Boubacar Barry Senegâmbia: O Desafío da História Regional 1. Reflexão sobre os discursos históricos das tradições orais em Senegâmbia

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This lecture was presented by Boubacar Barry (Universidade Cheikh Anta Diop – Dacar, Senegal) during a lecture tour in Brazil in 2000 organized by SEPHIS and CEAA
Alexandre Leite Turella
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Alexandre Leite Turella
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Boubacar Barry Senegâmbia: O Desafío da História Regional 1. Reflexão sobre os discursos históricos das tradições orais em Senegâmbia

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  • This lecture was presented by Boubacar Barry (Universidade Cheikh Anta Diop – Dacar, Senegal) during a lecture tour in Brazil in 2000 organized by SEPHIS and CEAA
  1. 1. A gênese das tradições orais na senegâmbia p.6
    1. METODOLOGIA GRIO: Todo dia começamos a récita desde o início até o ponto em que paramos na véspera, e isso durante sete anos. Uma mesma fala que vocês aprendam durante sete anos não pode escapar de vocês. Nós tivemos sucessivamente durante os sete anos três mestres, mas cada um deles nos fez reaprender do começo até o fim. Esses mestres foram Tamba Waranka durante três anos, Dawda durante dois anos. Todos dois são Sissoxo. Meu pai Talibi durante dois anos. No todo, dá sete anos.”2 Esse duro e longo aprendizado testemunha a importância do griô como detentor apropriado das tradições orais.
      1. HISTORIOGRAFIA Xx HISTORIOFONIA: Os griôs, enquanto detentores da tradição oral, conservaram e transmitiram de geração em geração a grande gesta de Mali e em particular a epopéia de Sundjata, glória de Mali, publicada na forma de diversas versões por Niane Djibril Tamsir e recentemente por Yussof Tata Cissé e Wa Kamissoko. Cadeia de conhecimento que se pode qualificar de iniciático, o mito fundador do império de Mali é conservado intacto, apesar das vicissitudes desse império.
        1. SEGREDOS:: Wa Kamissa também sabia contar desse país, seus rios e colinas, seus deuses, suas instituições, seus mitos, suas lendas, sua história, seu penar, suas esperanças. Compreender por dentro porque a sociedade mandinga Wa era excelente em diversos domínios do saber tradicional, inclusive no da mitologia, da cosmogonia e dos signos gráficos, se diz, está reservado para os iniciados das grandes djo, sociedades de iniciação mandingas, em particular, os do komo. Mas esse saber tem um caráter sagrado e, em conseqüência, sua transmissão tem sempre um lado secreto, que o contador está encarregado de guardar. Há sempre uma maneira de dizer as coisas. Cada palavra tem um outro sentido, uma outra significação.
          1. Suas narrativas míticas ensinam sobre a origem das coisas. Essas narrativas trazem dados preciosos sobre as civilizações mandinga, ao mesmo tempo em que revelam os laços indiscutíveis entre estas e as civilizações do antigo Egito.
            1. Mas o homem que detém tanto saber está consciente de seus limites quando diz: “não é todo dia que o homem domina seu ser íntimo e sua ciência. Quando estou feliz e quando sinto que aqueles que me ouvem estão atentos, portanto interessados, volto a ser eu mesmo: então encho todo recipiente em que possam me colocar.”5
    2. 2. A fixação das tradições orais p.13
      1. PAPEL DOS MUÇULMANOS: A passagem da oralidade à escrita se fez bem cedo pelo menos na escrita da história em árabe ou em pular, em wolof ou mandinga, pelos letrados muçulmanos. O
        1. ESCRITA ÁRABE: A tradição dos tarikh nasceu e vai se desenvolver nas teocracias muçulmanas de Fuuta Toro e Bundu, e de Fuuta Djallon, para dar aos letrados muçulmanos a possibilidade de consignar por escrito, seja em árabe, seja em pular, utilizando os caracteres árabes, os principais acontecimentos de que foram testemunhas. São, portanto, testemunhos diretos, ao mesmo tempo em que interpretação dos fatos históricos, isto é, uma certa forma de escrever a história.
      2. 3. Discurso histórico e nacionalismo p.20
        1. AMBIGUIDADE: Esse nacionalismo se baseia numa ambigüidade importante pois a busca da igualdade de direitos em relação aos franceses está em contradição com o fato colonial, que nega, a priori, a identidade dos indígenas. Os nacionalistas vão apelar sucessivamente para a memória colonial bem como para o registro das tradições históricas orais para reivindicar seu lugar ao sol. Diversos discursos históricos vão ser desenvolvidos em função das necessidades da causa para balizar as lutas incertas desse nacionalismo nascente e ambíguo.16
          1. DUAS MEMÓRIAS: Assiste-se, assim, ao aparecimento dos dois tipos de memória, a dos griôs, que se põe a serviço da chefia tradicional, correia de transmissão da administração colonial, e a de confraria, das comunidades muçulmanas, que se estruturam e articulam à lógica econômica colonial do amendoim.
            1. NARRATIVA ORAL E POESIA: A palavra do griô ou a narrativa das tradições orais são vistas sob o ângulo de seus ritmos poéticos, daí a importância atribuída por Senghor à poesia, à literatura, ao teatro e à arte. Quando se apela para a história, é para escolher Lat-Joor como herói nacional que encarna as tradições e valores aristocráticos de dignidade e sacrifício como fundamento da ideologia nacional do Senegal independente e do partido único. Para a Negritude, as tradições orais são episódios que devem servir para reforçar o sentimento de unidade nacional. Consideradas antes de tudo como crônicas e lendas, sua escrita e valor literário predominam sobre o conteúdo, na verdade, sobre a história da África, que é colocada entre parênteses por Senghor durante todo o seu regime.
