma delas foi
uma mera extensão de antigas formas pré-capitalistas, nem foram tampouco incompatíveis com o capital.
O capital existiu muito tempo antes da América. Porém, o capitalismo apenas tornou-se esse sistema de
relações de produção, isto é, a heterogênea engrenagem de todas as formas de controle do trabalho e de
seus produtos sob o domínio do capital, após a emergência da América.
III. Eurocentrismo e experiência histórica na América Latina
Perpectiva Eurocêntrica = Espelho que distorce tudo que reflete de forma parcial e distorcida.
A tragédia aqui é que todos fomos conduzidos, sabendo ou não, querendo ou não, a ver e aceitar aquela
imagem como nossa e como pertencente unicamente a nós. Dessa maneira seguimos sendo o que
não somos. E como resultado não podemos nunca identificar nossos verdadeiros problemas, muito
menos resolvê-los, a não ser de uma maneira parcial e distorcida.
Eurocentrismo e a questão nacional.
Estado-Nação como processo de colonização.
Duplo movimento histórico.
Começou como uma colonização interna de povos com identidades diferentes, mas que habitavam os mesmos territórios
transformados em espaços de dominação interna, ou seja, nos próprios territórios dos futuros Estados-nação.
Paralelamente à colonização imperial ou externa de povos tinham identidades diferentes das dos colonizadores, mas
que habitavam territórios diferentes dos futuros Estados-nação dos colonizadores.
Um Estado-Nação forte não é suficiente para homogeneizar a identidade nacional.
Caso bem sucedido:
França
Através da democratização radical das relações sociais e políticas com a Revolução Francesa, o prévio colonialismo interno
evoluiu para uma “afrancesamento” efetivo, ainda que não total, dos povos que habitavam o território da França,
originalmente tão diversos e histórico-estruturalmente heterogêneos quanto a Espanha.
Caso mal sucedido: Espanha.
Após expulsão de Mulçumanos e Judeus deixou de ser produtiva e próspera para transformar-se em correia
de transmissão dos recursos da América aos centros emergentes do capital financeiro mercantil.
Admitir ou negociar alguma democratização da sociedade e do Estado foram derrotadas,
em especial a revolução liberal de 1810-12. Deste modo, o colonialismo interno e os padrões
senhoriais de poder político e social, combinados, demonstraram ser fatais para a
nacionalização da sociedade e do Estado espanhóis,
Certificado de limpeza de
sangue
A Monarquia hispanica dedicou-se a uma política bélica em busca da expansão de seu poder
senhorial na Europa, ao invés de uma hegemonia sobre o mercado mundial e o capital comercial e financeiro
como fizeram mais tarde a Inglaterra ou a França.
Toda sociedade é uma estrutura de poder. É o poder aquilo que articula formas de
existência social dispersas e diversas numa totalidade única, uma sociedade.
Deveria possuir instituições modernas de cidadania e
democracia política mas não é caso da América.
O Estado-Nação na América: Estados Unidos.
Melting pot
Imigrantes Europeus.
Imigrantes da America Látina ou Ásia.
Democratização/ Participação política.
Exclusão de indios e negros desse processo.
Estado Independente e sociedade colônial.
Homogeneização baseada no extermínio.
A minoria branca no controle dos Estados independentes e das sociedades
coloniais não poderiam ter tido nenhum interesse social
comum com os índios, negros e mestiços. Nesse caso, nenhum interesse
nacional comum.
Interesses antagônicos: dado que seus privilégios compunham-se
precisamente do domínio/exploração dessas gentes
+ alinhados com interesses europeus.
Dependência histórico-estrutural
O processo de independência dos Estados na América Latina sem a descolonização da sociedade,
não foi um processo em direção ao desenvolvimento dos Estados-nação modernos, mas uma
rearticulação da colonialidade do poder sobre novas bases institucionais
4 trajetórias históricas e linhas ideológicas acerca do
problema do Estado-nação na América.
1. Um limitado mas real processo de descolonização/democratização
através de revoluções radicais no México e na Bolívia que começou a ser
derrotado na década de 60 e entrou em crise em 70.
2. Um limitado mas real processo de homogeneização colonial (racial),
como no Cone Sul (Chile, Uruguai, Argentina), por meio de genocídio
massivo da população aborígene.
4. A imposição de uma ideologia de “democracia racial” que mascara a
verdadeira discriminação e a dominação colonial dos negros, como no
Brasil, na Colômbia e na Venezuela.
3. Uma sempre frustrada tentativa de homogeneização cultural através do
genocídio cultural dos índios, negros e mestiços, como no México, Peru,
Equador, Guatemala-América Central e Bolívia.