              1. REDESCOBERTA ORALIDADE: De fato, a redescoberta das tradições orais virá principalmente da segunda geração de historiadores profissionais, que vão se interessar pela história pré-colonial da África Ocidental, e cujo estudo da evolução das sociedades em todos os domínios suscitou muitos interesses nos anos 1960.
        2. 4. Discurso histórico e ideologia nacional p. 27
          1. NACIONALISMO X NACIONAL: A ideologia nacionalista que teve como referência o passado glorioso da África é gradualmente substituída pela ideologia nacional da unanimidade do partido único, e até do partido-Estado. Essa expressão unânime da história no contexto estreito das fronteiras herdadas da colonização está em contradição com a realidade histórica das populações intransigentes na defesa das diversas novas fronteiras dos Estados independentes.
            1. Conforme o país, a ideologia nacional cede lugar a um discurso histórico específico, que deriva das diferentes tradições orais e de uma história difundida pelas obras de novos historiadores profissionais formados na Universidade. Ao mesmo tempo em que se proclama a unanimidade nacional, se exalta com mais ou menos vigor a resistência do herói nacional escolhido no momento da independência para servir de exemplo às novas gerações.
              1. As tradições orais estão em alta e as rádios transmitem em profusão as narrativas dos griôs, cujo papel de detentores da memória coletiva é reabilitado. Mas esse recurso à história é desigual. Certos reinos são privilegiados pelo papel que desempenharam antes da colonização e sobretudo pelo local preponderante que ocupam no Estado pós-colonial
                1. O PESO DAS CONFRARIAS: O peso político considerável das confrarias que controlam o mundo camponês explica essa oscilação e o florescimento das tradições orais que celebram os pais fundadores, Ahmadou Bamba no caso dos Mourides e Malick Sy, no dos Tidjanes.
                  1. SIMBIOSE ENTRE ORALIDADE E ESCRITA HISTYÓRICA: Há sem dúvida alguma um entusiasmo pela história e uma espécie de simbiose entre o discurso histórico dos trabalhos de historiadores profissionais e os discursos das tradições orais que privilegiam todos os dois os grandes homens, os grandes momentos da história africana, na verdade, a história política.
                    1. ERRO DOS HISTORIIADORES: Com mais ou menos intensidade, os novos Estados do Senegal, Mali ou Guiné vão desenvolver essa história nacional para marcar a ruptura com o passado colonial e criar novos modelos apoiados no manancial inesgotável dos valores africanos veiculados nas tradições orais. Acontece que o principal erro cometido pelos Historiadores do nacionalismo, bem como da ideologia nacional, foi considerar as tradições orais como o equivalente ou o complemento dos documentos escritos. Enquanto fontes, essas tradições deviam passar somente por um tratamento crítico, do mesmo modo que os documentos escritos, que acertadamente completam, para o conhecimento do passado africano.
          2. 5. Conclusão p. 33
            1. TRADIÇÕES ORAIS SÃO DISCURSOS HISTÓRICOS: É evidente que as tradições orais, além do testemunho e informações que podem conter, antes de tudo constituem discursos históricos. Esse aspecto foi desprezado pelos primeiros usuários, que privilegiaram seu aspecto de documento oral em oposição ou como complemento ao documento escrito.
              1. INTERESSE TARDIO PELAS TRADIÇÕES ORAIS COMO HISTORIA: Sem dúvida, as tradições dinásticas, mais numerosas, privilegiaram a história política e é somente agora que os historiadores se interessam pelas tradições aldeãs e familiares, que permitem explorar a vida cotidiana das populações, tanto quanto os conflitos sociais, as evoluções demográficas e climáticas.
                1. TRÊS SABERES: O problema maior, no presente, está em que vivemos numa sociedade com diversas velocidades, onde três categorias de elite compartilham o campo histórico. São historiadores de elite formados na escola francesa que moldou o Estado moderno, historiadores da elite pró-árabe formada nos países árabes no contexto do modelo muçulmano e, por fim, os das elites tradicionais que conservam seu saber com ciúme.
                  1. CRISE DOS SABERES: A junção desses três saberes ainda não se deu, é isto o que em parte explica a crise do Estado pós-colonial, que quer impor uma identidade histórica comum num contexto de sociedades plurais, que vivem sua história a longo prazo. Essa crise se acentua em particular pelo fato de que a elite política que governa vive fora de sua história e privilegia o modelo colonial.
            2. Introdução:
              1. Em seu último romance, Cheikh Hamidou Kane assim definiu o papel do griô, guardião das tradições orais nas sociedades senegambianas: “o silêncio é sua prova. Assim, a dupla função do griô era romper o silêncio do esquecimento e exaltar a glória da tradição. Essa história construída em cima do aprendizado da tradição oral transmitida de geração em geração foi nos últimos anos aprofundada pelos historiadores modernos que aprenderam nas universidades a escrever a história com base no confronto dos documentos escritos com os documentos orais.
                1. SENEGAMBIA: Região entre os rios Senegal e Gâmbia, - Senegal, Gmabia, Guiné Bissau, Conacry, Meuritânia e Costa do Marfim
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